VÍDEO: Nasr abre o jogo sobre histórias de Piquet, BMW, GP2 e F1
Com experiências em F1, Fórmula E e IndyCar, piloto brasileiro tem histórias incríveis no automobilismo
Penúltimo piloto brasileiro a passar pela Fórmula 1, Felipe Nasr correu pela Sauber em 2015 e 2016 e impressionou em sua primeira temporada na elite do esporte a motor, gerando interesse de equipes maiores como Williams e Force India.
O brasiliense acabou deixando a categoria máxima do automobilismo, mas reconstruiu a carreira com grande sucesso e foi campeão do IMSA, campeonato norte-americano de endurance do qual Nasr é um dos maiores destaques.
Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com via live de Instagram, o competidor do Brasil falou sobre a passagem pela F1 e também mencionou outros 'causos' curiosos sobre diversos temas, desde o kart até o período na GP2.
Além disso, Nasr também falou sobre a relação com Nelson Piquet, tricampeão da F1 e lendário piloto brasileiro com quem Felipe conviveu em Brasília. Essas e outras histórias imperdíveis você confere no vídeo abaixo:
A temporada 2015 da F1
"Esse começo na F1 eu não poderia ter imaginado melhor. O ano de 2015 foi um ano produtivo, porque o carro, até então, tinha recursos para se desenvolver. A equipe ainda estava sadia, ainda tinha uma estabilidade financeira, só que isso acabou rápido. Já no meio do ano de 2015 para o final, a equipe quase que entrou em falência. Depois de eu ter pontuado... Pontuei na corrida da China, Mônaco, Singapura, Estados Unidos. Para você ter uma ideia, fiz 27 pontos."
"Terminei o ano em 13º, que foi a mesma posição que o [Charles] Leclerc terminou seu primeiro ano de F1 (em 2018, com Alfa Romeo-Sauber). Estou fazendo a comparação só para vocês entenderem que foi um primeiro ano de estreia muito bom. Mas a Sauber, do meio do ano para o final de 2015, ela praticamente não tinha mais investimentos para se manter na F1 e eles estavam procurando parceiros, alguém que comprasse, algum investidor que entrasse na equipe."
O patrocinador do adversário
"Foi quando esse grupo sueco, que é o grupo que cuida da carreira do meu ex-companheiro de equipe, o Marcus Ericsson, eles entraram como investidores da equipe Sauber, e aí o negócio mudou. Eles que estavam tomando conta da equipe, toda a parte de desenvolvimento, contratação de pessoas, enfim, eles tomaram conta da equipe. E foi aí que veio o lado difícil da F1. Acho que ficou claro quem que eles queriam que andasse bem nessa equipe."
"Foi o que aconteceu no ano de 2016. Eu lembro que muita gente boa saiu da equipe. Até por essa incerteza, muita gente fez essa mudança antes de 2016. E a equipe ficou defasada. Realmente, a gente estava só sobrevivendo ali para andar de F1. A equipe não tinha condições, eram os piores carros do grid naquele ano de 2016 e eu lembro que só fui ter o carro atualizado, o primeiro chassi de 2016, na quarta ou quinta corrida de F1 daquele ano", seguiu o brasiliense, vice do IMSA em 2019. Ele também disputará provas da Indy em 2020 e é cotado na NASCAR.
"E o Ericsson já estava correndo com carro novo, com pacote da Ferrari novo, etc. E assim foi durante o ano. Não tinha freio suficiente para os dois carros, não tinha aquecedor de pneus suficientes para os dois carros, uma bagunça. Como piloto, aquilo foi um desafio de outro mundo, psicologicamente. Eu sabia que, na primeira oportunidade que eu tivesse, eu teria que agarrá-la porque talvez aconteceria só uma vez no ano."
Não deu para arranjar outra equipe para 2016?
"Não dava, porque o contrato que eu fechei com a Sauber era de dois anos e o mercado também estava travado. Tinha muitos pilotos que só terminariam o contrato no final de 2016. Teve oferta, teve procura, mas não tinha o que a gente fazer. No momento, tinha que aceitar a situação e encarar o ano de 2016. [Procura] na época da própria Williams, da Renault e da Force India", afirmou Nasr.
"Para mim, pessoalmente, e para o lado da minha equipe, o negócio ficou tão dividido que o lado do meu carro queria de qualquer maneira ir atrás de algum resultado e fugir desse lado político, que estava rolando ali dentro da Sauber. Foi o que a gente fez, a gente focou no nosso: 'Vamos trabalhar, vamos nos dedicar o máximo possível, alguma condição adversa pode acontecer e a gente tem que atualizar isso'."
"Acho que no GP da Hungria de 2016, eu liderei o Q1 (primeira parte da classificação) na chuva. Então falei: 'Na chuva, não é só o carro, mas eu gosto dessas condições'. Então liderei um Q1, o que foi incrível, com a Sauber, que era o pior carro da F1. Esses momentos são gratificantes."
A redenção de Nasr no GP do Brasil de 2016, nas palavras do piloto
"Acho que foi uma das provas mais difíceis que eu já fiz até hoje, pelas condições. Estava extremamente difícil, eu não enxergava um palmo à frente. Os dois carros classificaram em último. A gente ali com o carro completamente defasado, a gente não tinha performance nenhuma no carro. E aconteceu o que eu queria: choveu no domingo, dia da prova, aí eu falei: 'Cara, agora eu me garanto'. Então eu estava muito concentrado naquele dia."
"Eu tinha canalizado todas as minhas energias e eu sabia que, numa oportunidade que eu tivesse, eu não ia deixar passar. E eu vim trabalhando isso o ano inteiro. Apesar das frustrações, não perdi meu foco e falava: 'Pelo menos uma oportunidade eu vou ter que ter'. E apareceu. Eu lembro que, já na primeira volta, aquela chuva louca, você não enxergava nada, eu passei acho que uns cinco ou seis carros. Já na primeira volta."
"Você não tem ideia do que é guiar um carro de F1 debaixo de chuva a 300km/h. Naquela subida da curva do Café, muita gente bateu e rodou. Estava difícil para caramba, mas eu lembro que era um risco controlado. Eu estava muito consciente de tudo que eu estava fazendo. Lembro da equipe 'barulhando' no meu ouvido e tentando montar uma estratégia para a prova", relata Nasr, que foi um dos destaques daquela corrida em São Paulo.
"Eles falavam: 'Ah, vamos parar nessa volta e colocar pneus intermediários'. Eu falei: 'Cara, não vou parar nessa volta. O carro não tem condições de botar pneu intermediário debaixo de chuva'. E em Interlagos é aquela coisa: uma hora está chovendo e uma hora não está. Falei: 'Cara, eu vou me garantir, não vou pelo feeling de ninguém, vou pelo meu'. E foi o que aconteceu. A prova acho que teve duas interrupções e é proibido você fazer qualquer ajuste no carro."
"Acho que foi o único carro com que eu fiz a corrida inteira com o mesmo jogo de pneus do início. E chega um momento em que o pneu está desgastado, já não consegue atingir uma temperatura e foi ficando difícil para caramba. Muito difícil."
"Muitos carros foram parando para colocar outros jogos de pneu. Foi quando eu pulei para sexto na corrida e eu falei: 'Cara, faltando agora 30 minutos para acabar a prova, eu só preciso me garantir, não preciso errar. O que eu preciso fazer é dificultar para os outros carros, porque uma hora eles vão passar'. Não tem jeito de você competir com uma Ferrari, uma Red Bull. É impossível, os carros tinham uma diferença muito grande de performance."
"Eu estava muito presente naquele momento. Realmente, eu acho que é uma das provas em que eu estava mais concentrado e mais capitalizei nessa energia que falei. Dediquei anos da minha carreira e anos de experiência na pista, e aquele momento, para mim, era tudo. Então, quando cruzei a linha de chegada, com aquele nono lugar... Eu falo que tem o mesmo sabor de uma vitória, porque ninguém sabe tudo que aconteceu ali dentro da equipe."
"Esse lado político, essa frustração... Poxa, eu via na cara do pessoal, nos funcionários, nos mecânicos, ninguém com esperança nenhuma. Com aquele resultado, até quem queria esconder, não conseguiu esconder essa emoção. Quando cruzei a linha de chegada, virou festa. Para mim, como piloto, tenho uma gratidão enorme, um sentimento muito bom daquela prova. Segurei carros melhores, enfim, fiz tudo que tinha que fazer."
"Aqueles dois pontos renderam uma bonificação enorme para a equipe. Não só na pontuação, mas em dinheiro, em torno de 40 milhões. Porque a gente conseguiu passar a Manor no campeonato, então tem a premiação da F1. Mas, ao mesmo tempo, a F1 não é justiça para ninguém. É um meio em que as pessoas não entendem por que que um carro é melhor que o outro, por que que um piloto está andando melhor do que o outro... Tem vários fatores por trás disso."
"Só quem convive, só quem está lá dentro, entende como são essas coisas. E eu lembro muito bem: foi uma comemoração fantástica. Minha família estava lá para compartilhar esse momento em casa. Lembro que recebi um carinho enorme da torcida brasileira e de fãs. Todo mundo que acompanhou aquela corrida sabe o valor que teve, sabe o quanto foi importante aquele resultado. Todo mundo vibrou junto, achei isso legal para caramba."
A reação da cúpula da Sauber
"O rádio... É uma recordação incrível, incrível mesmo, não tenho como descrever melhor. Lembro que cheguei para conversar com a Monisha Kaltenborn (chefe da Sauber) e o sueco que comandava a equipe, e eles foram frios para caramba: 'Para a gente, não mudou nada, poderia ter sido você ou o Ericsson'. Desse jeito. Naquele dia, eu falei: 'Cara, isso aqui é um esporte de nojento, estou na mão de um cara que não quer que eu vá para frente'."
"Tudo que a Sauber queria fazer naquele ano era que eles valorizassem o passe do Ericsson e me 'rebaixassem' para eu não ter oportunidades. Mas até hoje eu tenho um carinho gigante pelo pessoal da Ferrari que forneceram os motores daquele ano e pelo pessoal que cuidava dos câmbios. Eu sei quem realmente estava do meu lado e quem estava 'cagando' para essa história", contou o piloto brasileiro.
Não tinha como seguir na F1 em 2017?
"Não foi pelo fator ano (de 2016). Quem estava ali dentro entende realmente o que vinha acontecendo, as condições da equipe, enfim. E poxa, toda vez que eu tive uma oportunidade, eu mostrei o resultado. E é isso que fica na F1. E surgiram ofertas. Naquele ano, mesmo com essa dificuldade toda, teve algumas equipes que me procuraram, entramos na parte de negociação, só que a F1 mudou muito. Não basta você 'só' ser talentoso."
"Eu lembro que o Brasil estava passando por um momento economicamente muito ruim no ano de 2016 e veio o impeachment [de Dilma Rousseff]. E eu, como estava com o patrocínio de uma estatal (Banco do Brasil), aquilo acabou 'melando'. E eu fiquei na mão nessas negociações. E também com essa notícia tardia da Sauber, da minha saída... Porque ali ainda existia uma renegociação com a Sauber."
"Na F1, você tem pessoas de duas caras. E a Monisha, naquele ano, foi quem mais mostrou isso. Ela, que era sócia da equipe em 2015, passou a ser uma funcionária do sueco em 2016. O tratamento era completamente diferente. E eu vi que ela queria salvar a ponta dela. E acabou dançando depois. Nem quero saber dessa maluca... Na verdade, quando eu deixei a F1, eu falei: 'Quer saber? Eu não preciso fazer nada de imediato'."
"Senti a necessidade de analisar o mercado e eu mesmo, pessoalmente, falei: 'Cara, quer saber? Preciso de um tempo para mim. Esquece o Felipe profissional agora e deixa o Felipe que gosta de pescar, de estar com a família...'.
"Eu precisava desse tempo para realmente repensar esses valores e essas vontades. Com quem eu me identificava. 'O que o Felipe quer ser?', né... Então tomei esse tempo justamente para analisar tudo isso. Tanto que não pisei num carro de corrida por seis meses em 2017."
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