Análise técnica: a controversa suspensão do W07
O abismo cada vez maior entre a Mercedes e as rivais tem colocado um ponto de interrogação na cabeça das rivais, que sofrem para entender onde o time alemão consegue fazer a diferença; Giorgio Piola e Matt Somerfield analisam
Análise técnica de Giorgio Piola
Análise técnica de Giorgio Piola
Embora o desenvolvimento aerodinâmico agressivo do carro da Mercedes, o W07, tenha sido levantado como o motivo de tamanha vantagem frente às rivais, somente este aspecto não explica a distância entre o time alemão e o resto do grid.
Nas últimas semanas, entretanto, houve um crescimento dos questionamentos sobre o desenvolvimento da suspensão do W07. Uma matéria publicada na revista alemã Auto Motor und Sport nesta semana destaca que as rivais querem uma revisão nas regras da categoria para tornar ilegal o que a Mercedes tem feito.
O que está por trás desta controvérsia? O que a Mercedes tem feito e como tem feito para manter tal vantagem sobre as rivais?
Lições do sistema FRIC
No GP do Brasil do ano passado, houve certa intriga ao redor do W06, carro da Mercedes na última temporada, quando o time iniciou testes de componentes da suspensão e de um duto 'S' que estaria sendo preparado para este ano.
O teste ressaltou a direção que a equipe tem tomado nos últimos anos e que continua a refinar, levando na bagagem os ensinamentos que os carros permitiram quando o sistema FRIC era considerado legal pelo regulamento.
O sistema FRIC (Front-to-Rear-Inter Connected Suspension), banido pela FIA após o GP da Grã-Bretanhade 2014, utilizava acumuladores hidráulicos que conectavam as quatro rodas do carro, ajudando na estabilização do carro e melhorando a aderência mecânica e aerodinâmica - não é um sistema ativo, como as suspensões do início dos anos 1990, mas um sistema passivo que era regulado para trabalhar em harmonia.
Desenvolvimento dos conceitos
Quando o sistema FRIC foi banido, as equipes não viraram as costas para as ideias surgidas na época e as lições aprendidas serviram de base para outros desenvolvimentos na suspensão.
A Mercedes, que estava na vanguarda do desenvolvimento do FRIC, continuou a trabalhar em sistemas hidráulicos para aperfeiçoar a estabilidade geral do chassi em freadas ou no contorno de curvas. Isso pode ser visto pela habilidade que os pilotos do time mostram ao passar pelas zebras e tomar traçados mais agressivos sem acabar com a vida útil dos pneus.
O W07 possui uma suspensão dianteira totalmente hidráulica, com a 'terceira suspensão' sendo o elemento-chave para entender como o sistema da Mercedes difere do das demais equipes.
O elemento fica localizado logo atrás da tampa que protege a parte superior do sistema (ver no detalhe da imagem acima) e ajuda a controlar o deslocamento vertical da suspensão - arranjo que é repetido na traseira do carro.
Todas as equipes utilizam a 'terceira suspensão', mas apenas algumas têm unidades hidráulicas: Renault e Sauber têm, embora nenhuma das duas exiba a complexidade técnica da Mercedes. O resto do grid segue com o sistema que conta com o auxílio de molas.
O truque por trás do design
A Mercedes tem sido particularmente agressiva em termos do desenvolvimento do acesso necessário para ajustes na suspensão, criando uma larga abertura na parte superior do compartimento que dá acesso à suspensão.
Isso foi alcançado graças a uma abertura no regulamento que permitiu à Manor adaptar o chassi de 2014 para o ano passado, com um espaçador que deixasse o nariz do carro dentro das novas regras.
Com isso, permitiu-se um espaço na região, do qual todas as equipes tiraram vantagem para acomodar os componentes da suspensão dianteira - nenhuma delas, porém, chegou ao nível da Mercedes.
Vale destacar, no entanto, que tanto Red Bull quanto McLaren posicionaram os braços da suspensão o mais alto possível - algo que não poderia acontecer sem a mudança nos narizes dos carros.
Vantagens
Os benefícios de um sistema de suspensão tão complexo são bastante claros. Um dos principais é o gerenciamento dos pneus. Com um chassi mais estável, o ganho de performance e redução do desgaste é notável. Mas também há implicações na aerodinâmica.
Os pneus mudam significativamente de forma em uma volta, dependendo da carga exercida em cima deles. Se você for capaz de reduzir esse efeito, você tornará essa mudança mais previsível. Isso é incrivelmente útil para os projetistas, pois reduz as instabilidades no fluxo de ar durante as freadas e o contorno das curvas.
Além disso, a flutuação é menor dentro do pneu, mantendo a pressão e a temperatura estáveis, o que facilita a vida dos pilotos na manutenção da temperatura dos pneus na janela ideal.
Por esta razão o tratamento dos pneus que a Mercedes faz antes da corrida é diferente dos demais, utilizando aquecedores nos tambores de freio. Assim, o time regula a temperatura que será irradiada para as rodas, quando estas forem instaladas.
Com as pressões mínimas estipuladas para esta temporada - acima do normalmente visto - era uma tentativa de reduzir a pressão para o início das corridas, aumentando artificialmente a temperatura e a pressão antes da medição da FIA.
Quando a FIA e a Pirelli mudaram os métodos, esperava-se uma resposta da Mercedes. A equipe, em vez de não usar os aquecedores no grid, seguiu com o sistema, mas deixando de escolher a opção mais macia para a largada - por mais que não consiga aplicar as temperaturas de outrora. O impacto foi quase nulo, com a equipe seguindo à frente das demais, ainda que a Red Bull tenha se aproximado.
Na Hungria, entretanto, a Mercedes revisou a 'terceira suspensão' mais uma vez e conseguiu se distanciar da concorrência.
O que vem a seguir?
Aparentemente, o truque da Mercedes na parte superior da frente do chassi foi discutido na última reunião de diretores técnicos após o GP da Itália e a possibilidade de restrições impostas por futuras regras neste sentido deve ser o caminho.
Entretanto, com o regulamento do próximo ano tendo chegado a um ponto em que só o voto unânime permitiria mudanças, nada deve ser diferente em 2017.
A Mercedes certamente seguirá desenvolvendo esta área e as rivais serão obrigadas a acompanhar o movimento, mesmo que a FIA mude as regras para 2018.
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