Análise

F1 2017 une passado e presente para ser o melhor da série

Game impressiona pelos gráficos, jogabilidade afiada e volta de carros clássicos

Classic Williams at Bahrain

Por Nicolas Tavares, do Motor1.com Brasil

Todo ano sai um jogo baseado na Fórmula 1, assim como acontece com diversas franquias ligadas à modalidades esportivas. Ainda assim, parece que todo ano a Codemasters consegue tirar leite de pedra e deixar o game ainda melhor do que no ano anterior, mesmo que seja com pequenas mudanças. F1 2017 é o melhor produto desde que iniciaram a série em 2011, mesmo com seus defeitos.

Depois da decepção que foi o F1 2015, o primeiro da atual geração de consoles, o F1 2016 foi um alivio. O 2017 não teve o mesmo salto, sendo uma versão melhorada do ano passado, só que feita da maneira correta. Deixaram o modo carreira mais robusto, deram mais opções para personalizar a dificuldade ou o quanto cada corrida pode demorar.

Carros lindos, pilotos nem tanto

Tecnicamente, não mudou muito. A engine gráfica usada desde o F1 2015 oferece bons gráficos, mesmo nas versões padrões do console. Para os jogadores nos PCs, é possível melhorar ainda mais a qualidade até 4K e deixar o jogo a 60 quadros por segundo, além de suporte a mais de um monitor.

rometem um patch para quando o Xbox One X chegar às lojas, fazendo com que rode a 4K.

A engine deixa os carros muito belos e pode até enganar algumas pessoas que não acompanham o mundo dos games. Podemos notar os pneus ficando sujos e limpando aos poucos, o chassi ficando molhado na chuva e o trilho formado na pista molhada. Os cenários também são muito bem feitos, recriando com perfeição todos os 21 circuitos da temporada.

Tem onde melhorar. Os modelos para pessoas são bem ruins a ponto de gerar um contraste muito grande com os carros. Parecem ser os mesmos desde 2011, com texturas ruins. Podemos até reconhecer alguns pilotos, mas muitos ficaram bem genéricos e podem se perder entre os rostos que usamos para criar nosso avatar no jogo. Claro que as máquinas são mais importantes em um game da F1, só que poderiam dar um tapinha nos humanos, já que eles aparece com frequência no modo carreira.

Ouvir os motores é um prazer, mesmo que o som do 1.6 turbo utilizado atualmente não seja tão prazeroso quanto os V10 e V12. Para os saudosistas, o ronco dos motores antigos é muito próximo do real, mais um motivo para gastar algumas horas com os modos que permitem dirigir os carros clássicos da categoria. Em inglês, conta com os comentários de David Croft e Anthony Davidson, do canal SkySports. Eles falam com a desenvoltura de sempre e com muitos detalhes sobre a pista e do que podemos esperar da corrida. Por outro lado, a versão em português usa uma dublagem por cima que não tem emoção. Talvez esteja na hora de investir para trazer alguns comentaristas brasileiros, como os jogos de futebol fizeram.

Entre realidade e ficção

É difícil agradar todos os públicos, já que games de automobilismo acabam divididos entre os simuladores e os arcades. Enquanto os primeiros se preocupam com o realismo e ter uma física próxima ao real, os últimos querem divertir, mesmo que às custas da sensação de realidade. O F1 2017 consegue caminhar entre os dois. Não é um simulador completo como algumas opções para PC, mas se aproxima muito da experiência de dirigir um carro da categoria.

Só que não esqueceram o problema da F1 atual: Falta de apelo para quem não acompanha o esporte. Para quem não tem paciência ou tempo para ficar treinando na mesma pista e aprender as nuances de um simulador, um jogo assim é chato. Para essas pessoas, o game oferece diversas opções que facilitam a vida, desde controle de estabilidade e tração até frenagem automática – é só cuidar da aceleração e da direção. A experiência vai te incentivando a ir reduzir os auxílios aos poucos. Claro, leva um tempo para encarar uma campeonato com o nível de dificuldade no máximo e sem controle de estabilidade e tração.

Neste ano, as regras deixaram os carros da F1 mais baixos e com pneus mais largos. Da mesma forma que afeta as corridas, também afetou a jogabilidade. Estão muito mais na mão do que no ano passado e mais rápidos também, aproveitando toda a aderência dos pneus largos. Para quem jogou desde o 2011, a evolução é gritante.

A melhor parte dessa melhoria é que fica fácil encontrar um ritmo de corrida, a chave para se dar bem no F1 2017. Após um pouco de treino, podemos alternar entre correr para fazer a melhor volta, e duas voltas depois andar com calma para economizar os pneus e manter a estratégia de pitstop.

Seja o campeão

O modo campanha foi o aspecto que mais evoluiu. Para começar, podemos criar uma mulher para competir, uma ótima adição. Poderia ser melhor, já que os modelos de personagem são ruins. E, no final das contas, não faz diferença alguma, pois o nosso avatar virtual não faz absolutamente nada. Não há uma dublagem para ele, sempre silencioso. Serve apenas para as animações pós-corrida.

Escolhemos uma das equipes, cada uma com seus objetivos. Em um time do final do pelotão, como McLaren e Manor, a ordem será entrar na zona de pontuação e se classificar em uma boa posição do Q2. As intermediárias querem pontos e alguns pódios. As melhores querem continuar no topo, de olho no campeonato.

Cumprir o objetivo da equipe, além de te manter na competição, gera pontos de pesquisa, usados para melhorar o carro. Cada upgrade leva um tempo para ser feito e podemos escolher em uma enorme árvore de atributos. Uma das novidades é que nem sempre a pesquisa dará certo, jogando os pontos e tempo gasto no lixo.

Esses pontos são ganhos ao fazer qualquer coisa. Os treinos livres tem pequenas missões de treino, ótimos para quem não conhece bem a franquia. Em um deles, aprendemos a pista e tentamos marcar um tempo médio, no outro já partimos para o ritmo de classificação. Há objetivos que ensinam o ritmo para economizar os pneus ou combustível. Uma das adições é o treino para determinar a estratégia de pitstop da corrida, pedindo que utilizemos pneus diferentes. É um incentivo para não fugir dos treinos livres.

O grande defeito do modo campanha é que ele ainda é muito artificial. Há um sistema de rivalidades que não serve para nada, já que a graça das disputas entre pilotos é a troca de tapas dentro e fora da pista. E, como nosso avatar é mudo, as poucas cenas tornam-se muito sem graça. Tem solução, como adotar um sistema como nos últimos jogos de esporte, em que criamos um personagem que tem uma dublagem. Se não querer transformar um piloto real em vilão, façam um apenas para servir de antagonista. Afinal, vencer é bom, mas superar um inimigo é ainda melhor.

Embora possamos controlar o quão longo será cada um dos finais de semana, a opção mais interessante é a de ter três treinos livres, sessão completa de classificação e 25% das voltas dos GPs reais. Com essa especificação, o sistema inclui todas as variantes das corridas reais, como o sistema dinâmico de clima e o safety car.

Experimentei tudo isso logo na primeira corrida. Estava com a McLaren e fiz os treinos com tempo firme. Quando veio o Q1, começou a chover, o que me deu uma chance de conseguir uma posição melhor na largada. A chuva fraca foi até o Q3 e, por um milagre, consegui ficar em quinto. No dia da corrida, mudou para chuva torrencial e aproveitei a largarda caótica para pegar a liderança. Uma deslizada do Stroll fez com que ele saísse da pista e enfiasse o carro no muro. Safety Car na pista por quatro voltas, o que me ajudou a economizar os pneus. Quando saiu, aumentei o ritmo para segurar a liderança nas últimas duas voltas. Consegui a primeira vitória na carreira.

Além da campanha, há a opção de correr apenas uma prova, um campeonato fechado ou marcar o melhor tempo sozinho na pista. Há algumas variações exclusivas para o jogo, como a chance de guiar em Mônaco de noite ou encarar um dos circuitos em regiões desérticas embaixo de chuva forte, como Abu Dhabi. O sistema de conquistas (ou troféus, para quem joga no PS4) incentiva brincar com essas opções que só podem acontecer no game.

Para quem gosta de uma jogatina online, o F1 2017 continua robusto. A Fórmula 1 irá aproveitá-lo para criar sua própria categoria de eSports, o “Formula 1 eSports Series”, uma competição anual em três etapas e a final em Yas Marina, em novembro. Mais uma forma de atrair novos fãs para a categoria, que tenta se encontrar sob a nova administração da Liberty Media.

Se quiser apenas brincar online, há diversos modos como partidas privadas para jogar só com os amigos, ou encarar as corridas públicas. Para os mais viciados, que participam de ligas online, o jogo permite fazer seu próprio campeonato, com várias corridas e pontuação própria. Pena que o modo campanha cooperativo, visto no F1 2014, ainda não retornou.

Volta ao passado

Até a versão do ano passado, a campanha era de GPs seguidos. Desta vez, surge um novo personagem, um ricaço que comprou vários carros da F1 das antigas. Como a saúde dele não é das melhores (“problemas no pescoço”, diz ele), procura por um piloto que possa guiar os modelos de sua coleção. E adivinha quem ele contrata?

Esse é o pano de fundo para nos permitir guiar os clássicos das várias eras da Fórmula 1. Cada vez temos um objetivo. Pode ser um desafio de ultrapassar o máximo de carros possível, fazer as voltas passando pelos checkpoints ou uma corrida multi-classe. É uma desculpa boba, mas que funciona.

Afinal, é quando podemos entrar no McLaren MP4/4 1988 de Ayrton Senna e vencer o RedBull RB6 2010.

Além de serem carros lindos visualmente, recriados digitalmente em seus mínimos detalhes, tiveram o cuidado de usar os sons para cada motor. Andar na Ferrari 412 T2 1995 de Jean Alesi, o último V12 da Ferrari na categoria, tem o ronco adequado. E, se pularmos para o McLaren MP4-13 1998 de Mika Hakkinen, o som muda para o de um V10.

A única má notícia é que deixaram o carro mais interessante para nós, o MP4/4 do Senna, atrás de um conteúdo pago. Foi oferecido para quem fez pré-venda e, agora, só pagando um extra. E, até o momento, a Codemasters não sinaliza a possibilidade oferecer mais um pacote de clássicos para compra.

Conclusão

A Codemasters mostra que tem jogos de corrida no seu DNA com mais uma edição forte da Fórmula 1. Tem pequenas melhorias, mas que são bem efetivas a ponto de deixar o game com aspecto de novo até para quem gastou muito tempo na edição anterior. Ainda tem onde melhorar, principalmente na apresentação. Bons narradores brasileiros e uma campanha mais atraente ajudariam a conquistar mais fãs no país. Mesmo com os pequenos defeitos, F1 2017 ainda é o melhor jogo da categoria dos últimos anos e, talvez, até de todos os tempos.

Confira imagens de F1 2017

Williams clássica em Mônaco à noite
McLaren
F1 2017 gameplay screenshot
F1 2017 gameplay screenshot
F1 2017 gameplay screenshot
F1 2017 gameplay screenshot
Dr. Vijay Mallya, Sahara Force India Formula One Team Owner
Force India team members
McLaren engine failure
Classic Williams at Bahrain
1988 McLaren at Monaco by night
F1 2017 trailer screenshot
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