Hubert, Bianchi e os elos trágicos da geração de ouro da França
Piloto francês morto neste sábado também foi cacifado por montadora e era visto como valor para o futuro do país na F1
A França é um país muito tradicional na Fórmula 1, embora tenha "apenas" um campeão mundial, um dos maiores de todos os tempos - Alain Prost, quatro títulos na bagagem. Além de pilotos, os franceses se orgulham de marcas importantes, de motores, pneus, combustível, que sempre contribuíram na trajetória da categoria.
Depois de passar por anos de maus resultados, a França criou alta expectativa com uma geração de ouro que vinha do kart. O sonho virou pesadelo, após viver nos últimos cinco anos duas tragédias envolvendo as "pratas da casa" que forjou.
Neste último fim de semana o último episódio. Anthoine Hubert morreu em acidente durante corrida da Fórmula 2 em Spa-Francorchams, Bélgica, no sábado.
O piloto da BWT Arden tinha apenas 22 anos e era membro da Academia da Renault. Segundo o próprio Alain Prost, hoje diretor não-executivo da marca francesa, Hubert já estava com tudo garantido para dar sequência à sua carreira (relembre abaixo) na F2 em 2020.
Na atual temporada, o francês conquistou duas vitórias e foi presença constante nas brigas do top-5. Além disso, Hubert foi o campeão da antiga GP3, atual Fórmula 3, em 2018. Resultados que fizeram com que a Renault o enxergasse como potencial piloto da F1 nos próximos anos.
A trajetória do jovem se assemelha(va) a de talentos recentes da categoria máxima do esporte a motor. Entre eles, Jules Bianchi, também francês, morto em 2015, e seu afilhado Charles Leclerc, monegasco, vencedor do GP da Bélgica no domingo seguinte ao falecimento de Hubert.
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O piloto foi uma das maiores promessas da França nos últimos tempos. Em 2009, Bianchi se tornou o primeiro membro da Academia da Ferrari. Nos anos seguintes, o jovem se alternou como piloto de testes da escuderia italiana e da Force India, por empréstimo, além de continuar nas categorias de acesso à elite.
Em 2013, Bianchi foi contratado como piloto da Marussia na F1. Logo na estreia, no GP da Austrália, superou o péssimo carro e teve desempenho consistente, terminando em 15º, à frente de Daniel Ricciardo.
No GP de Mônaco de 2014, Bianchi conseguiu o primeiro ponto para ele e para a equipe. O francês batia regularmente o companheiro Max Chilton e já se colocava como potencial substituto de Fernando Alonso, de saída da Ferrari. Entretanto, no Japão, o destino foi cruel com a promessa.
Disputada sob forte chuva em Suzuka, a corrida foi complicada. Com a pista molhada, Adrian Sutil escorregou e bateu na curva Dunlop. Um trator recolhia a Sauber do alemão, mas outro acidente viria na sequência: Bianchi também foi vítima do aguaceiro e perdeu o controle de sua Marussia, batendo com violência contra o carro de resgate. Em julho de 2015, o francês sucumbiu aos ferimentos e morreu, marcando a primeira fatalidade da F1 desde Ayrton Senna em 1994.
Charles Leclerc, quase francês e vencedor na Fórmula 1
Afilhado de Bianchi, o vencedor do GP da Bélgica foi uma aposta de sucesso desde o princípio. Depois de começo promissor no kart, Leclerc foi para os monopostos em 2014. Dois anos depois, o monegasco foi campeão da GP3, a exemplo de Hubert. A temporada 2016 também marcou os primeiros testes na F1, com a Haas, e foi a primeira como membro da Academia da Ferrari.
No ano seguinte, Leclerc ascendeu para a F2. Deu certo: mais um título para o monegasco, que faturou as duas principais categorias de acesso à F1 em sequência. A promoção para a elite era inevitável, até pelos bons testes com Sauber e Ferrari.
Como esperado, o monegasco foi para a F1 em 2018. A bordo da nova Sauber-Alfa Romeo, o novato impressionou. Com um sexto lugar, quatro sétimos e nove provas no top-10, Leclerc despontou como sucessor natural de Kimi Raikkonen na Ferrari. Dito e feito, troca efetuada.
No time de Maranello, Leclerc se mostra, cada vez mais, um futuro campeão. Até agora, foram seis pódios, três poles e, finalmente, a grande vitória em Spa. Quis o destino que o monegasco não pudesse comemorar. Entretanto, ele foi capaz de honrar Hubert a pedido de Pierre Gasly, outro amigo do falecido piloto. Leclerc virou o 108º vencedor da F1. Veja todos abaixo:
Gasly e Ocon também são membros da geração
O piloto da Toro Rosso e Esteban Ocon, que vai para a Renault no ano que vem, também são contemporâneos de Hubert e Leclerc. Os quatro cresceram correndo juntos e se tornaram esperanças francesas do automobilismo. Após a fataldade deste sábado, Gasly pediu ao ferrarista, que largou na pole, para vencer pelo amigo que faleceu.
"Eu disse ao Charles antes da corrida: “por favor, vença por Anthoine”, porque nós três começamos a correr juntos. Corremos lado a lado por muitos anos e nos conhecíamos muito bem. A morte de Jules [Bianchi], há alguns anos, e a de Anthoine, são horríveis para o automobilismo francês. Eles eram duas pessoas incríveis. É muito difícil de aceitar", disse Gasly.
"Quando você tem 22, 23 anos, não está pronto para perder um dos seus melhores amigos. Crescemos juntos desde os sete anos, quando corríamos de kart. Moramos juntos no mesmo apartamento por seis anos. Fomos colegas de classe dos 13 aos 19. É chocante, porque você não percebe o quão rápido as coisas podem acontecer. Já combinei de rever todos os amigos que tínhamos em comum, nenhum de nós conseguiu compreender o que aconteceu. É triste".
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