F1 - Calor em Austin deve obrigar uso do colete de resfriamento: já é uma batalha perdida para os pilotos?

O GP de Singapura marcou a primeira vez que os pilotos de Fórmula 1 foram obrigados a usarem o colete de resfriamento (aqueles que se recusaram, precisaram adicionar um lastro ao carro durante a corrida, para igualar os pesos). Essa também foi a primeira vez que a categoria emitiu um alerta de temperaturas extremas, algo que pode voltar a acontecer neste fim de semana em Austin, no Texas.

Alguns dos competidores se mostraram completamente contra o colete de resfriamento, defendendo que ele é desconfortável e que passar por situações extremas faz parte da corrida. Mesmo assim, é previsto que a próxima temporada traga consigo a obrigatoriedade do sistema em casos extremos.

"Acho que deve continuar sendo uma escolha: usá-lo ou não. Nesta temporada, sim, mas a partir do próximo ano será obrigatório, e não concordo com isso, é ridículo. No final das contas, trata-se da sua própria segurança, eles não deveriam torná-lo obrigatório", defendeu Max Verstappen.

Austin deve exigir um novo alerta

A previsão do tempo para o GP dos Estados Unidos pode obrigar a FIA a emitir um novo alerta de temperaturas extremas, isso porque deve passar dos 31°C 'limite'.

Na sexta-feira, a temperatura máxima deve alcançar os 32°C, mesma máxima para a corrida no domingo, enquanto o sábado deve contar com picos de 33°C. Essas temperaturas, claro, são medidas fora do cockpit e, com isso, dentro do carro o calor acaba sendo ainda mais alto.

Nico Hulkenberg, Sauber

Foto de: Lars Baron - Motorsport Images

Entre as equipes, a durabilidade e a eficácia do sistema são diferentes

Mas por que ainda há desconfiança por parte de alguns pilotos, enquanto outros veem um grande potencial? Os motivos são muitos, como costuma acontecer com a introdução de um novo sistema que traz consigo vantagens e pontos críticos. Para entender os motivos, é necessário analisar o que não está funcionando no momento. Embora soluções semelhantes já tenham sido adotadas em outras categorias, a versão projetada para a F1 é muito mais complexa e ambiciosa. 

O espaço extremamente limitado de um carro de F1 obrigou as equipes a reprojetar determinados componentes para integrar o sistema, com soluções diferentes de equipe para equipe, já que cada carro tem características únicas e, entre outras coisas, já foram definidas quando o ajuste 2025 se tornou obrigatório. Tudo isso levou a variações inevitáveis na durabilidade e na eficácia do resfriamento de equipe para equipe.

Algumas equipes colaboraram com a empresa que desenvolveu o sistema desde o início, criando soluções, enquanto outras o trataram como um aspecto secundário, acumulando atrasos. No entanto, como destacou Carlos Sainz, desde os primeiros protótipos até as versões atuais, houve um claro avanço, um sinal da ampla margem de desenvolvimento.

Lando Norris, McLaren

Foto de: Clive Rose / Fórmula 1 via Getty Images

A partir da próxima temporada, o sistema passará por mudanças substanciais: ele será integrado ao chassi de uma maneira diferente, por exemplo, eliminando a bateria externa e conectando-se diretamente ao sistema elétrico do monoposto. Uma solução projetada para reduzir o risco de mau funcionamento e aumentar a confiabilidade, abordando uma das dúvidas levantadas pelos pilotos.

O problema do conforto e as possíveis soluções

De fato, quando o líquido que flui pela malha deixa de ser gelado, a temperatura interna começa a subir e o que deveria garantir água fria acaba ficando morno, se não quente, com o efeito oposto ao desejado. É natural, portanto, que nos estágios iniciais de desenvolvimento alguns pilotos tenham expressado opiniões negativas sobre um sistema que, se não funcionar, pode se tornar um incômodo.

Outra questão é a do conforto. A própria natureza do sistema, com cerca de 50 metros de tubos finos que transportam o líquido resfriado de uma caixa dentro de uma roupa feita sob medida ao redor do tronco, inevitavelmente envolve uma certa quantidade de volume. Isso pode resultar em desconforto, especialmente durante as curvas em alta velocidade, quando o corpo do piloto pressiona o assento e, consequentemente, os quadris.

A Chillout Motorsports desenvolveu um protótipo com tubos até mesmo nos shorts: não será a solução que veremos na F1, mas dá uma ideia de como o sistema poderá evoluir no futuro.

Com base na indicação dos pilotos, o conector que atua como uma conexão entre os tubos na camisa e os que chegam à caixa onde o líquido é resfriado já foi movido, pois estava criando espessura. Para melhorar o conforto, a FIA e as equipes estão trabalhando com parceiros para desenvolver soluções alternativas. 

Por exemplo, conforme relatado em maio, a empresa que desenvolve o sistema está considerando estender a roupa de baixo mais fria também para as pernas do piloto, reduzindo os tubos nas áreas mais sensíveis que podem causar dor. O objetivo é chegar a uma solução cada vez mais personalizada, adaptada às necessidades de cada piloto e de sua equipe.

Essa é uma batalha já perdida?

Além dos aspectos técnicos, alguns pilotos, incluindo Verstappen e Lewis Hamilton, que já haviam expressado dúvidas no ano passado, reiteraram seu desejo de manter o sistema opcional e não obrigatório. A questão também foi discutida no briefing dos pilotos em Singapura, onde as opiniões ficaram bastante divididas.

A FIA deixou claro que ainda não tomou uma posição final e que está mantendo o diálogo com os pilotos aberto, embora ainda esteja considerando tornar o sistema obrigatório já em 2026. Resta saber se essa é uma batalha que já foi selada: após as críticas que se seguiram ao GP do Catar de 2023, a Federação tomou medidas urgentes para encontrar uma solução concreta, investindo recursos e analisando diferentes opções.

A certeza, para a Federação, é que nos próximos meses o trabalho de desenvolvimento continuará: as equipes e a empresa fornecedora continuarão a aperfeiçoar o sistema, com o objetivo de melhorar o conforto e a durabilidade. Não é coincidência que esse seja um projeto de código aberto, permitindo que as equipes comparem e se baseiem em soluções rivais. O benefício aqui não é o desempenho puro, mas a segurança do piloto.

É compreensível que a FIA queira garantir a segurança dos pilotos e, ao mesmo tempo, proteger-se de críticas posteriores, evitando a repetição de episódios como os do Catar de 2023, quando o calor extremo pressionou a resistência física do grid. A Federação investiu recursos para encontrar soluções concretas e não quer correr o risco de acabar na mira dos críticos novamente. 

Quando se trata de segurança, o órgão regulador não hesitou no passado em superar a resistência dos pilotos, impondo soluções que ajudaram a melhorar e tornar o esporte mais seguro. Mais uma vez, o sistema certamente ainda precisa de progresso, tanto em termos de conforto quanto de eficácia, mas a direção tomada pela FIA parece estar definida para o futuro. 

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