Análise: decisão da Mercedes choca, mas F-E é passo lógico
Montadoras alemãs seguem tendência de apostar no desenvolvimento de tecnologia, o que, consequentemente, pode afastar Audi e BMW da F1
O mundo do automobilismo foi pego de surpresa nesta semana com um anúncio da Mercedes. A montadora alemã revelou que deixará o DTM após o fim da temporada de 2018 para passar a concentrar seus esforços na Fórmula E, onde competirá a partir da campanha de 2019/2020.
Assim, mais uma vez uma categoria de ponta do automobilismo mundial irá comportar estruturas oficiais de três grandes fabricantes da Alemanha, já que Audi e BMW também terão suas próprias equipes no certame de veículos elétricos.
Por mais que a Mercedes já tivesse mostrado interesse na Fórmula E anteriormente, os planos ainda assim se mostraram chocantes.
“O anúncio veio do nada e pegou todos de surpresa – DTM, fabricantes, imprensa e fãs. A Mercedes é a marca com mais história e sucesso no DTM. Se eles decidiram por sair, isso significa muito e ameaça a existência do DTM no futuro”, explica Stefan Ehlen, diretor de conteúdo do Motorsport.com Alemanha.
“Sim, eles tinham a Fórmula E no horizonte, mas nunca passou pela cabeça de ninguém que eles poderiam diminuir o investimento no DTM. Tenho certeza de que esse plano só veio à tona recentemente.”
Apesar disso, Ehlen considera que a presença do trio de fabricantes alemãs na Fórmula E expressa uma tendência lógica do ponto de vista mercadológico.
“Temos visto Audi, BMW e Mercedes lutando entre si no DTM há anos. Elas se consideram marcas premium e querem competir contra outras marcas que também são. Como Audi e BMW já haviam se comprometido com a Fórmula E, segui-las era um passo lógico para a Mercedes”, observou.
“A tendência é clara: as montadoras precisam estar na Fórmula E para mostrar que elas estão dando seu melhor para alcançar um futuro sustentável. Foi uma decisão guiada pelo marketing, mesmo que a Fórmula E tenha uma base de fãs na Alemanha muito menor do que o DTM, por exemplo. Mas, nesse caso, não se trata da imagem da empresa na Alemanha, mas sim uma ideia global de se engajar em tecnologias do futuro.”
As diferenças estratégicas (e a F1 com remotas possibilidades)
Por mais que as três fabricantes estejam mais uma vez concentradas em projetos em uma mesma categoria, Ehlen aponta que cada uma delas possui uma visão diferente para a competição – de modo que a Mercedes deverá se manter como a única a investir na F1.
“Para a Mercedes, a nova mensagem é: eles estão fazendo F1 porque é a melhor e mais importante categoria do automobilismo mundial, e eles farão a Fórmula E porque é a que irá determinar a tendência tecnológica para o futuro”, justifica.
“Mas para Audi e BMW também houve uma mudança daquele automobilismo tradicional. Elas também estão cada vez mais focadas em tecnologias para o futuro. Elas já haviam expressado isso antes da mudança da Mercedes.”
“Dessas três marcas, a Audi provavelmente é a que mais se concentra em corridas com carros de rua, com GT3, GT4 e TCR. BMW e Mercedes ‘só’ possuem GT3 e GT4, mas sem carros que são propriamente de turismo. Depois de sair do WEC, a Audi precisava de um outro grande projeto e ela encontrou isso na Fórmula E.”
“Para a BMW, o DTM ainda era seu projeto principal até que se comprometeu com o WEC para 2018. Com a Fórmula E, ela terá três projetos grandes. Mas tudo depende se Audi e BMW ficarão no DTM após 2018 – se é que existirá DTM após 2018.”
Contudo, como a própria fala de Ehlen indica, é improvável que uma outra montadora pense em iniciar um projeto na F1.
“É difícil. O escândalo do dieselgate na Alemanha fez com que as marcas da Volkswagen – Audi e Porsche – diminuíssem suas atividades no automobilismo. É por isso que a Audi precisou deixar o WEC, por exemplo. A Volkswagen deixou o WRC. E, com seu envolvimento no DTM e na Fórmula E, a Audi fica sem espaço para ter um projeto na F1”, explicou.
“A BMW deixou a F1 em 2009 e não sente que haja a necessidade de voltar sob o atual regulamento. Ela ainda tem o DTM, WEC e, em breve, a Fórmula E – novamente, sem espaço para a F1. Já a Porsche sempre entra em rumores para entrar na F1 e isso pode ser uma opção se eles deixarem o WEC. Isso liberaria recursos para desenvolver tal projeto, caso contrário isso provavelmente não irá acontecer. Nenhuma outra marca alemã tem poder e bagagem para entrar na F1.”
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