Análise

F1: O poder da mentalidade de Verstappen na conquista do título e o que isso pode representar para o futuro

Holandês passou a temporada exibindo uma calma, falando que, caso não conseguisse o título, mesmo assim poderia dormir à noite

Podium: race winner and 2021 F1 World Drivers Champion Max Verstappen, Red Bull Racing

Na volta após a bandeira quadriculada no GP de Abu Dhabi, que lhe rendeu o primeiro título na Fórmula 1, conquistado em cima de Lewis Hamilton, pudemos ver as primeiras exibições reais de emoção de Max Verstappen.

O piloto da Red Bull parecia calmo, aparentemente inabalável ao longo do ano. Ele se livrou de alguns dos pontos baixos e nunca parecia muito obssessivo com a disputa pelo Mundial, sem vê-lo como algo que mudaria monumentalmente sua vida.

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"Isso não vai mudar minha vida na verdade", disse em outubro. Para ele, sempre foi simples: ele e a Red Bull precisavam dar o melhor, e se não fosse suficiente para conquistar o título, ainda conseguiriam dormir a noite.

Essa mentalidade foi colocada no pior dos testes possível com as voltas finais em Abu Dhabi, antes da batida de Nicholas Latifi e o safety car, quando ficou claro que os pneus mais novos de Verstappen não seriam suficientes para alcançar Hamilton na frente.

A gigantesca defesa de Sergio Pérez trouxe Verstappen novamente na disputa, e a decisão de parar com o safety car virtual ofereceu mais uma chance de lutar novamente. Mas o ritmo da Mercedes era imbatível.

A surpresa no final, o "milagre" que Christian Horner havia dito com 10 voltas para o fim que a Red Bull precisava, foi um acréscimo à mistura de emoções que Verstappen sentiu ao cruzar a linha de chegada e sair de seu carro, antes de um abraço em meio às lágrimas com o pai Jos, que esteve ao seu lado por toda a carreira.

Mas assim que a poeira abaixou e a cerimônia do pódio foi concluída, e a grandiosidade da conquista começou a ser assimilada, Verstappen havia voltado a ser a mesma pessoa calma, enquanto a saga dos protestos começava.

Falando na coletiva do campeão, feito após a corrida, Verstappen admitiu que "lentamente" começava a assimilar o que havia feito, e falou sobre como a sua jornada pelo esporte "passa pela cabeça" antes de conquistar o que ele chamava de "o objetivo maior".

Lewis Hamilton, Mercedes, 2nd position, congratulates Max Verstappen, Red Bull Racing, 1st position, in Parc Ferme

Lewis Hamilton, Mercedes, 2nd position, congratulates Max Verstappen, Red Bull Racing, 1st position, in Parc Ferme

Photo by: Steve Etherington / Motorsport Images

Mesmo assim, ele manteve a visão de que sua vida não mudaria após conquistar o título. "Claro, estou muito feliz por ter vencido. Essa era a conquista final que queria na Fórmula 1. Então tudo que vier agora é bônus".

A posição de Verstappen parecia ser um contraste à de Hamilton, o cara que sentou na mesma cadeira na coletiva do campeão nos quatro anos anteriores, parecendo ficar mais ciente do tamanho de suas conquistas e o legado que está criando a cada título conquistado.

Talvez a opinião de Verstappen mudará se, ou mais provavelmente quando, ele acrescentar mais títulos na sua lista. Eles não serão apenas um "bônus", mas sim a prova de sua posição entre as lendas da F1 e o crescimento de seu legado. Ele já detém vários recordes ligados à idade, e ainda tem o tempo ao seu lado para buscar várias marcas pertencentes a Hamilton.

Mas há também um certo poder que vem com a mentalidade que Verstappen usou na temporada passada que deve colocá-lo em bom caminho para o futuro. Em 2014, quando trabalhava em uma televisão, um colega fez uma questão simples aos candidatos ao título, Hamilton e Nico Rosberg: "o que significa vencer o campeonato para vocês?".

A resposta de Rosberg foi curta: "Seria bem legal, não? É um sonho de criança, então seria bem legal". Dezesseis palavras no total.

Já Hamilton deu uma resposta sincera, mais de 10 vezes maior, falando sobre como não tinha tido a oportunidade de curtir seu primeiro título em 2008 como deveria, e que era a "coisa mais especial" que não deveria ser tratada como certa. Naquele momento, parecia um sinal de que Hamilton simplesmente queria o título mais do que Rosberg. E ele conseguiu.

Press conference: Lewis Hamilton, Mercedes AMG, and Nico Rosberg, Mercedes AMG

Press conference: Lewis Hamilton, Mercedes AMG, and Nico Rosberg, Mercedes AMG

Photo by: Charles Coates / Motorsport Images

E, na realidade, é tudo uma questão de abordagens diferentes. Rosberg, assim como Verstappen, sempre parecia bem ciente dessas questões. Mesmo nas corridas finais de 2016, quando seguia o mantra de "uma corrida por vez". No privado, claro, ele estava fazendo planos de se aposentar quando atingisse o pico de sua carreira: ser campeão de F1. Ele atingiu esse pico, e não viu necessidade de continuar.

A alegação de Verstappen de que o título não mudaria sua vida pode ser estranho de ouvir em certos momentos, particularmente para alguém que conquistou seu primeiro título. Mas serviu como uma abordagem mental importante para lidar com os altos e baixos da competição esportiva de elite. É uma abordagem similar de seu ex-companheiro de Red Bull, Daniel Ricciardo.

"Se você apostar tudo em uma mesma coisa e não funcionar, o pensamento de o que poderia acontecer pode se tornar assustador", disse Ricciardo em entrevista ao Motorsport.com próximo do fim da temporada.

"Por exemplo, se eu voltar a minha vida ao redor do objetivo de me tornar campeão mundial e eu não conquistar o título, terei depressão pelo resto da minha vida? Não sei, é algo arriscado de se fazer. Nesse esporte, quando há tantas variáveis, nada é garantido. Não é tão preto no branco".

Ricciardo citou uma história sobre o lutador do UFC Rashad Evans como um exemplo de mentalidade em ação de quando você atinge o objetivo.

"Ele trabalhou a vida toda para se tornar campeão e conseguiu. E eu acho que na próxima semana ele voltou à academia e seus companheiros perguntavam como ele se sentia. E ele disse: 'Não sinto nada de diferente'".

"De certo modo, acaba sendo triste, porque você quer que isso signifique algo. Mas acho que o ponto era que ter o cinturão não mudou quem ele era como pessoa. Então se você também trabalhar para ser algo e não atingir, acredito que também possa ser bastante desanimador".

Daniel Ricciardo, McLaren

Daniel Ricciardo, McLaren

Photo by: Erik Junius

"Então eu tentei nivelar um pouco as coisas. Se eu me tornar campeão, maravilha, mas se isso não acontecer, a vida segue em frente. É ter uma abordagem madura. Lewis tem sete títulos. Ele se sente diferente de quando não tinha nenhum? Não sei. Não estou dizendo que sei essa resposta. Mas apenas que pode ser assustador se investir por inteiro nisso, porque há muito mais na vida".

Verstappen vem corretamente curtindo a vida desde a conquista do título em Abu Dhabi, passando o fim de ano no Brasil com sua namorada e tirando o máximo das férias antes que inicie a preparação para a temporada de defesa do título nas próximas semanas.

Assim que seu carro receber o adesivo de #1 pela primeira vez na pré-temporada e a defesa do título comece, Verstappen se encontrará em território novo. Mas, se o ano passado é algo para se passar, quando ele se envolveu pela primeira vez em uma luta pelo título, e se sua abordagem mental permanecer forte e inalterada, ele será capaz de enfrentar quaisquer altos ou baixos que surgirem no caminho.

Como Ricciardo disse, nada é garantido na F1. Então o fato de Verstappen ter um título em suas mãos certamente tornará as coisas mais leves; uma garantia de que ele atingiu o topo, aquela "conquista final" que ele trabalhou para conquistar.

O título pode não mudar Verstappen, mas com mais vitórias e títulos podendo vir no futuro, seus pensamentos sobre a importância de se deixar um legado podem entrar nessa mentalidade, construindo em cima de uma fundação que já é sólida.

Max Verstappen, Red Bull Racing

Max Verstappen, Red Bull Racing

Photo by: Getty Images / Red Bull Content Pool

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