Líder da F2, Drugovich quer levar o Brasil de volta ao grid da F1, mas destaca desafios
Após final de semana "perfeito" em Jeddah, brasileiro quer usar consistência aprendida no ano com a Virtuosi para lutar pelo título
Após "um dos anos mais difíceis da minha carreira" em 2021, Felipe Drugovich tinha dúvidas se voltaria à Fórmula 2 em 2022. Mas com um fim de semana caótico mas "perfeito" na Arábia Saudita, ele agora lidera o campeonato em seu terceiro ano no grid. O brasileiro explica como ele melhorou após uma temporada difícil e compartilha seu sonho de encerrar o jejum do país na Fórmula 1.
Uma temporada desapontadora com a Virtuosi Racing o deixou em oitavo no campeonato, com quatro pódios mas nenhuma vitória, enquanto seu companheiro de equipe, Zhou Guanyu, lutou pelo título com quatro vitórias a caminho de conseguir a vaga na F1 com a Alfa Romeo. Nos bastidores, as coisas não eram tão perfeitas, com Drugovich notando que "nada se encaixava de fato" apesar de reconhecer que a Virtuosi é "uma equipe muito boa".
Ele parecia a caminho de outras categorias em 2022, mas mudou de ideia após uma chamada da MP Motorsport, a equipe pela qual estreou na F2 em 2020. Com três vitórias naquele ano, Drugo disse que a MP "realmente me queria na equipe, inclusive me ajudando financeiramente, o que seria muito importante, então fechamos o acordo".
Agora, após duas rodadas, Drugovich lidera o campeonato da F2, algo que ele admite que não esperava. Apesar de não ter gostado da abertura no Bahrein, quando foi sexto e quinto nas corridas, ele teve uma sequência fantástica no complicado circuito saudita. Ele fez a pole na sexta, foi terceiro no sábado após Jake Hughes perder o pódio por problemas técnicos, além de vencer de ponta a ponta no domingo.
"O fim de semana foi praticamente perfeito para mim", disse Drugovich ao Motorsport.com. "Terminamos em primeiro no treino livre e fiz o a pole position em uma classificação caótica. Depois larguei em décimo, terminei em quarto e acabei em terceiro na corrida de sábado com a penalização ao cara da frente [Hughes]. E no domingo larguei na pole e desapareci".
"Então foi muito legal, acho que o carro estava perfeito no fim de semana. A equipe foi fantástica, então estou muito feliz. E para coroar estamos liderando o campeonato, o que é incrível".
Drugovich teve a etapa dos sonhos na Arábia e agora lidera a F2
Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images
Poderia ter sido uma imagem muito diferente em Jeddah, já que na classificação Drugovich estava apenas em 13º a apenas cinco muitos do fim da regressiva. Mas uma tentativa no último minuto - "provavelmente a melhor volta da minha vida" - enquanto outros haviam ficado sem combustível devido à terceira interrupção da sessão, o colocou na ponta com mais de 0s2 de vantagem.
Isso o levou a uma vitória dominante na corrida do domingo, resistindo ao ataque de Richard Verschoor na largada antes de abrir uma diferença para além do uso do DRS no começo da prova. Tendo largado com pneus macios, um pitstop tranquilo na volta nove para colocar os compostos médios da Pirelli o colocou novamente na pista ainda na liderança virtual.
Apesar do holandês ter dado a impressão de estar reduzindo a difereça no final, Drugovich se manteve na frente para vencer pela quarta vez no campeonato, a primeira desde 2020.
Apesar de ter o apoio total da MP, tanto financeiramente quanto na pista, Drugovich é um dos poucos pilotos de ponta da categoria sem ligação a uma equipe de Fórmula 1
Apesar de um 2021 difícil, Drugovich disse que ainda assim "aprendeu muito, certamente", e destaca os benefícios em consistência saídos disso.
"Foi um dos anos mais difíceis da minha carreira mas, para ser justo, é quando você acaba aprendendo mais. Eu realmente aprendi muito, especialmente como ser consistente, porque eu sabia que não tinha o melhor ritmo ou não era o mais rápido, mas sempre tentei vencer todas as corridas".
"Em alguns momentos fui além do limite e arriscava demais. Acho que pelo menos nessas duas primeiras rodadas já botei isso a prova buscando pontos, sendo consistente e tentando pontuar em todas as corridas".
Voltar à MP, de Sander Dorsman, está se provando ser a manobra que ele esperava, voltando a um time que ele "realmente ama" e que anteriormente já o havia ajudado a retomar a forma vencedora após um ano difícil - seu decepcionante 2019 na Fórmula 3 com a Carlin.
Tendo vencido com facilidade o título da Euformula Open de 2018 com a RP Motorsport, conquistando 14 vitórias e 16 pódios que o colocaram 129 pontos à frente do vice-campeão Bent Viscaal, Drugo esperava que o passo para a F3 seria fundamental em uma carreira que já o havia colocado em terceiro atrás dos rivais da F2 Jüri Vips e Marcus Armstrong na ADAC F4 em 2017.
Mas não foi nada como o esperado. Carlin entrou em 2019, o primeiro do novo campeonato surgido da fusão entre a GP3 e a F3 Europeia, como uma das equipes de ponta na primeira categoria, com o título de Lando Norris em 2017.
Mas a equipe sofreu na F3, terminando em penúltimo no ano de estreia de Drugovich com apenas 14 pontos, sendo oito deles do brasileiro, conquistados na Hungria.
A primeira passagem de Drugovich pela MP também veio após uma temporada difícil na F3 com a Carlin em 2019
Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images
Sua sexta posição foi uma de apenas duas vezes que Drugovich conseguiu no ano todo ao lado de Logan Sargeant e Teppei Natori, sendo o melhor do trio no final do campeonato, mas apenas na 16ª posição. Refletindo sobre 2019, Drugovich disse que aquela temporada foi "terrível para mim".
"Obviamente, vindo de um ano incrível na Euroformula para a F3, eu pensei que pelo menos poderíamos lutar por isso. Toda a equipe foi um desastre naquele ano".
"Não conseguimos fazer com que nada funcionasse. Não estávamos nem perto dos carros mais rápidos, então foi um desastre. Mas, no fim, é quando você mais aprende, e eu aprendi muito ali também, como tratar a equipe e como tentar levá-los adiante, trazendo força".
"Diria que isso foi o mais importante a ser tirado daquele ano, porque os resultados, não diria que foi algo bom. Estava no fundo do tempo todo e sabia que meu lugar não era ali".
Apesar das preocupações de 2019, a MP Motorsport arriscou com o brasileiro, que tinha 19 anos na época, contratando-o para 2020. Drugovich disse que "sabia que tinha potencial para estar na F2" e apesar de pensar que "o passo mais lógico seria mais um ano na F3", ele aproveitou a chance de evoluir quando a chamada veio antes dos testes.
Apesar de ter todo o apoio da MP, financeiramente e além, Drugovich é um dos poucos pilotos de ponta do grid da F2 sem ligação com uma equipe de F1.
Vips, Liam Lawson, Jehan Daruvala, Dennis Hauger e Ayumu Iwasa são da Red Bull. Théo Pourchaire é da Academia da Sauber, enquanto Alpine, Williams e Mercedes são representados, respectivamente, por Jack Doohan, Sargeant e Frederik Vesti.
Drugovich não tem a vantagem que isso traz, algo que atribui a uma falta de oportunidades mais do que escolha. Ele diz que isso o dá mais vontade de se provar, mas defende que a motivação "não deve vir de coisas externas, deve ter origem apenas em si".
"Claro, ajuda quando você está em uma posição de ter uma academia te apoiando mas, do outro lado, na verdade me dá mais gana de me provar. Não acho que é muito bom estar fora como estou agora".
Drugovich enfrenta vários pilotos com apoio de equipes da F1 sem ter qualquer ligação do tipo
Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images
Em vez disso, a principal rede de apoio de Drugovich é sua família, um grupo de fãs ávidos do esporte de Maringá, no interior do Paraná. Seu outro apoiador chave é Amir Nasr, tio do ex-F1 e atual piloto de fábrica da Porsche Felipe, que é dono da equipe vencedora na F3 Sudamericana.
"Meu tio e o tio de Felipe são amigos há muito, muito tempo. Ele teve uma equipe vencedora na F3 Sudamericana e meu tio o ajudou, sendo amigos desde então. Meu tio também apoiou Felipe um pouco no começo de sua carreira e agora seu tio me ajuda. É meio que uma troca de favores".
Com uma histórica riquíssima no automobilismo, produzindo alguns dos maiores nomes da história da F1, incluindo Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi, é meio surpreendente ver que nenhum brasileiro faz parte do grid desde a aposentadoria de Felipe Massa em 2017.
A temporada de 2018 foi a primeira sem um piloto brasileiro desde 1969 e enquanto Pietro Fittipaldi substituiu Romain Grosjean nas duas corridas finais de 2020, o neto de Emerson não assumiu a vaga de forma titular.
"Se você pensar no investimento necessário para colocar um piloto na F1, hoje em dia, mais focado na Europa, eu diria que no Brasil falamos de cinco, seis vezes mais" - Felipe Drugovich
Drugovich acredita que isso se deve aos crescentes custos do esporte, combinado ao câmbio ruim entre o real brasileiro e o euro e a libra, o que torna mais atrativo para os pilotos correrem na Stock Car.
"A situação no Brasil não é muito boa financeiramente, e a maioria das pessoas, acredito, especialmente com a conversão atual, não ajuda com a situação atual".
"Se você pensar no investimento necessário para colocar um piloto na F1 hoje em dia, mais focado na Europa, para o Brasil acaba custando cinco ou seis vezes mais, então é muito difícil encontrar uma companhia que tem o dinheiro e o interesse em investir. Acho que isso é o mais difícil, e isso se traduz na falta de pilotos na F2 e F3".
Se Drugovich conseguir manter o rápido ritmo e consistência mostrado até agora e vencer o campeonato, talvez isso force as equipes a olharem para ele de modo que ainda não fizeram. E com pouquíssimos pilotos chegando até o caminho europeu para a F1, Drugovich pode ser a melhor esperança do país de ter novamente um piloto no grid após uma seca de cinco anos.
Drugovich pode ser a próxima estrela brasileira na F1?
Photo by: Carl Bingham / Motorsport Images
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