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Piloto supera câncer raro e revela que ganhou corridas com cateter pela paixão às motos

Conheça a incrível história de Pedro Rehn, piloto de motos que não parou de competir enquanto combatia linfoma de Hodgkin

Quimioterapia e vitória de Pedro Rehn

O esporte é capaz de ser pano de fundo para grandes histórias, que fazem você rir, se emocionar, refletir e mudar seus atos para o futuro. As histórias de sucesso dentro do âmbito de duas ou quatro rodas sempre vem após algum tipo de superação, mas a de Pedro Rehn é realmente especial.

Apaixonado por motos desde criança, descobriu o grande amor da sua vida cedo e com o esporte conseguiu superar um linfoma de Hodgkin, um câncer que se origina nos gânglios do sistema linfático, para seguir a vida fazendo aquilo que mais gosta e influenciar pessoas que necessitam da mesma motivação que o ajudou a sair com vida e amor inabalados.

Como tudo começou

Filho de pai piloto, de avião, Pedro teve à sua disposição uma grande variedade de esportes, mas assim que foi apresentado às duas rodas, foi amor à primeira vista.

“Por mais que eu fizesse trilhas no início, como diversão, aos 14 anos, isso começou a ficar sério demais. Meus pais eram muito resistentes com motocross, dizendo que era muito perigoso. Como Brasília não havia trilhas, comecei a ter amigos que faziam veloterra (motocross sem salto) e no início eu só treinava.”

“Com 16 anos fui fazer um intercâmbio no Canadá e não teve jeito, lá só tinha motocross. Quando voltei, meu pai veio com duas motos e uma pequena estrutura. Ele me permitiu no início fazer o Campeonato Goiano, depois uma etapa do Brasileiro, mas a resistência continuava.”

“Fiquei uns três anos parado, sem andar de moto e muita gente na faculdade que eu cursava dizia para eu voltar. Um deles fez questão de levar equipamento para andar uma certa vez e não teve jeito.”

“Era uma corrida de veloterra em Brasília e dei uma volta no segundo colocado e veio a sensação de que eu havia nascido para isso. Liguei para os meus pais dizendo que compraria uma moto novamente com ou sem o apoio deles, com 21 anos.”

Os pais de Pedro Rehn não ofereceram resistência e apoiaram o filho na nova profissão. O desempenho dele era tão superior que ele teve que lidar com alguns obstáculos, mas acompanhado de um apoio inusitado.

“Fui para o profissional e logo de cara consegui um top-10 no Campeonato Goiano. Foi quando conheci o Laszlo Piquet (filho do tricampeão mundial de F1 Nelson Piquet) que me convidou para correr de Supermoto, na segunda etapa da Brasil Cup, em Barra Bonita. Ganhei as duas baterias e fui para a primeira etapa do Campeonato Brasileiro. Depois disso, ganhei todas as etapas da Brasil Cup e do Brasileiro. No final desta temporada, em 2015, tive uma grande descoberta." 

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Pedro Rehn - Supermoto das Nações 2017
Pedro Rehn - Supermoto das Nações
Pedro Rehn
Pedro Rehn
Pedro Rehn
2016: indicação ao prêmio Moto de Ouro
6

A descoberta

Quando tudo indicava que a carreira de Rehn faria voos mais altos ainda, a descoberta de um caroço na região do pescoço e a insistência de uma mãe, deram o pontapé inicial de uma grande revolução na sua vida.

“Eu tinha um caroço que havia nascido no meu pescoço e eu sempre dizia à minha mãe que deveria ser por causa das quedas que eu tinha, mas ela insistia para eu me consultar. Fui a um médico em Brasília, e ele me falou ‘então, o seu câncer...’ e eu travei. Ele não teve o tato antes de dar uma notícia dessa, achando que eu já sabia.”

“Ele acertou no que estava dizendo, mas saí de lá não querendo ver a cara dele e fui a um especialista. Fui a um oncologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, fizemos a biópsia, confirmamos que era linfoma de Hodgkin e marcamos o tratamento, não queríamos deixar para muito tarde para não piorar e a doença estava em um estágio inicial.”

Com a quimioterapia, enganou-se quem achou que Pedro pararia de competir. O tratamento, tido como um dos mais pesados no campo da medicina, não foi páreo para a força de vontade do piloto.

“Fiz a primeira quimioterapia em uma quinta-feira e no sábado já estava na moto. Quando cheguei lá, eu estava ruim, com tontura, estava tudo estranho. No segundo treino eu já me sentia um pouco melhor, no terceiro eu já estava melhor ainda e no sábado à noite eu já estava me divertindo, comendo normalmente. Eu disse a mim mesmo que teria que andar de moto todas as vezes que fizesse quimioterapia. E foi assim durante todo o período, no final de uma temporada até a metade da seguinte.”

“Comecei a fazer um ritual: quimioterapia pela manhã e moto no começo da tarde. Isso fez eu não ter enjoos, meu cabelo não caiu, ficou ralo, mas não caiu. E você acaba valorizando coisas que antes você não valorizava, vendo o mundo de outra forma.”

Loucura do bem

Para manter um ritmo de vida normal, foi colocado um cateter na parte de cima do braço de Rehn, que fazia uma ligação direta até o coração, para facilitar os procedimentos da quimio. Mas logo na primeira experiência extrema, um susto.

“Eu tinha um cateter pendurado no meu braço e tive que passar de um lado para o outro. Fiz isso porque nas pré-corridas eu vi que mais da metade do cateter que ligava ao meu coração havia saído. Liguei para o médico e perguntei: tiro ele ou tento colocá-lo de volta?’ e ele me disse: ‘Meu Deus, venha para cá agora!’.”

“Eles colocaram um novo cateter do outro lado de uma maneira que não sairia e isso me permitia ter todos os movimentos na corrida, fazendo exercícios e até mesmo no crossfit. Eu tinha uma vida normal em todo o período do tratamento, cerca de seis meses.”

“Mas conforme as quimioterapias se acumulavam, eu perdia o feeling com a moto, tanto que na primeira etapa do campeonato seguinte eu fiquei em segundo, o que era um resultado ruim para quem ganhou o anterior invicto. Depois do tratamento, quando os reflexos voltaram, eu voltei a ganhar.”

Quimioterapia e vitória de Pedro Rehn
Pedro Rehn durante tratamento
Pedro Rehn - Campeão após primeira quimioterapia
Pedro Rehn - Campeão após primeira quimioterapia
Família acompanhando etapa, durante quimio
2016: indicação ao prêmio Moto de Ouro
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Novo susto

Uma inflamação na batata da perna voltou a tirar o sono dos pais de Rehn, que tentaram esconder do filho uma novidade desagradável: uma suposta volta do câncer, descartada mais tarde.

“Depois do tratamento, fiz um novo exame detalhado para saber se o câncer acabou ou não. Acontece que se eu tenho algum tipo de inflamação, o resultado pode ser modificado. E foi o que aconteceu. Em Itu, eu lesionei meu joelho depois de uma queda, seguido de uma inflamação na panturrilha. No primeiro exame deu como se o câncer tivesse voltado, no que reduziria minhas chances de sobrevivência.”

“Só que meus pais receberam o laudo médico antes de mim e me esconderam. Mas um mês depois, fizemos novos testes e os linfonodos estavam voltando ao normal e agora faço exames anuais para observação.”

“Depois do tratamento, fui bicampeão brasileiro de supermoto na categoria 250 cilindradas, campeão paulista e goiano, fui assistir o pessoal da Supermoto das Nações, que era uma espécie de Copa do Mundo, e tinha um campeonato espanhol quase nas mesmas datas. Acabei ficando em terceiro lugar na categoria 450 cilindradas nesse Espanhol, em uma categoria que não competia no Brasil.”

Fim do apoio da Piquet Sports

Sendo competitivo ao extremo, mesmo durante um duro tratamento contra o câncer, Pedro não se abatia e tentava fazer desse revés fonte de inspiração para outras pessoas. Mas, o que poderia ser visto como um ato nobre, foi motivo de inveja dos próprios companheiros de equipe.

“Durante o tratamento eu sempre tive o apoio da Piquet Sports, dentro da equipe não havia somente o Laszlo e eu, tinha mais dois pilotos. Em um determinado momento acharam (os outros dois pilotos) que eu estava querendo me promover com o que eu estava passando. Eu fazia vídeos para motivar pessoas que estavam passando pela mesma situação, visitava pessoas no hospital para contar o que eu estava fazendo, muitos sequer conseguem sair da cama quando passam por quimioterapia.”

“Mas, dentro da equipe eu tinha o Laszlo que sempre me apoiou e tenho muita gratidão, os outros também, já que me espelhei muito neles, mas foi um clima tenso dentro desse período do tratamento.”

Com a área de motos da Piquet Sports perdendo força, o rompimento com Rehn acabou se tornando algo natural, mas foi a alavanca necessária para o próprio Pedro criar seu próprio time em competições brasileiras.

“O rompimento com a Piquet Sports aconteceu no final do ano passado, mas porque o próprio Laszlo abriu mão da equipe. Pedi algumas orientações e criei a Rehn Sports. Agora eu trouxe um piloto para a minha nova equipe, que deve me dar um pouco de trabalho no futuro.”

“Para os campeonatos nacionais, mudei minha moto, que era de 2013 e na Europa a Suzuki me convidou para ser piloto de fábrica deles. Participo dos Campeonatos Europeu e Mundial, alguns amistosos na Espanha e Itália.”

Pedro Rehn - Supermoto das Nações

Pedro Rehn - Supermoto das Nações

Photo by: Divulgacao

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