Exclusivo: Piquet desmente e confirma verdades e mitos de carreira
Em entrevista exclusiva, aniversariante do sábado fala se foi o inventor do cobertor térmico de pneus, se vetou Ayrton Senna na Brabham e de quando fez xixi antes de largada de uma prova
O mundo do automobilismo está em festa. Tricampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet completou 67 anos neste sábado, trazendo consigo, além da idade, muitas histórias para contar.
Embora tenha uma fama de falastrão, Piquet ostenta em seu currículo algo além resultados, mas feitos que o colocam como um dos maiores gênios do esporte a motor.
Em entrevista exclusiva para Felipe Motta, editor-chefe do Motorsport.com Brasil, em sua garagem, em Brasília, Piquet esclarece algumas histórias que são atribuídas a ele, como ter vetado Ayrton Senna na Brabham.
Capacete
O item de segurança mais estilizado dos pilotos é também lugar de colocar suas marcas pessoais, preferências ou homenagens. Mas a história da icônica pintura, com gotas laranja com fundo branco, é mais simples do que parece.
“Eu tinha um capacete branco, quando começou a moda de pinturas e mandei para um amigo meu de Brasília”, disse Piquet. “Ele me mandou com três gotas, uma virada para trás e duas para frente, e no meio da gota, uma lista preta.”
“Comecei a correr e meu pai não poderia saber, então usei o nome da minha mãe e ainda escrito errado (Piket). Depois, eu mesmo que pintava e escolhia a cor errada, do laranja virou vermelho, da faixa preta virou vermelha, sempre por acaso.”
Confira imagens de Piquet na Brabham
Veto a Senna na Brabham
De 1978 a 1985, Piquet esteve à frente na Brabham, equipe que foi comandada pelo futuro mandachuva da F1, Bernie Ecclestone. Um jovem piloto brasileiro estava para subir para a F1 para o ano de 1984: Ayrton Senna. Mesmo após realizar testes na Brabham, Senna acabaria fazendo sua primeira temporada pela Toleman. Uma das histórias era de que Piquet teria vetado o compatriota no time.
Mas “Nelsão” nega que isso tenha ocorrido: “Não vetei. A Parmalat não queria dois brasileiros na mesma equipe, eles gostariam de um brasileiro e um italiano e por isso optaram pelo Riccardo Patrese.”
Piquet inventor
É muito comum o fã da F1 observar que antes de qualquer corrida das principais categorias do automobilismo, cobertores elétricos que envolvem os pneus, mas mal sabem que a ideia de aquecer a borracha antes mesmo da volta de apresentação foi de Piquet, que explicou toda a história.
“Fui correr na Inglaterra em 1978 (pela F3 Britânica) com muito frio. O carro ficava estacionado na grama. Por uma questão de horário, o carro saia de lá, alinhava no grid e largava. Perdi uma corrida por não ter esquentado o carro direito e nós bolamos uma tenda que ficava acima do carro com um ‘esquentador’ de casas – que hoje é até proibido por causa do querosene.”
“Com o carro a quase 50 graus, alinhei e logo na primeira volta eu já estava três segundos à frente, depois seis, não fiz a pole position, não fiz a melhor volta, mas ganhei com 10 segundos de vantagem.”
“Me perguntaram qual era a mágica e não era nem o motor ou outra parte quente, eram os pneus. Depois, fizemos um fogareiro, colocamos perto dos quatro pneus durante quatro horas. Perto da corrida, usávamos luvas industriais, colocávamos no carro e ganhávamos. Quando os ingleses acordaram, ganhamos 14 corridas em 17.”
Pegadinha do Piquet
Muitos passaram a conhecer Charlie Whiting como um grande diretor de corridas da F1. O inglês, que morreu neste ano pouco antes do GP da Austrália de F1, teve grande passagem pela Brabham de Piquet, com Bernie Ecclestone no comando.
Mas mesmo com a tensão de uma segunda largada no GP do Canadá de 1980, após acidente, sobrava tempo para Piquet fazer uma brincadeira com Whiting.
“Em 1980 nós perdemos o campeonato na última corrida, no Canadá. Eu fiz a pole position, o Alan Jones me espremeu, tivemos que trocar de carro. Eu costumava tomar pílulas de sal para não desidratar, e quase no momento da segunda largada me deu vontade de fazer xixi. Acabei fazendo antes da largada mesmo.”
“Comentei com Charlie Whiting que ‘estava vazando’ gasolina. O xixi saiu por alguns furos do assoalho do carro, ele colocou a mão na parte de baixo e cheirou. Acabei escutando um bando de nome.”
Confira imagens de Nelson Piquet na Williams
Assinando contrato em branco
A confiança de Piquet em Bernie Ecclestone, hoje amigo pessoal do ex-piloto, era tanta, que em um determinado momento, as renovações de contratos eram quase que automáticas. Há uma lenda de que o brasileiro chegou a assina-los em branco. O que ele não nega.
“Pior do que isso. Com o contrato já assinado, ele (Ecclestone) colocou na mala e só ele tinha. Eu não. Antes, ele havia me perguntado se eu sabia ler em inglês e me pediu para escrever: ‘eu li e compreendi’. Perguntei se ele ia me pagar e ele respondeu que seriam US$ 50 mil por ano.”
A compensação
Se em algum momento, Piquet não dava bola pelo dinheiro, após o tricampeonato mundial, quando ele deixou a Williams para se transferir para a Lotus, a grana acabou falando mais alto, por entender que já estava na reta final da carreira na F1.
“Depois do meu acidente em Ímola (em 1987) eu perdi a profundidade da visão, fiquei quase um ano assim. E durante aquela temporada, eu recebi uma proposta para ganhar na Lotus três vezes mais que na Williams. Consultei o Patrick Head, porque o Frank Williams estava no hospital, eles não cobriram. Acabei indo por dinheiro mesmo.”
Confira imagens de Nelson Piquet na Lotus
Vascaíno sim, mas nem tanto
Em 2011, antes do GP do Brasil de F1 em Interlagos, Nelson Piquet teve o gostinho de voltar a correr com a Brabham que lhe deu o primeiro título mundial, em 1981. A festa na pista, porém, acabou rendendo algumas vaias dos fãs paulistanos. Piquet guiou o carro segurando uma bandeira do Vasco, enquanto alguns torcedores corintianos gritavam o nome de Rubens Barrichello como resposta.
“Um flamenguista amigo meu, em 2011, deu a ideia de correr em Interlagos com a bandeira do Vasco na mão. Ele me disse que com a bandeira eu iria aparecer muito mais do que só com a Brabham. Eu não sou muito ligado a futebol, mas parece que ficamos entre os cinco primeiros no Twitter durante dois ou três dias, só por causa da bandeira.”
Briga em vão
Uma das cenas mais clássicas de Piquet na F1 foi a briga com o chileno Eliseo Salazar no GP da Alemanha de 1982. O brasileiro liderava a prova, mas acabou batendo em Salazar, que era retardatário, causando a sua ira, além de socos e um pontapé. Acontece que anos mais tarde se descobriu que o carro de Piquet não resistiria naquela prova por muito mais tempo.
“Dez anos depois, fui convidado pela BMW para um evento, por causa que eles queriam voltar à F1 e me contaram que o motor do carro que eu estava guiando, tirado pelo Salazar, estouraria em duas voltas. Quando desmontaram o motor, viram que ele estava quase que todo quebrado.”
Confira imagens de Nelson Piquet na Benetton
Assista a entrevista exclusiva
Para ver todos os episódios do Especial Família Piquet clique aqui.
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