F1 está perto de entrar em 'era de ouro' lucrativa e atraente para investidores; entenda

Implementação de teto de gastos e ações da Liberty Media colocaram equipes em boa posição financeira, refletida por recusa da Sauber a proposta de Andretti

Fans pack out the grandstands

Com públicos crescentes, valores aumentando e a introdução de um teto de gastos, a Fórmula 1 pode estar entrando em uma 'era de ouro' quando possuir uma equipe finalmente se torne um negócio lucrativo. Talvez não tenha sido por acaso que o assunto de equipes que eventualmente valham mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,61 bilhões) se tornou um assunto de conversa no GP dos Estados Unidos.

Arquibancadas lotadas e áreas gerais de admissão refletiram o 'efeito Netflix', enquanto o paddock foi devidamente aberto pela primeira vez em tempos de pandemia de Covid-19 e estava ocupado com VIPs e convidados de patrocinadores atuais e potenciais.

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O país norte-americano é lar da NFL (futebol americano), MLB (beisebol) e NBA (basquete), onde as franquias esportivas são um grande negócio e os valores dispararam nas últimas décadas.

Por coincidência, a organização que lidera a lista da Forbes de 2021 das equipes mais valiosas do mundo, com impressionantes US$ 5,7 bi (cerca de R$ 32 bi), é o Dallas Cowboys da NFL, cujas líderes de torcida fizeram parte do show pré-corrida em Austin.

Portanto, o Circuito das Américas era um lugar apropriado para os chefes das escuderias, otimistas, questionarem o valor futuro potencial de suas propriedades.

Mechanics make final preparations on the grid

Mechanics make final preparations on the grid

Photo by: Steven Tee / Motorsport Images

A chave para seu ânimo coletivo é o teto de gastos que foi introduzido este ano em US$ 145 milhões (R$ 814,8 mi), caindo para US$ 140 mi (R$ 786,7 mi) e, em seguida, para US$ 135 mi (R$ 758,6 mi) nas próximas duas temporadas. Como é conhecido, muitas áreas de despesas estão fora do limite de custos, que ainda assim tem um impacto significativo na maneira como as equipes principais fazem negócios.

Ao longo dos anos, alguns lutaram contra qualquer forma de teto e, em seguida, desafiaram os números específicos assim que o mesmo se tornou inevitável. Foi no auge da pandemia do ano passado, quando as escuderias não sabiam que tipo de temporada poderíamos ter e, portanto, que receita viria, que os números finais foram reduzidos ao que temos agora.

Elas podem ter resistido, principalmente pelo desejo de manter sua vantagem competitiva, mas perceberam o lado bom de verificar quais serão seus custos nos próximos anos.

Anteriormente, era um poço sem fundo, e você gastava o quanto achava que o rival estava investindo ou o que achava que seria necessário para vencê-lo.

Além disso, o último Pacto de Concórdia assinado no ano passado foi favorável às equipes. Com 23 corridas planejadas para 2022 - e nenhum "passe livre" como foi necessário para garantir um calendário completo no ano passado - haverá uma receita substancial garantida aos promotores, se a Covid-19 permitir.

A maioria dos acordos de transmissão significativos são sólidos e contínuos e, após um início lento, a Liberty Media vem construindo seu portfólio de patrocinadores da F1.

O crédito pela situação atual deve ser dado à empresa e ao ex-CEO da categoria Chase Carey, que resolveu o Pacto de Concórdia e, com o apoio de Jean Todt e da FIA, estabeleceu o limite de custos. Foi realmente o caso de salvar as equipes de si mesmas.

O teto também é significativo para as escuderias mais abaixo no grid e que estão apenas se chocando contra ele ou operando abaixo. Seus proprietários agora sabem que os grandes jogadores estão sendo controlados e há pelo menos alguma esperança de que possam diminuir a diferença de desempenho.

Lewis Hamilton, Mercedes W12, battles with Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, ahead of Sergio Perez, Red Bull Racing RB16B, Daniel Ricciardo, McLaren MCL35M, and the rest of the field at the start

Lewis Hamilton, Mercedes W12, battles with Max Verstappen, Red Bull Racing RB16B, ahead of Sergio Perez, Red Bull Racing RB16B, Daniel Ricciardo, McLaren MCL35M, and the rest of the field at the start

Photo by: Steve Etherington / Motorsport Images

As mudanças fundamentais, junto aos rumores atuais em torno do esporte, refletido pelo interesse de fãs e locais, chamaram a atenção dos homens de negócios em todo o mundo. Aqueles que se firmaram na F1 bem a tempo, nas últimas temporadas, podem perceber que fizeram bons acordos.

Alguns, como Lawrence Stroll na Aston Martin, Finn Rausing na Sauber ou Michael Latifi na McLaren, têm motivos pessoais para comprometer sua fortuna na categoria. Eles não são do tipo que desperdiça seu dinheiro por capricho, mas seus investimentos foram incentivados por sua óbvia paixão pelo esporte.

Outros, como Jim Ratcliffe na Mercedes, Dorilton na Williams e os apoiadores sauditas e americanos que se juntaram à McLaren no ano passado, têm motivos menos sentimentais. Eles tiveram a visão certa de para onde o esporte estava indo.

Os proprietários existentes chegaram a conclusões semelhantes. Frustrado com a falta de resultados, Gene Haas pode ter tido uma oscilação, mas decidiu que, tendo chegado tão longe, era melhor continuar.

"Acho que estamos em um momento muito bom para a F1 porque o público está crescendo", disse o chefe e acionista da Mercedes, Toto Wolff. "A popularidade do esporte tem aumentado, estamos lentamente, mas com segurança, explorando as Américas, e Stefano [Domenicali], com a Liberty, tem feito um trabalho tremendo."

"Portanto, só posso falar por nós mesmos, mas aumentamos nossa receita consideravelmente. O teto de gastos nos trouxe um resultado final, e é assim que as equipes esportivas devem ser. Não deve ser apenas um exercício de marketing e um centro de custos. Deve ser um centro de lucro, semelhante ao que são as equipes [esportivas] dos Estados Unidos."

"Estamos claramente lá. Acredito ou espero muito que todas as escuderias se tornem lucrativas muito em breve. Você sabe quais são seus custos e não pode gastar mais de US$ 145 milhões este ano, e está caindo."

Aston Martin team members on the grid with the car of Lance Stroll, Aston Martin AMR21, as a quintet of US Army helicopters fly over the grid prior to the start

Aston Martin team members on the grid with the car of Lance Stroll, Aston Martin AMR21, as a quintet of US Army helicopters fly over the grid prior to the start

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

"Acho que, com a chegada da Liberty, houve uma mudança", disse o CEO da McLaren, Zak Brown. "Eles são investidores em muitos negócios e acho que reconheceram que este é um grande esporte global, com nova governança, estrutura, liderança e que eles podem realmente explorar seu valor potencial."

"Então, acho que Chase fez um ótimo trabalho, exatamente o que a Liberty queria, que era pegar a categoria e prepará-la para o futuro. Ele fez isso extremamente bem e agora passou para Stefano. A Fórmula 1 ganhou um tremendo impulso."

Brown enfatizou que o quadro de propriedade da equipe está mudando drasticamente: "Acho que o esporte começou com empreendedores, depois vieram OEMs (em inglês: fabricantes do equipamento original). E eu acho que muitos desses investidores em esportes e de grandes fortunas individuais então se unindo para criar fundos e coisas dessa natureza para continuar nesses times."

"Os homens de negócios que estão entrando no esporte são pessoas sérias, investidores esportivos e possuem comércios significativos. Se você olhar para o valor de outras franquias esportivas ao redor do mundo, as equipes de F1 são subestimadas, e eu acho que é por isso que você vê pessoas entrando nisso."

"Portanto, agora seria um bom momento para um comprador entrar, mas provavelmente não há muitos vendedores neste momento, o que cria uma boa dinâmica para aumentar o valor da franquia, então eu acho que a categoria está em uma posição muito boa."

Brown também relembrou as mudanças ocorridas nos últimos dois anos: "Acho que o grid nunca foi tão saudável. Não consigo me lembrar de quando nem sempre houve uma ou duas equipes, ou três, em trauma financeiro."

"Cada uma agora, todas as dez, são organizações extremamente saudáveis, de propriedade de pessoas que têm a capacidade de ver através dela. E eu acho que é um ótimo lugar para o automobilismo."

Lando Norris, McLaren MCL35M, leaves his pit box after a stop

Lando Norris, McLaren MCL35M, leaves his pit box after a stop

Photo by: Glenn Dunbar / Motorsport Images

Essa saúde financeira representa uma reviravolta extraordinária. Nos últimos anos, houve pontos em que, à medida que suas dívidas aumentavam, empresas como Force India, Williams e Sauber quase faliram. Até mesmo a poderosa McLaren - parte de um grupo mais amplo que inclui a divisão de carros de rua - ficou na corda bamba por um tempo. Isso agora mudou.

"A McLaren será uma equipe de corrida lucrativa em um futuro não muito distante", reiterou Brown. "Antes do teto orçamentário ser estabelecido, não acho que você poderia ter dito isso, porque era um esporte em que tinha que gastar tanto quanto o maior gastador. Então, a franquia era mais [sobre] quem podia se dar ao luxo de perder mais?"

"Esse não é um modelo atraente para muitas pessoas. Então, eu acho que o fundamental está mudando. Acho que é por isso que você está vendo verdadeiros investidores em esportes como MSP e UBS, que apostaram na McLaren e têm uma história no basquete e no beisebol. Eles têm experiência e sucesso reconhecendo os valores que virão."

Crescido nos Estados Unidos, Brown está convencido de que agora é o momento certo para comparar as equipes de F1 com outras empresas esportivas.

O valor médio dos 50 melhores da Forbes, que inclui gigantes do futebol europeu como Barcelona e Real Madrid em quarto e quinto lugar no geral, é de US$ 3,7 bilhões (cerca de R$ 20,7 bilhões). Os números superam aqueles associados até mesmo às maiores marcas da categoria máxima do esporte a motor.

"Se olhar para tamanho, escala e importância da F1 em comparação com essas outras ligas, você meio que coça a cabeça e se indaga por que algumas dessas equipes valem mais do que McLaren, Mercedes ou Red Bull", comentou Brown. "Acho que a resposta histórica é porque o esporte consome dinheiro, mas acho que pela Liberty ter mudado essa estrutura vemos investidores esportivos e em geral chegando."

"Acho que daqui aqui a três, quatro ou cinco anos, veremos as escuderias negociarem mais de um bilhão de dólares - supondo que alguém queira vender. O fato de ninguém querer gera um prêmio."

Kimi Raikkonen, Alfa Romeo Racing C41, in the pits during practice

Kimi Raikkonen, Alfa Romeo Racing C41, in the pits during practice

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Esse é um ponto chave. Não sabemos todos os detalhes do motivo pelo qual a oferta de Michael Andretti pela Sauber diminuiu, mas fontes sugerem que pessoas próximas ao principal acionista, Rausing, convenceram o sueco de quanto a equipe tem potencial para valer e que os números só podem melhorar.

"Quem hoje compra uma equipe de F1 sabe exatamente o que precisa gastar para ser competitivo, porque não conseguiríamos investir mais", disse Toto Wolff. "É por isso que se tornou uma ótima oportunidade de negócio para mim. Eu não venderia uma. Pelo contrário, com a chegada da Ineos, comprei mais 3% e estou muito feliz com isso."

O chefe da Mercedes concorda que os valores só podem aumentar a partir daqui: "Acho que, com o limite de custo estamos, chegando a uma situação em que existem números reais e as escuderias serão avaliadas com base no mesmo tipo de métrica, como outros times esportivos."

"E também se a franquia é sustentável por ser limitada e se o fluxo de receita é sustentável a longo prazo. Eu acho a F1 muito atraente como modelo porque fechamos acordos de patrocínio que duram de três a dez anos e assinamos acordos de corrida e TV que duram entre cinco e dez. Então, como um case de negócios é altamente atraente, porque você pode descontar fluxos de caixa futuros facilmente."

"Creio que quando nos transformamos em lucratividade você pode aplicar as mesmas métricas de avaliação que seu grupo de pares, é por isso que concordo com Zak - tudo se resume a nossa própria receita e lucros."

Sem dúvida, mais investidores estarão ansiosos para se juntar à festa da F1 nos próximos anos - mas de fato, haverá igualmente uma parte dos acionistas de equipes que decidirão lucrar.

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