Fórmula 1 GP de San Marino

VÍDEO F1 | 29 anos de Ímola-1994: Luis Roberto, o relato emocionante da morte de Senna e o convite para ver o corpo de Ayrton

Jornalista relembra convite para ver o corpo do piloto, além da conversa com o tricampeão da F1 antes do acidente na curva Tamburello, que completa 29 anos

Luis Roberto foi um dos jornalistas envolvidos na cobertura do GP de San Marino de 1994, que marcou a morte de Ayrton Senna há exatos 29 anos. Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, o comunicador falou de forma emocionante sobre a tragédia na Fórmula 1.

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Na época, o narrador trabalhava no Grupo Globo de Rádio e acumulava a função de repórter na F1, tendo contato direto com pilotos. Ele relembrou momentos importantes daquela cobertura, como as conversas com Senna e bastidores da tragédia em Ímola, incluindo um convite para ver o corpo. 

"O impacto é enorme, especialmente do ponto de vista jornalística, né... É um aprendizado, na prática, sem precedentes. Sem precedentes... Certamente que também é um aprendizado de vida. Para um 'moleque', que estava ali no início de carreira. Eu sempre fui meio 'pé no chão', mas você se deparar com um fim de semana que 'vitimou' Rubinho [Barrichello, que estava na Jordan e sofreu forte acidente no treino livre para a corrida] gravemente na sexta-feira..."."

"O Rubinho inclusive não participou da corrida. É uma corrida que o Rubinho conta, mas não larga. Mas a gente estava em Ímola e serve como lição. O maior ídolo do esporte brasileiro àquela altura [Senna] morre trabalhando. E no sábado morre o [Roland] Ratzenberger. Eu me lembro da batida do Ratzenberger. Ele bate, ricocheteia e gira. E ele [Ratzenberger] já está com a cabeça tombada e você via na lateral o joelho do piloto."

"Arranca a lateral do carro e eu falei: 'Não é possível, o cara morreu'. Desde o Riccardo Paletti no Canadá [em 1982] que não tinha morte na F1. A gente estava meio desabituado com isso. E aí no domingo [...] está todo mundo meio que com a emoção à flor da pele com aqueles dois acidentes graves na memória. Acaba o briefing (reunião pré-corrida) e a gente acompanha o Senna. Ele entra no box da Williams e bota as duas mãos sobre as asas do carro."

GALERIA: Relembre todos os carros da carreira de Ayrton Senna na Fórmula 1

1984: Toleman TG183B
Foi seu primeiro carro na Fórmula 1, apesar de Senna ter usado o monoposto apenas nas primeiras quatro corridas daquela temporada 1984, somando dois sextos lugares na África do Sul e na Bélgica.
1984: Toleman TG184
Foi com o novo carro da Toleman que o brasileiro conseguiu o famoso pódio na corrida chuvosa em Mônaco. Além disso, conquistou mais dois terceiros lugares, na Grã-Bretanha e em Portugal.
1985: Lotus 97T
A Lotus carregava um motor Renault. Com o monoposto, ele conseguiu uma vitória já em sua segunda corrida, em Portugal, antes de cair em uma sequência de sete provas consecutivas sem pódios. Voltou ao top-3 na Áustria com o segundo lugar, iniciando uma série de cinco pódios, incluindo uma vitória na Bélgica.
1986: Lotus 98T
Em sua segunda temporada com a Lotus, a equipe usou novamente o motor Renault V6. Os resultados chegaram: seis pódios, incluindo vitórias de Espanha e Detroit, nas oito primeiras corridas. No final, Senna somou 11 pódios para terminar em quarto entre pilotos.
1987: Lotus 99T
Com o Lotus 99T, já com motor Honda, o piloto ficou em terceiro lugar no campeonato de pilotos. Durante o ano, ele somou duas vitórias, quatro segundos lugares e dois terceiros. Essa foi a melhor posição de qualificação até então para o brasileiro.
1988: McLaren MP4/4
Em seu primeiro ano com a McLaren, seu carro foi o MP4/4, com motor Honda. Já em sua segunda corrida, Senna venceu o GP de San Marino. Depois de abandonar em Mônaco, obteve um segundo lugar no México, iniciando série de oito pódios consecutivos, incluindo seis vitórias. No GP do Japão, ele subiu novamente ao topo do pódio e conquistou seu primeiro campeonato na F1.
1989: McLaren MP4/5
Em sua segunda temporada com a McLaren, Senna guiou o MP4/5, impulsionado pela Honda. Foi o ano da intensificação da rivalidade com Alain Prost. No decorrer da temporada, ele somou seis vitórias e um segundo lugar na Hungria.
1990: McLaren MP4/5B
A terceira temporada de Senna pela McLaren marcou a saída de Alain Prost para a Ferrari, o que fez com que os números dos carros britânicos fossem alterados. O francês levou consigo o projetista Steve Nichols. Por isso, a McLaren fez alterações no seu carro do ano anterior, com novidades no corpo e na asa traseira. Deu certo: ganhou o Mundial de Construtores e Senna reconquistou o título.
1991: McLaren MP4/6
O MP4/6 impulsionado por um Honda V12 foi o último carro com o qual Senna brigou frequentemente por vitórias na McLaren. O início da temporada deu-lhe quatro vitórias. Depois, dois terceiros lugares, no México e na França. Os triunfos na Hungria, Bélgica e Austrália, com os segundos lugares de Itália, Portugal e Japão, deram a ele seu terceiro e último título mundial na Fórmula 1.
1992: McLaren MP4/7
A McLaren começou a temporada com uma atualização do chassi de 1991 na África do Sul e no México, onde Senna conseguiu o terceiro lugar. No Brasil, veio o novo carro MP4/7, para as restantes 14 datas do campeonato. Senna ainda ganhou três GPs (Mônaco, Hungria e Itália) e três pódios (San Marino, Alemanha e Portugal), terminando em quarto no campeonato vencido por Nigel Mansell.
1993: McLaren MP4/8
Com o novo motor Ford, Senna começou sua última temporada com a McLaren ao volante do MP4/8. O início da temporada permitiu-lhe três vitórias e dois pódios nas primeiras seis corridas de 1993. No fim do ano, ainda venceu no Japão e na Austrália.
1994: Williams FW16
Em seu desejo de vencer seu quarto campeonato mundial, Ayrton Senna mudou para a Williams em 1994. Entretanto, perdeu a suspensao eletrônica de seu antecessor em virtude das novas regras da F1 e ficou desvantagem. Em seu terceiro GP com o FW16, Senna faleceu após forte batida na curva Tamburello, em Imola.
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"E ele deu uma declaração para a gente ali, falando que tinha sido recriada a GPDA (Associação dos Pilotos de GPs da F1, órgão de representação dos competidores da categoria máxima do automobilismo do mundial). É a última imagem que eu tenho do Ayrton Senna vivo. Dali a gente vai para a cabine de transmissão e na verdade eu não vejo mais o Senna. Eu vejo o Senna com o corpo coberto quando o corpo saiu do hospital Maggiore."

"E eu estava com um celular com roaming internacional, que era uma novidade. Então entrevistei o Rubinho de dentro da UTI e entrevistei o Senna saindo do hospital da pista depois da batida de Rubinho. E os colegas davam preferência porque eu estava ao vivo. Na hora que anunciam que o Ayrton Senna morreu eu sou o único ao vivo, por sorte. Anunciaram a morte e eu fiz 'um vivo' grande de repercussão e tal. Depois fui tentar me entender com a situação."

"'O Senna morreu, meu deus, o que que eu faço aqui? O que que eu tenho que fazer? Ou quem que eu tenho que entrevistar?' E aí chegou um diplomata e ele disse: 'O corpo vai ter que ir para o Instituto Médico Legal (IML), que fica perto daqui, por uma questão da legislação italiana. Mas o corpo neste momento está lá no 12º andar, onde fica a UTI'. E aí nós subimos e eu faço uma entrevista com o Galvão Bueno."

"Eu vou para um 'orelhão' e entrevisto o Galvão Bueno ao vivo na Rádio Globo de São Paulo. Eu faço algumas entrevistas para o Galvão e ele me diz: 'Nesse fim de semana, especialmente depois dos acidentes de sexta e sábado, o Ayrton entendeu que ele estava muito grande. Ele parece que entendeu que ele é o grande desse circo. Que ele precisa ter liderança, então é inacreditável que isso tenha acontecido'."

GALERIA: Veja imagens dos acidentes de Senna, Ratzenberger e Rubinho em Ímola

Ayrton Senna, Williams, Rubens Barrichello, Jordan
Ayrton Senna e Niki Lauda
Ayrton Senna, Williams, Michael Schumacher, Benetton
Ayrton Senna, Williams FW16
Ayrton Senna, Williams FW16
Ayrton Senna, Williams
Ayrton Senna, Williams
Muro da curva Tamburello
Homenagens a Ayrton Senna na Tamburello
Roland Ratzenberger, Simtek
Roland Ratzenberger, Simtek
Roland Ratzenberger, Simtek
Rubens Barrichello, Jordan
Rubens Barrichello, Jordan
Rubens Barrichello, Jordan
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"O Senna tinha mudado o patamar dele. Ele tinha deixado de ser só um campeão para ser um gigante da história do esporte como liderança. E aí entro na Rádio Globo do Rio e me falam: 'Neste momento, o Maracanã [que recebia o clássico entre Vasco e Flamengo] inteiro grita Senna'. Do outro lado, eu quase desabei, porque eu só fui desabar mais para frente", revelou o emocionado Luis Roberto.

"Quando termino a entrevista com Galvão para a Rádio Globo do Rio, neste momento o corpo do Senna está sendo tirado da UTI na maca, coberto por um lençol. Tinha uma mancha de sangue na altura do nariz. Aí a gente foi para a porta do IML. Ali, muita gente... Torcida, buquês de flores, coroa, japoneses, inglês, chinês, gente de tudo quanto é canto do mundo. E quando foi umas 5 da manhã, o portal lateral se abriu, porque iria ter a troca de plantão."

"Entrou um carro e a gente entrou... Jornalista, a gente entrou... Quando abriu a porta lá do fundo do IML saiu uma senhora. E ela pergunta: 'Vocês querem olhar [para o corpo de Senna]?'. E a gente olhou um para a cara do outro e: 'Não'. Tem uns colegas jornalistas que acham que 'tinha que ter ido ver'. Não! Ela falou: 'Tem um ferimento no rosto e a cabeça está inchada. E ao lado está o corpo do Roland Ratzenberger'. É muito forte...".

Um dia voltei da rua e aí tinha um guardanapo escrito: 'Voo Varig Paris-Brasil tal dia e tal hora'. Era o Galvão, ele tinha deixado no meu escaninho a informação de qual seria o voo. Consegui um lugar no voo. A gente viu o caixão embarcado numa aeronave pequena em Bolonha. Em Paris, acompanhamos o traslado, a gente sabia que a urna seria embarcada. A Varig tirou a classe executiva e fixou o caixão na classe executiva, com uma lona e uma rosa."

"Ao lado do caixão estavam o Galvão, o irmão do Ayrton... No meio da madrugada, o Galvão nos chamou para a gente fazer uma despedida. Fizemos, cada um com sua fé, uma reza. Aí quando chegamos em São Paulo, a gente ficou no ônibus esperando o desembarque [do caixão]."

"Já também, com honras de herói. E foi a última vez que eu tive o corpo do Ayrton Senna por perto e depois não fui ao enterro, fiquei muito mal. Cheguei em casa e desabei. Não conseguia fazer mais nada, só chorava, processando o que tinha acontecido", completou Luis.

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