Veja a história fascinante da McLaren mais icônica de Senna na F1
Mago do desenho técnico do Motorsport.com, Giorgio Piola destrinha os detalhes do MP4/4
Análise técnica de Giorgio Piola
Análise técnica de Giorgio Piola
Carro da McLaren para a temporada 1988 da Fórmula 1, o MP4/4 continua sendo a máquina de maior sucesso da história da categoria, com um aproveitamento de vitórias de 93,8% em função dos 15 triunfos de Ayrton Senna e Alain Prost em 16 GPs naquele ano.
E a primeira glória do monoposto inglês completa exatos 32 anos nesta sexta-feira: no GP do Brasil de 1988, Prost cruzou a linha de chegada em primeiro para vencer mais uma etapa disputada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Tendo em vista a data ‘comemorativa’ do primeiro momento de brilhantismo de um dos maiores ícones da engenharia na F1, o mago do desenho técnico do Motorsport.com, Giorgio Piola, esmiúça os detalhes do MP4/4.
Em 1988, a McLaren tinha tudo encaixado para vencer, com uma combinação de fatores brilhante que resultou em um dos carros mais dominantes de toda a longa história do esporte a motor.
De todo modo, aquela temporada foi a primeira da parceria entre a equipe britânica e a japonesa Honda, sua nova fornecedora de motores. Antes, o time de Woking era impulsionado pela alemã Porsche.
Apesar do entusiasmo pela nova combinação, a adaptação não foi imediata: a apenas quatro meses da primeira corrida da temporada, o MP4/4 ‘não existia’. E não apenas o carro: também não havia um projeto finalizado.
Steve Nichols, Gordon Murray, Neil Oatley
Photo by: Sutton Images
Tamanha foi a ‘correria’ que até hoje há um debate sobre quem projetou o MP4/4, cujo design teve as importantes participações do projetista Gordon Murray e também do engenheiro John Barnard.
Olhando para a linhagem de carros daquela época, é claro que a McLaren, assim como o resto do grid da F1, já havia adotado o design baixo de Murray e também começou a reclinar seus pilotos no cockpit.
Entretanto, novos regulamentos exigiram que os pés dos pilotos fossem para atrás do eixo dianteiro e forçaram uma redução no tamanho do tanque de combustível, o que fez com que a McLaren se desenvolvesse ainda mais em 1988.
McLaren MP4-2C 1986
Photo by: Giorgio Piola
Além disso, tomou-se a decisão de se afastar da tradição de Barnard de um monocoque ‘em V’ (visto na ilustração acima do MP4/2C de 1986) em prol de um piso plano. Isso não apenas teve benefícios aerodinâmicos, mas também melhorou a rigidez dos carros.
A última peça do monocoque foi a estrutura de encaixe conhecida como ‘banheira’, que compunha toda a região do cockpit e dos painéis laterais. Era para ser composto de uma peça e melhoraria ainda mais a integridade estrutural e a rigidez à torção.
A qualidade da banheira melhorou com o tempo, mas o processo por trás de sua construção sempre a deixava com um ajuste menos desejável e uma cor ligeiramente diferente do resto do monocoque.
Ayrton Senna, McLaren MP4-4 Honda
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
Não sendo liderado por um fator dominante, o MP4/4 não tinha características de destaque no que diz respeito à aerodinâmica do carro, uma singularidade quando consideramos seus equivalentes modernos.
No entanto, o carro apresentou três configurações aerodinâmicas distintas ao longo da temporada, a fim de ter flexibilidade para superar os desafios de um determinado circuito, que veremos na galeria mais adiante.
A equipe de design também literalmente inverteu o script quando se tratava de seu design de sidepod, com a tomada superior do estilo Barnard agora ao lado do carro, como visto no MP4/1C abaixo.
McLaren MP4-1C 1983
Photo by: Giorgio Piola
A chegada de Ayrton Senna da Lotus também foi na época em que a equipe mudou para a Honda, que forneceria o motor turbo de 1,5 litro que estava utilizando e continuaria a fornecer à Lotus.
Com aproximadamente 700 cv, o RA168-E tinha novo design não apenas extremamente poderoso, mas também muito econômico em termos de combustível e, mesmo pelos padrões modernos, incrivelmente confiável.
O RA168-E foi projetado pela Honda com base no desejo da FIA de popularizar os motores turboalimentados e restaurar alguma paridade com seus correspondentes naturalmente aspirados.
As regras de 1988 limitaram a pressão, enquanto o combustível foi reduzido de 195 para 150 litros. Os carros turbo também tinha uma desvantagem de peso de 40 kg sobre os rivais, que podiam transportar 215 litros de combustível.
Para recuperar eventuais perdas, a Honda trabalhou em uma mistura especial de combustível com a Shell e exigiu que o combustível fosse pré-aquecido, com seu conteúdo exótico de hidrocarboneto aromático.
Essa mistura potente da Shell com a Honda ajudou a fornecer uma ampla faixa de torque que tornou o novo carro consideravelmente mais fácil de pilotar e ainda ofereceu uma vantagem sobre os carros rivais.
McLaren MP4-4 Honda de Alain Prost
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
O motor Honda utilizado pela McLaren também apresentava um eixo de manivela baixo e foi emparelhado com uma pequena embreagem que havia sido desenvolvida pela Tilton em 1987 para a Lotus.
A embreagem de carbono Tilton dava um gerenciamento de calor superior, envolvimento mais suave, baixa inércia e alta capacidade de torque que ajudaram a McLaren a lidar com as demandas do motor.
O design da caixa de câmbio prestou especial atenção ao sistema de óleo, que usava cárter seco para melhorar o controle de temperatura, a confiabilidade, reduzir o vento e tolerar as enormes forças-g exercidas no carro.
McLaren MP4-4 1988
Photo by: Giorgio Piola
O MP4/4 é, sem dúvida, uma máquina que define a época e um dos carros mais 'bem-arredondados' que já agraciou o esporte. Dominando todos os que se atreviam a se opor, deu um ponto de partida para a primeira incursão esportiva em máquinas turboalimentadas.
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