Nos 10 anos sem vitória brasileira na F1, Barrichello relembra feito; saiba quem pode quebrar jejum
Vitória no GP da Itália de 2009 foi o último grande feito do Brasil na categoria. O Motorsport.com ouviu Rubinho e os aspirantes que buscam fazer com que o Tema da Vitória volte a tocar
A sexta-feira quando é 13, para muitos, dá azar. Mas há exatos dez anos, esse mesmo dia 13 caiu em um domingo. Um domingo de sol, sorte e talento. O que ninguém sabia é que naquele momento o Brasil ouviria pela última vez o hino nacional em uma cerimônia de pódio na Fórmula 1.
Foi no GP da Itália de 2009 que Rubens Barrichello, na Brawn GP, garantia o 11º triunfo de sua carreira, além também de ser o último da meteórica equipe comandada pelo atual diretor esportivo da categoria. "Lembro de tudo naquele dia", afirma Rubinho, em entrevista exclusiva ao Motorsport.com.
A Corrida
Lewis Hamilton, então campeão do mundo, foi o pole position. O inglês da McLaren tinha uma estratégia de duas paradas, enquanto a dupla da Brawn, Barrichello e Jenson Button, faria apenas uma.
Após o segundo pit stop de Hamilton, a tática da Brawn se mostrou mais eficiente e eles conseguiram se manter à frente da McLaren.
Nas voltas finais, o inglês acabou rodando sozinho, na tentativa desenfreada de buscar a segunda colocação de seu compatriota. Rubinho, que havia largado em quinto, cruzou a linha de chegada quase três segundos à frente de Button. Kimi Raikkonen, na época na Ferrari, foi o terceiro colocado.
“Foi uma corrida muito aguerrida”, disse Barrichello, que abre o sorriso ao lembrar da grande performance. "Foi uma largada muito boa. Em Monza, é sempre perigoso você perder um bico, e aí, fui mandando ver, com uma estratégia diferente da McLaren, em uma época que o carro não era o melhor, mas era competitivo”.
Após a corrida, Barrichello era o vice-líder do campeonato, com 66 pontos, 14 atrás de Button. O brasileiro viria a ser superado por Sebastian Vettel, que venceria no Japão e em Abu Dhabi naquele ano.
Com passagem pela Ferrari de 2000 a 2005, sendo duas vitórias em Monza vestindo vermelho, a memória de Rubinho tem reservada o carinho pelos tifosi, mesmo quando ele não fazia mais parte da escuderia.
“Me lembro muito bem, sendo honrosamente aclamado pelos ferraristas, porque ganhei três vezes em Monza. Era uma das minhas melhores pistas, ganhar duas com a Ferrari e uma com a Brawn foi coisa de outro mundo. Lembro do pódio, daquele bando de vermelho aclamando um carinha que fez parte da vida deles.”
Jejuns que terminam, jejuns que começam
Barrichello também tem seu nome ligado a outro jejum brasileiro, que foi de 1993 a 2000, encerrando a seca que durava desde a última vitória de Ayrton Senna. Mas, segundo o atual piloto da Stock Car, as sensações eram bem diferentes.
“São coisas inimagináveis. Naquela época, o Felipe (Massa) estava em um carro competitivo, então achávamos que logo estaríamos vencendo. Mas isso é questão de tempo, daqui a pouco teremos brasileiros voltando a vencer, qualidade não falta."
"Temos um momento de estudo para que o automobilismo possa promover esses meninos de volta à F1. Temos gente na fila para andar, mas tenho certeza de que a gente voltará a ganhar. Agora, o espaço que eu demorei para voltar a ganhar, desde à morte do Senna, eu não vejo coincidência, é só um momento do automobilismo brasileiro.”
Sobre quem reinaugurará a galeria de vitórias brasileiras na F1, Rubinho destaca um nome que ganha cada vez mais força no caminho rumo à maior categoria do automobilismo mundial: “Há muita capacidade. Sou muito fã do Dudu (Eduardo, filho de Barrichello) espero que ele possa guiar, mas tem um menino que também gosto muito que é o Caio Collet. Chegando à F1, acho que ele desponta.”
Confira as imagens do GP da Itália de 2009
O panorama para o futuro
Mas Collet não é o único que pode encerrar o incômodo jejum brasileiro. Nada menos do que seis outros pretendentes estão no caminho da F1, uns mais próximos, outros começando a caminhada.
O Motorsport.com conversou com todos para saber como encaram a responsabilidade de chegar à F1. Em comum entre eles, a pouca memória do triunfo de Barrichello dez anos atrás, já que todos eram muito pequenos.
Caio Collet
Caio Collet
Photo by: Divulgacao
A aposta de Barrichello está atualmente na Fórmula Renault, e já faz parte do programa da montadora francesa. A carreira do piloto de 16 anos já inclui a terceira colocação no Mundial de Kart de 2015 e o título da F4 Francesa de 2018.
“Da minha parte, fico muito feliz por ter um grande nome do automobilismo mundial, como o Rubinho, apostando que no futuro eu possa estar na Fórmula 1. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas esse reconhecimento mostra que estamos no caminho certo."
Pietro Fittipaldi
Pietro Fittipaldi, test and development driver, Haas F1
Photo by: Andy Hone / LAT Images
Neto de Emerson Fittipaldi, Pietro é piloto de testes da Haas na F1, compete no DTM e tem títulos que vão desde os Late Models da NASCAR em 2011, até os êxitos na MRF Challenge de 2016 e a Fórmula V8 3.5.
“Meu próximo passo, meu grande objetivo é ser titular da F1. Estamos trabalhando para chegar lá, vamos ver o que acontece para 2020. É incrível pensar que faz 10 anos que um piloto brasileiro não ganha um GP de F1. Meu objetivo é mudar isso.”
Sérgio Sette Câmara
O mineiro é piloto de testes da McLaren, tendo passado também pelo programa de jovens pilotos da Red Bull. Atualmente, está em seu terceiro ano na Fórmula 2 e ocupa a quinta posição. Além disso, em 2016 Sette Câmara conseguiu a terceira posição no tradicional GP de Macau.
“Mais do que piloto, sou amante do automobilismo. Entrei no esporte por ser um grande fã, sempre assisti as corridas, e a F1 é a minha grande paixão. A época em que assistia era muito rica, tinha o Felipe Massa andando bem nos primeiros anos, e depois teve o ano da Brawn do Rubinho em que ele disputando o título mundial. Espero que no futuro tenhamos muito mais vitórias brasileiras na F1 e quem sabe eu possa também colocar uma lá no placar, seria um verdadeiro sonho e uma honra.”
Pedro Piquet
Pedro Piquet, Trident
Photo by: Gareth Harford / LAT Images
Filho do tricampeão mundial de F1, Nelson, “Pedrinho” foi bicampeão da F3 Brasileira, 2014 e 2015, seguindo para a Europa no ano seguinte na antiga F3 Europeia, hoje F3 Regional. Em 2018, ele pulou para a GP3, terminando na sexta posição, e se manteve na categoria em 2019, hoje F3, já com três vitórias.
Felipe Drugovich
Felipe Drugovich, Carlin Buzz Racing
Photo by: Joe Portlock / LAT Images
O piloto de 19 anos, nascido em Maringá, no Paraná, já teve o gostinho de levantar campeonatos relevante na Europa e Ásia, como o MRF Challenge, a Euroformula Open e a F3 Espanhola, todas em 2018. Hoje, ele está em seu primeiro ano da F3.
“Ser apontado como um dos que podem quebrar esse jejum é muito legal, me dá bastante força e confiança. Ao contrário do que muita gente pensa, não me sinto pressionado, acho uma coisa legal. Isso quer dizer que as pessoas acreditam que você tem capacidade de chegar lá. A caminhada tem sido boa, procuro aprender o máximo possível, principalmente neste último ano. Nosso 2019 tem sido difícil, mas isso faz você aprender muito, te faz ficar mais completo.”
Enzo Fittipaldi
Enzo Fittipaldi
Também neto de Emerson Fittipaldi, irmão de Pietro, faz parte da Academia da Ferrari e teve como ponto alto o título da F4 Italiana em 2018, além da terceira colocação na F4 Alemã, no mesmo ano. Enzo deu um passo à frente em 2019 e ocupa a vice-liderança da F3 Regional Europeia, com a forte equipe Prema.
“Estou focado na F3 Regional, preciso terminar o campeonato bem, essa é a minha meta agora. Vou tentar dar meu máximo possível e ver onde o futuro me leva. Vou com tudo para o futuro, sempre com o apoio da Ferrari Driver Academy.”
Gianluca Petecof
Gianluca Petecof comemora vitória no pódio da F4 Alemã
Photo by: Divulgacao
Também integrante da Academia da Ferrari, Gianluca Petecof vem de campanhas nas F4 Italiana e Alemã, também com a Prema. Atualmente ele ocupa a vice-liderança do campeonato italiano com quatro vitórias, e é o sexto do alemão, tendo vencido a primeira prova do ano.
“Para mim, essa caminhada é natural, a cada ano que passa dou o meu melhor, me sacrifico do jeito que tem que ser para conquistar meus objetivos. Seria um grande prazer, uma grande honra poder representar o Brasil na F1, um país que merece ter alguém disputando títulos e ganhando corridas. Estou fazendo tudo o que posso para tornar isso realidade."
Abismo entre décadas
A ausência de vitórias brasileiras na F1 pode ser também o reflexo do que o país tem fornecido à categoria. Além de duas temporadas sem representantes, o ano de 2020 deve manter a triste escrita, fazendo com que apenas quatro nomes (Barrichello, Massa, Felipe Nasr e Bruno Senna) tenham competido na atual década. Se compararmos com a anterior, veremos nada menos do que 11 pilotos que estiveram no grid.
Confira todos os brasileiros que estiveram na F1
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