Na MotoE, Granado vê chance de se firmar: “categoria igual para todos”
Com equipamento padronizado, piloto brasileiro enxerga oportunidade de provar valor após experiência ruim na Moto2 em 2018
Campeão europeu de Moto2 em 2017, Eric Granado teve a oportunidade de retornar ao Mundial de Motovelocidade pela equipe Forward em 2018 na categoria intermediária do campeonato. No entanto, com um pacote técnico pouco competitivo, o piloto não teve chance de mostrar seu potencial e acabou tendo encerrado seu relacionamento com o time ainda antes do fim da temporada, depois apenas dez provas e resultados ruins.
Porém, o brasileiro de 22 anos conseguiu para 2019 assegurar um lugar na MotoE – nova categoria totalmente elétrica do Mundial de Motovelocidade – pela equipe Avintia, ao lado do ex-MotoGP Xavier Simeon.
E com muitos nomes de peso no grid, um formato diferente de corridas e um equipamento monomarca bem distinto das motos a combustão convencionais, Eric enxerga no novo desafio a oportunidade de brilhar e se firmar no cenário do mundial. Afinal, pilotos de bom currículo e passagens pela MotoGP como Bradley Smith, Randy de Puniet, Alex de Angelis, Mike di Meglio, seu parceiro Simeon e até o veterano Sete Gibernau – vice-campeão da MotoGP em 2003 e 2004, e que não corre profissionalmente desde 2009 – estarão entre os 18 pilotos que atuarão no novo campeonato.
As corridas terão de 15 a 20 minutos, com motos sem marchas que alcançam cerca de 270 km/h com por volta de 160 cv de potência. Pneus e freios serão iguais aos da MotoGP, já que a moto é muito mais pesada do que os equipamentos a combustão, tendo nada menos que 260 kg. Para se ter uma ideia, uma moto da MotoGP, com 260 cv, pesa apenas 157 kg.
Confira a conversa exclusiva do Motorsport.com com Eric Granado:
Você já fez um treino de três dias com a MotoE e foi bem. Como foi esta primeira experiência no campeonato?
Foi muito positivo. Eu gostei muito da moto, me surpreendeu como ela anda bem. O mais interessante é que a organização está investindo muito neste projeto. A Dorna está realmente colocando todas as fichas nisso. Me adaptei muito rápido à moto, já estive entre os primeiros logo nos primeiros testes, o que é um bom começo. Enfim, agora é ver as evoluções técnicas que teremos nos próximos testes e o que a Energica vai trazer de melhorias para nós. Mas a princípio, tudo muito bom. Mas o mais legal é que as motos são iguais para todos. Então isso vai depender muito do piloto. O cara que se adaptar melhor é quem vai ter um bom resultado.
É uma categoria que prima por ser monomarca e bastante padronizada. No que os times poderão mexer nas motos?
Só o acerto básico. Suspensão, altura da moto e o freio motor, que é escolha do piloto – são três opções. Temos também um botão que é o ‘engine brake plus’, que é um botão extra para você usar em uma curva ou outra só. Mas o freio motor da moto em si é o mesmo sempre, você regula isso só na telemetria. É tudo igual.
Fale um pouco das suas sensações na moto. Ela tem a velocidade final de uma Moto2, mas é 100 kg mais pesada que uma MotoGP. Como foi andar com ela?
A potencia dela é maior que a Moto2, já que temos 163 cv. O peso é realmente maior, pelas baterias. A pilotagem é muito parecida. A moto em si é uma moto de corrida, a única diferença é que ela não tem marchas como uma moto de combustão. A pilotagem, o som e as frenagens são muito parecidas. A sensação foi boa, mas de cara é meio estranho você não sentir as marchas. O pé quer mexer para reduzir as marchas. Mas depois você se acostuma, e a pilotagem é boa. O que eu gostei muito foram os pneus, que têm uma aderência absurda. Mesmo que a moto seja pesada, ela é muito estável. Permite você fazer muitas coisas. Muitas vezes andar em uma moto pesada te limita por conta disso, mas essa moto é feita para competição. Ela é pesada, mas feita para ser veloz. Tudo foi pensado, o peso é bem centralizado, o centro de gravidade também é baixo. Isso te ajuda a guiar, mesmo sendo um equipamento mais pesado.
O fato de o pneu do campeonato ser Michelin vai ser decisivo para as corridas? Você acha que haverá a necessidade de gerir o equipamento de um modo geral assim como vemos na MotoGP?
Não, as corridas devem ser mais ‘sprints’, porque vão ser muito curtas. A autonomia da bateria é de 15 minutos e a performance do pneu sobra para essas voltas que vamos dar e para a potência desta moto, já que ele já aguenta as motos da MotoGP que têm 250 cv. Então, esse desgaste eu acho que não vai ser um problema.
Houve alguma dificuldade técnica com a moto? Algo a ser melhorado para os próximos testes?
Não, dificuldades até aqui nós não tivemos. Apenas pontos em que podemos melhorar na pilotagem e acertar alguma coisa. Mas é algo novo e igual para todos. A verdadeira questão é quem vai se adaptar mais rápido.
A única coisa é que quando a bateria passa de 70°C começamos a perder potência. Na corrida não vamos terminar com a bateria no zero, ainda teremos 30% ou 40% - mas ainda não posso dizer esses números exatamente, porque só fizemos um teste. Ainda teremos mais seis dias de treinos até a primeira etapa, e a Energica daqui até o ano que vem vai evoluir bastante ainda. Mas a nossa limitação – para mim e para todos – é essa temperatura. Isso era o que limitava também a Fórmula E no início. Este é um ponto que a Energica vai ter que buscar uma evolução. Então, vamos ver como vai ser.
Uma coisa deste campeonato é que teremos muitos pilotos diferentes competindo: desde um cara muito famoso e veterano, como o Sete Gibernau, até o Matteo Ferrari – um piloto que não se firmou nas classes baixas do mundial. Como acha que será a dinâmica das corridas?
É interessante a gente ter pilotos de várias categorias, né. Vamos ter o campeão mundial de endurance (o francês Kenny Foray), vamos ter o Leandro Salvadori que andava bem na Superbike, vamos ter gente da Moto2 como eu e o Niki Tuuli – que também foi bem nos testes – e muito mais. Eu acho interessante ter pilotos de vários campeonatos porque vai ajudar a categoria a evoluir. E, como disse, é uma categoria igual para todos. Pode acontecer de alguém vir da Moto3 e se adaptar bem e rápido. Então, com isso, não dá para nós julgarmos agora quem vai ser melhor e quem vai ser pior com base em experiência, porque está todo mundo começando do zero. Então, isso nivela todo mundo no mesmo ponto, e veremos a partir da primeira etapa quem se adaptou melhor ou não.
E isso é uma oportunidade para você, com certeza. Andar bem com tantos nomes de peso em uma categoria com motos iguais significaria muito...
Claro. Você vê, eu estarei no mesmo grid do Bradley Smith, que tem muita experiência e vai continuar na MotoGP em paralelo (como piloto de testes da Aprilia). Estar com ele na pista é uma grande oportunidade para mim. E pelo fato de as motos serem iguais, um bom resultado vai demonstrar que eu tenho o talento e potencial. E, por ser um campeonato novo, vai estar todo mundo vendo. Eu vou continuar no meio do mundial, e todos que forem ver uma etapa da MotoGP vão ver a MotoE também, e aí estão patrocinadores e equipes e mais gente.
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