Análise: Alertas para a nova direção da Fórmula 1
João Corrêa analisa o negócio que abalou as estruturas do esporte a motor na última semana
A venda do gerenciamento da F1 para um grupo de mídia que atua com sucesso na veiculação de esportes de massa junto ao público norte-americano suscita algumas preocupações. A primeira e grande preocupação surge da constatação de que os esportes de massa dos Estados Unidos, apesar da enorme penetração da máquina de entretenimento cultural representada por Hollywood, nunca fizeram grande sucesso mundo afora, sendo que o inverso também é verdadeiro, ou seja, os grandes espetáculos esportivos internacionais, basicamente o futebol e a F1, também não fazem grande sucesso no mercado americano. Se nos restringirmos somente ao automobilismo esportivo verificaremos a mesma coisa, o estilo NASCAR de corrida faz menos sucesso no mundo que a F1 faz nos EUA. Que experiência então um grupo de mídia norte-americano pode acrescentar à F1?
A economia, mais do que a antropologia, explica o crescente aumento do interesse do mercado norte-americano pelo futebol e pela própria F1. O grupo étnico de maior crescimento demográfico hoje nos EUA é o grupo dos genericamente tratados de hispânicos, que já passam dos 30% da população. Esse grupo já deixou de ser há muito tempo composto majoritariamente de imigrantes ilegais, são pessoas com raízes culturais oriundas em toda a America Latina, com preponderância do fronteiriço México, e nascidas ou criadas desde a infância nos EUA. Contudo, a propagação de preferências culturais acontece com mais força pela base familiar. E essas preferências especificas formam um mercado a ser atendido por elementos de qualquer origem.
Nos dias atuais, se falamos de esporte de massa é porque estamos falando de esportes cuja a maior parte do público não está contida em estádios ou autódromos, está diante de uma tela de TV. Da maneira como o esporte é transmitido que encontramos os vetores culturais que interferem nos ganhos comerciais. Algum aficionado do futebol suportaria a interrupção da transmissão da partida a cada dez minutos para a inserção de um comercial 'rápidinho' de um minuto? Não. Todavia, os aficionados dos esportes de massa norte-americanos, rugbi de armadura (que chamam de futebol), basebol, basquete e NASCAR aguentam interrupções da transmissão para comerciais de até 5 minutos!!!
Esse fato não é novo e é sabido, uma das redes televisivas que atende o público hispânico residente nos EUA, a Univision, transmite as corridas de F1 sem interrupções de comerciais, a solução encontrada por eles foi em breves instantes concentrar a tela com as imagens totais da corrida acima e no meio e a inserção visual do logo do patrocinador abaixo, com o locutor da corrida falando acerca do patrocinador. A transmissão televisiva da F1 em inglês para o público norte-americano obedece as mesma interrupções ocorridas na NASCAR e na Indy, onde aproximadamente 1/3 do tempo da corrida é composto de comerciais, mesmo em canais a cabo onde supostamente se paga pelo que assistimos.
Ninguém vende ou compra a galinha dos ovos de ouro, somente é comercializada a galinha que já pôs ovos de ouro e passou a por ovos de prata. Quem compra tem a pretensão de reverter a situação.
Saindo da parte da experiência publicitária encontramos preocupações com modificações na parte estrutural, estratégica e organizacional considerando a experiência do mercado americano. Devemos temer que a título de economizar o custo das equipes irão eliminar a disputa tecnológica que ocorre na F1, focando apenas na competição entre pilotos e equipes, como fizeram com a Indy? Devemos temer a caricatura que projeta um carro da F1 com a quantidade de logos que possui um carro da NASCAR?
O que pode ser melhorado para o público
A qualidade da transmissão pode melhorar muito com a introdução de drones realizando tomadas aéreas sobre os principais pegas. Tomadas aéreas desde dirigíveis (balões do tipo Zeppelin) aéreos e helicópteros são corriqueiros, câmaras suspensas que correm sobre fios também já foram tentados, todavia a altura e ângulo de tomada que drones podem obter ainda não foram esgotados, fora o que podem ser mantidos por mais tempo sobre pontos estratégicos da pista.
A interface digital que dá informações sobrepostas nas telas das TVs podem evoluir bastante. Hoje em dia essas interfaces são tão pobres em comunicação visual que não são capazes de informar de imediato a qual piloto pertence a visão de dentro do carro que entra na edição. O locutor é que informa, quando deduz, as vezes, na mesma velocidade que o telespectador. Devemos lembrar que um mesmo sinal é distribuído para estações de TV ao redor do mundo, a maioria das narrações é feita com o locutor observando em seu monitor o mesmo que o telespectador observa. Mais sinais para a edição regional trabalhar melhoraria muito a qualidade das transmissões.
Reprogramação visual
Há uma urgente e gritante modificação a ser implementada na F1 por parte de gerenciadores voltados para o espetáculo televisivo e até, porque não, do próprio aficionado que comparece aos autódromos, que na maior parte das vezes acompanham a corrida dos telões instalados nos próprios autódromos.
Alguém que acabou de voltar da cozinha com a pipoca é capaz de distinguir em uma tomada televisiva de média e longa distância, quem é quem em um pega entre, digamos, Rosberg e Lewis Hamilton? Ou entre as Ferraris de Vettel e Raikkonen?
Os números dos pilotos pintados nos carros não são visíveis como na NASCAR, os carros das equipes da F1, sem nenhuma razão aparente para isso, possuem as mesmas cores e estilos de design na pintura, diferentemente do que ocorre com os carros da Indy, onde cada carro de uma mesma equipe possui uma decoração diferente, mesmo tendo o mesmo formato. Uma empresa americana de mídia faria uma boa estreia acabando com essa dificuldade do telespectador da F1.
Caso o Halo venha a ser adotado, nem as diferentes cores dos capacetes ajudarão a fazermos uma rápida distinção entre carros e pilotos da mesma equipe. Mas dessa nova dificuldade pode surgir a solução. O Halo pode ter cores diferentes para cada piloto de uma mesma equipe, seria algo mais fácil de distinguir do que os desenhos e cores diferentes dos capacetes e números sem contraste. Adicionalmente isso não interferiria com a teima dos fabricantes em manter suas cores tradicionais no resto do chassi.
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