Exclusivo: Prost acredita que a F1 perdeu um pouco de sua essência
O francês conversou com o Motorsport.com e disse que seria uma boa para a Fórmula 1 a entrada de uma nova marca de pneus, além de admitir que a Renault ainda considera se retirar da categoria
Ouvir o "professor" nunca é demais. Nesse bate-papo, Alain Prost fala sobre o acordo da Renault com a Red Bull, a questão dos pneus, com a possível entrada da Michelin na categoria e até mesmo sobre o desempenho de Nico Hulkenberg nas 24 Horas de Le Mans. Confira:
Motorsport: Como a Renault poderia evoluir nas férias de verão? Você está feliz com a forma em que as coisas se apresentam atualmente na F1?
Alain Prost: Acredito que não seja nenhum segredo que ser um fabricante de motor não é fácil para a Renault. Vejamos como as coisas evoluíram: de quatro títulos mundiais consecutivos a um ano e meio bem complicado. Tudo mudou de repente. É muito difícil conseguir tirar benefícios comerciais desses títulos consecutivos quando se há uma marca tão forte como a Red Bull. No final, temos muitos aspectos negativos e poucos positivos. É normal que reconsiderem seu posicionamento na F1, assim como a evolução dos mercados, a própria marca e toda a estratégia global.
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MS: A Renault poderia ter sua própria equipe após 2016, quando termina o acordo com a Red Bull?
AP: Hoje em dia, tudo segue sendo possível. É claro, estamos observando todas as soluções possíveis. Mesmo pensando em dez soluções, temos efetivamente duas ou três mais factíveis. Uma delas é realmente deixar a categoria. Nada é impossível. Um grande construtor pode decidir em agir de uma forma diferente. Não acredito que isso esteja nos genes da Renault. Há uma história, uma tradição na F1 ainda. A história é algo muito importante na Renault e ela sempre foi uma empresa inovadora. Esta é a avaliação da situação, agora eles têm que decidir o que é o melhor para decidir seu destino nas próximas semanas.
MS: Quais seriam as consequências da saída da Renault? A categoria ficaria com apenas três fabricantes de motores...
AP: Se um fabricante como a Renault deixa a categoria, isso seria muito mais do que um problema, com certeza. Isso é verdade.
MS: A Renault tem a mesma abordagem de marketing na Fórmula 1 e na fórmula E, no sentido de que a tecnologia pode promover os carros de rua e ajudar nos benefícios do dia-a-dia?
AP: Na Fórmula 1 está sendo um pouco frustrante. Temos um motor cuja tecnologia é extremamente avançada, mas as pessoas não estão convencidas. Talvez as pessoas esperam algo muito diferente na F1. No final das contas, eles não se preocupam com o chassi ou sobre o ritmo na corrida. Elas querem batalhas na pista, querem que seja um verdadeiro campeonato de pilotos, mas, ao mesmo tempo, estamos falando de algo que acompanhamos sua evolução. Durante esses quase dois anos de motores novos, vimos que eles consomem de 30 a 40% menos de combustível, e você observa que os fãs pouco se importam com isso. Também temos que compreender a abordagem da categoria e a sua base de fãs. Os verdadeiros fãs têm de 40 a 60 anos. A Fórmula E aponta para uma outra direção, logo, você não pode ter o mesmo posicionamento de marketing, isso é óbvio.
MS: O que você pensa sobre a questão dos pneus da F1 e a entrada da Michelin? Você acha que dar tanta atenção aos pneus seria uma boa, depois de tanta energia e recursos gastos com os motores?
AP: São duas coisas diferentes. Obviamente eu prefiro uma competição de fabricantes de pneus, temos a questão dos custos, mas isso está no DNA da Fórmula 1. Há competição entre fabricantes de pneus, construtores, montadoras, esse é o ideal. Mas temos perdido muito nos últimos anos. Se há somente um fabricante, não há problemas em termos pneus de 18 polegadas, todos vão se adaptar. Esse é o primeiro ponto. A outra questão é que não acredito que devemos manter as mesmas regras de pneus que temos hoje. Acho que temos muito mais a fazer e acho que se a Michelin for entrar, eu seria o primeiro a pedir que as regras deem mais liberdade às equipes e que elas mesmas escolham seus compostos preferidos. Liberdade total às equipes. Esse poderia ser um fator importante para a imprevisibilidade e o mais importante, que quando se tiver um trabalho melhor, que isso significasse vencer e fazer a diferença.
MS: Se a Michelin entrar, ela poderia ser tão competitiva quanto a Pirelli?
AP: Depende da tecnologia, mas como são fabricantes de renome, não seria um problema.
MS: Para finalizar, o que você achou da vitória de Nico Hulkenberg nas 24 Horas de Le Mans?
AP: Foi impactante. Sobretudo porque veio da F1 e isso não acontecia há muito tempo. Sempre dizem que para vencer Le Mans você precisa competir várias vezes e conseguir bastante experiência, mas ele demonstrou que isso não é tão necessário, que é bom em ambas as categorias. Foi perfeito.
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