10 anos depois: o maior golpe sofrido por Massa em 2008
Editor-chefe do Motorsport.com Brasil, Felipe Motta explica por que a biela “derrubou” Massa muito mais do que Cingapura ou Interlagos naquele ano
Quando você olha para trás e pensa no Mundial de 2008 da Fórmula 1 (sim, o do vice-campeonato de Felipe Massa), o que passa pela sua cabeça? A derrota em Interlagos, quando Lewis Hamilton passou Timo Glock metros antes da quadriculada? A batida proposital de Nelsinho Piquet em Cingapura, que fez o safety car ir à pista e todos seguirem aos boxes – e, de lá, Massa saiu com, digamos, uma "cauda" maior que a normal?
O campeonato teve outros pontos altos, muitos deles que sequer envolveram Massa. Mas não há dúvidas, pelo menos para mim, que o maior golpe que o brasileiro sofreu em 2008 foi em Budapeste, há exatos 10 anos.
Aquele fim de semana foi a grande performance do então piloto da Ferrari no ano, e, ao invés de somar 10 pontos, levou zero. Você pode argumentar que Cingapura, idem, e eu concordo, mas os elementos que giram em torno do Grande Prêmio da Hungria foram mais dramáticos.
Vejamos: em 2008, havia uma grande divisão entre Ferrari e McLaren de pista para pista. Nenhuma era sempre dominante, mas em geral (não era uma equação absoluta), os prateados andavam mais em curvas de baixa e os vermelhos em curvas de alta. Em nenhum dos casos quem tinha vantagem era imbatível. Sempre havia disputa. Mas era necessário achar o caminho, tirar o “leite de pedra”.
Na Hungria, 10 anos atrás, o cenário era favorável à McLaren. Ela registrou o melhor tempo na sexta-feira, na manhã do sábado e no Q1. No Q2, Massa fez uma volta absurda, e quando chegou o Q3 a McLaren travou a primeira fila (naquele ano os pilotos faziam a superpole com o combustível com que largariam no dia seguinte).
Massa estava radiante na coletiva. Embora fosse o terceiro no grid, exaltava o melhor tempo que fez no Q2 e registrava: "Amanhã tem briga". Poucas vezes vi tanta faísca no olhar de um piloto que estava em desvantagem.
A largada do brasileiro no dia seguinte foi uma das coisas mais sólidas que fez no ano, superando Heikki Kovalainen na reta e, por fora, na curva 1, Hamilton. Durante a corrida, seu ritmo foi assombroso e em nenhum momento teve a vitória contestada. O inglês, o grande rival que tinha na luta pelo título, teve problemas com um furo no pneu, então ficaria sem muitos pontos. Era um fim de semana ideal, uma performance que faria Massa mudar de tamanho naquela disputa por vencer onde não se esperava.
Pois, faltando três voltas, o motor de Massa foi para o espaço. Foi a tal da biela, que deixaria Kimi Raikkonen na mão uma corrida mais tarde. Quem venceu foi Kovalainen, talvez a vitória que mais caiu no colo de um piloto que já testemunhei. O pódio de menos apelo que vi.
No motorhome da Ferrari, o clima era de velório. E Massa, um piloto bem frio para os padrões brasileiros, estava visivelmente com cara de choro. A voz, então, mal saia da boca. A linguagem corporal era de quem tinha apanhado. Ombros para baixo, olhar de baixo para cima.... Afirmou que já estava andando com "giros reduzidos no motor", que era só "levar carro pra casa".
O que poucos lembram (inclusive eu - só vi fazendo a pesquisa para fechar o texto) é que Massa nessa corrida foi ultrapassado por Kimi na classificação. O Mundial foi para a pausa de verão com Lewis na liderança com 62 pontos, Raikkonen com 57, e Massa tinha 54.
Conforme o tempo foi passando, a ideia do que aconteceu na temporada 2008 na Ferrari era de um Massa dominante, em função de Kimi estar "desmotivado". Nunca compartilhei da ideia, porque além de tirar méritos de Massa, essa versão se esquece de detalhes do campeonato, como abandonos importantes de Kimi (depois da corrida em Budapeste, Kimi zerou quatro corridas seguidas). E Massa cresceu, vencendo as duas seguintes.
Enfim, coisas que ficaram na história da categoria, umas sublinhadas, outras esquecidas. A biela, inclusive, a maior machadada nas pretensões de Massa na luta pelo título mundial que quase levou.
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