Vacas, elefantes e água roubam a cena na estreia indiana
Pilotos se surpreendem com diferenças culturais e fogem da torneira até para escovar os dentes
A Índia é tão diferente que só conhecendo para se ter uma noção. Essa foi a opinião geral dos pilotos nesta quinta-feira, às vésperas da prévia da estreia do país na Fórmula 1. Tanto o choque cultural, exemplificado pelas vacas sagradas e os grandes contrastes econômicos, quanto o cuidado com a higiene, que faz com que os pilotos usem água mineral até para escovar os dentes, estão na boca de todos ouvidos pelo TotalRace em Nova Déli.
“O país tem muitas coisas diferentes. Tem um lado bem pobre que, para um brasileiro, acho que se voltarmos 30, 20 anos atrás, víamos muita coisa igual. O Brasil melhorou muito e acredito que isso deva acontecer na Índia também. A gente vê muita construção, muito crescimento e isso deve ajudar o país. Acredito que daqui a alguns anos voltaremos aqui e estará diferente. Mas principalmente no trânsito vemos gente andando na contramão... vemos coisas diferentes aqui”, destacou Felipe Massa.
Bruno Senna também observa paralelos com o Brasil, ainda que de maneira distinta. “Parece muito com o Brasil, mas em proporções diferentes na questão de riqueza misturada com pobreza. Estamos em uma área em que há muitas construções ricas, mas quem está andando na rua são pessoas muito pobres. É um contraste ainda mais forte do que no Brasil. Só chegando aqui para ver o quão chocante é a realidade.”
Ainda que a pobreza chame a atenção, o piloto da Renault também destaca o mercado potencial no qual a F-1 está investindo.
“Acho que é importante para a F-1 criar novos mercados e a Índia tem um potencial muito grande. Claro que teremos ver como o GP será em relação ao público e à popularidade da F-1 – aparentemente, a F-1 é popular aqui.”
Outro acostumado a um país com seus problemas sociais, o mexicano Sergio Perez também se disse impressionado com a realidade indiana.
“A pobreza que existe aqui é impressionante. As pessoas trabalham muito para ganhar muito pouco e isso te faz perceber como tem sorte com as facilidades que temos.”
Vacas e elefantes
Além do choque pelo momento de transição pelo qual um dos países que mais cresce no mundo passa, outro ponto que chamou a atenção dos pilotos, a maioria no país desde o final da terça-feira, foi a cultura.
“Tem coisa muito engraçada que você vê na Índia que não existe em outros lugares. O fato das vacas terem o livre arbítrio de andar na rua é algo, tanto cultural, quanto religioso e já percebi pelo twitter que religião e futebol não se comenta. Mas a vaca tem uma coisa tão forte que eles não tocam, elas não têm dono e, quando você está vindo na estrada e tem de desviar de uma vaca foi um ponto que ficou forte. Outro momento legal foi quando escutei o sininho de fora do quarto e quando fui olhar na janela passou um elefante do lado da minha varanda. Isso você não vê em todo lugar”, narra Rubens Barrichello.
Mesmo longe de achar o costume comum, Felipe Massa até aproveitou a adoração às vacas para pedir um empurrãozinho.
“Minha mãe falou para eu ter um pensamento positivo quando visse uma vaca na rua e foi o que eu fiz. Encontrei várias. Na rua a gente tem carro e animal no meio. Até elefante tem na rua. É diferente do que a gente está acostumado.”
Barrichello contou que teve tempo de fazer turismo na última quarta-feira, data religiosa festiva no país.
“Outra coisa que me pareceu muito rigorosa foi a segurança. Ontem fui a um templo em que eles praticamente me deixaram sem nada, sem carteira e sem celular. E também estava esperando por um tráfego horroroso, mas a pista é longe da ‘confusão’ e fomos para aquele lado ontem, que era uma data festiva. Fiquei esperando o tráfego.”
Outro que se surpreendeu positivamente com uma inesperada ‘calmaria’ nas ruas da cidade da capital indiana foi o companheiro de Barrichello, Pastor Maldonado.
“Ainda não peguei trânsito, mas tem muita gente e vi um pouco de desorganização, mas isso vai de cada país, de cada cultura. É um país muito interessante e diferente do que estamos acostumados. Respeito a cultura e é algo novo para conhecer. Só da comida que não gosto muito.”
Água preocupa
Ao menos a culinária local não assusta a todos. Ou pelo menos não a Perez que, como bom mexicano, não vê porque evitar o famoso curry. “A verdade é que gosto muito da comida daqui, não tem problemas. A única questão é a água, que pode estar um pouco contaminada.”
A água é, de fato, a grande questão do final de semana. Para afastar a possibilidade de problemas estomacais, os pilotos estão sendo aconselhados a evitar comidas cruas, pedras de gelo e até qualquer contato com a água das torneiras.
“Estamos tomando cuidado com comida crua e andando com gelzinho no bolso para limpar a mão sempre que cumprimenta alguém porque você não sabe quem ela cumprimentou. É um pouco paranóico, não é algo que eu tenha muito hábito em fazer mas é melhor prevenir”, revela Bruno Senna.
O piloto da Renault não é o único que vê um exagero nas medidas propostas pelas equipes. Rubens Barrichello revelou até uma estranha estratégia recomendada a um piloto o qual não quis identificar.
“Já passei por tantos lugares que não achei que precisasse tomar tanto cuidado, mas me falaram para não escovar o dente com a água da pia e estou usando água mineral. Ontem, não vou falar o nome do piloto, mas vi um de garba elegância andando com um uísque na mão porque falaram para ele bochechar com o tal do uísque depois de acabar de comer.”
Felipe Massa é outro que não vê motivo para tanto alarde, mas resolveu seguir as medidas para não correr o risco de passar mal.
“Estamos aqui para correr, então é melhor escovar o dente com água da garrafinha do que arriscar, mas não acho que tem um perigo, porque parece limpo, normal. Estou fazendo mais porque está todo mundo falando na orelha.”
(colaboraram Luis Fernando Ramos e Felipe Motta, da Índia)
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