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Paixão e muita grana: como o México ressurgiu nas pistas

Com pilotos nas maiores categorias do automobilismo e estrutura para receber eventos mundiais, o México se tornou parada obrigatória no calendário internacional – e o cenário não deve mudar tão já

Sergio Perez, Sahara Force India F1 VJM09 and a fan with a Mexican flag

Neste sábado (1), a Fórmula E desembarca no Autódromo Hermanos Rodriguez para a realização do ePrix do México. A corrida, quarta da atual temporada da categoria, representa mais um evento de destaque no país, o que coroa ressurgimento mexicano no cenário do automobilismo internacional.

Afinal, até a década passada, o México estava fora da rota dos principais certames do mundo. Contudo, uma série de fatores, que vão desde o investimento maciço público e privado até o surgimento de pratas da casa e a paixão local pelo automobilismo, fez com que, agora, o Hermanos Rodriguez tenha um calendário cheio.

Além da prova da Fórmula E, no primeiro semestre, o circuito também recebe duas categorias de grande porte na fase final do ano: em setembro é a vez das 6 Horas do México, reestabelecida pelo Mundial de Endurance desde o ano passado; já em outubro acontece o GP do México de F1, que voltou ao calendário em 2015. E não deve parar por aí.

Vale lembrar também que o país também sedia, desde 2004, o Rali do México, válido pelo Campeonato Mundial. Poucos países podem se orgulhar de receber anualmente tantas categorias de ponta.

A paixão mexicana pelas corridas

 

Sergio Perez, Sahara Force India F1 VJM09 and a fan with a Mexican flag

Photo by: XPB Images

O México fez barulho no cenário internacional do automobilismo nos anos 1960, com os irmãos Pedro e Ricardo Rodriguez. A dupla se destacou na F1, com duas vitórias para o mais velho, antes de perder a vida tragicamente nas pistas – Ricardo morreu em um acidente em seu GP local, em 62, enquanto que Pedro faleceria nove anos mais tarde, em uma corrida de esporte-protótipos.

Mesmo com a morte de seus dois maiores talentos, o México permaneceu na F1 de maneira intermitente: a primeira passagem do GP na capital durou até 1971, e a segunda esteve no calendário entre 1986 e 1992. Porém, em termos de pilotos, a situação era menos fértil, apenas com o discreto Hector Rebaque (que chegou a ser parceiro de Nelson Piquet na Brabham) alinhando no grid nas décadas seguintes.

Apesar da situação, o público mexicano não deixou sua paixão pelo automobilismo morrer. Algumas provas e categorias locais se mantiveram em destaque, como a Carrera Panamericana, disputada em estradas, e a Nascar México. Além disso, o país também marcava presença na CART/Champ Car, com nomes como Adrian Fernandez, Mário Dominguez e Michel Jourdain Jr, sem contar as provas em Monterrey e no próprio Hermanos Rodriguez.

The four Mexican drivers: Adrian Fernandez, Luis Diaz, Michel Jourdain Jr. and Mario Dominguez
Com Adrian Fernandez, Luis Diaz, Michel Jourdain Jr. e Mario Dominguez, México marcou presença na CART

Photo by: Fernandez Racing

Entretanto, no topo da pirâmide do automobilismo, a situação continuava na seca, ainda sem nenhum mexicano com probabilidade real de ingressar na F1. Foi este cenário que propiciou o investimento que provocou o boom do México nas categorias mundiais.

O investimento da Telmex

Carlos Slim Domit e Sergio Perez
Carlos Slim Domit e Sergio Pérez

Photo by: Divulgacao

Na primeira metade da década de 2000, a gigante das telecomunicações Telmex, idealizada por seu líder, o bilionário Carlos Slim, criou um programa de financiamento a pilotos mexicanos. Era a Escudería Telmex, responsável por auxiliar os jovens talentos a progredir em suas carreiras internacionais.

“Sempre tivemos muitos pilotos talentosos, mas eles não tinham o apoio financeiro. Com a Escudería Telmex, surgiram várias oportunidades para que os pilotos chegassem a categorias diferentes, inclusive à F1”, explica José Román, editor chefe do Motorsport.com América Latina.

Ao longo de todos esses anos, mais de 20 pilotos receberam o suporte financeiro para trilhar seus caminhos nas categorias mundiais. E um deles não só chegou à F1 como também ganhou espaço e virou um ídolo local: Sérgio Pérez.

O piloto de Guadalajara entrou na F1 em 2011 graças a um acordo comercial entre a Sauber e as empresas de Carlos Slim. Um ano depois, conquistou pódios e obteve o convite da McLaren para substituir Lewis Hamilton. Uma nova estrela havia surgido.

Por mais que sua passagem por Woking não tenha sido bem sucedida, Pérez fez com que a paixão dos mexicanos pela F1 ficasse em ebulição – o que, consequentemente, fez surgir o desejo do país por sediar um GP depois de mais de 20 anos.

Fans in the grandstand and a Mexican flag
Fãs se mobilizam para acompanhar Sergio Pérez

Photo by: XPB Images

“Não é segredo que os GPs ao redor do mundo são administrados por pessoas ricas e poderosas, mas desde que Pérez chegou à F1, os fãs mais antigos ficaram ainda mais interessados e os mais jovens começaram a se envolver graças à internet e às redes sociais. Então, os ricos trabalharam e investiram para trazer o GP do México de volta a tempo de ter um mexicano no grid. As pessoas amam a F1, mas amam ainda mais se houver um piloto local por lá”, conta Román.

Recriando o Hermanos Rodriguez

Trazer a F1 de volta ao México era o plano ideal para as intenções de seus idealizadores, tanto pela possibilidade de ser um sucesso esportivo quanto pela melhora da imagem do país pelo mundo. Antes, houve tentativas de realizar uma prova da categoria nas ruas de Cancún, mas, agora, todas as peças pareciam se encaixar.

“A família Slim e o governo local queriam investir em turismo depois de vários anos difíceis, com a imprensa dizendo que o México não era seguro. Agora, somos uma das capitais esportivas mais importantes do mundo, com NBA, NFL, MLB, automobilismo e assim por diante. Os eventos quase sempre tem casa cheia, então é por isso que a cidade se concentra nisso”, detalha Román. 

Contudo, ainda havia muito trabalho pela frente. Slim e seu filho, Carlos Slim Domit, ao lado de Tavo Hellmund, promotor americano responsável por levar a F1 a Austin, costuraram os acordos de bastidores para levantar os fundos necessários para a recriação do GP do México.

De acordo com o líder da Telmex, o fato de a economia do México viver momento positivo fez com que a verba não fosse grande problema – o foco era, na verdade, na melhora da infraestrutura de sua praça esportiva.

Palco de todos os GPs do México de F1, o circuito Hermanos Rodriguez estava em condições precárias. Não que fosse uma catástrofe completa: a pista ainda recebia corridas locais, mas ainda estava muito longe e cumprir os pré-requisitos da principal categoria do mundo.

Assim, foi necessária uma obra intensa no autódromo, que, devido a sua complexidade e demora, provocou o adiamento do retorno da corrida de 2014 para 2015.

O traçado foi alterado quase que de maneira integral. A lendária curva Peraltada teve de ser eliminada devido à impossibilidade de criar uma área de escape em seu entorno. Então, o trecho final foi remodelado, passando por dentro de um estádio de beisebol construído no local. As chicanes do miolo foram totalmente modificadas a fim de permitir um maior espaço às barreiras de proteção. As acomodações de box também tiveram de ser completamente refeitas.

Circuito Hermanos Rodriguez

Ao todo, o retorno da F1 ao México custou mais de US$ 300 milhões aos cofres da CIE (Corporación Interamericana de Entretenimento, promotora da prova) e do governo mexicano, através do Conselho de Promoção Turística do México. Mas, com arquibancadas lotadas e com grande procura do público, o evento que marcou a volta da F1 ao país foi um sucesso.

Expansão a outras categorias

Com um autódromo em condições de primeira, uma economia favorável e a localização no visado mercado latino-americano, o México passou a receber outras provas em questão de tempo. A primeira a desembarcar foi justamente a Fórmula E, em março de 2016, com o ePrix realizado em uma versão diferente do traçado – utiliza parte do antigo oval, além do complexo do estádio. Em setembro do mesmo ano foi a vez do WEC para as 6 Horas do México.

Di Grassi guia no circuito do México
Photo by: Divulgacao

No próximo sábado, a Fórmula E retorna ao Hermanos Rodriguez com o desafio de fazer o povo “abraçar” de vez a atração. “O evento é grande, mas vamos ser honestos: não é o maior, nem vende como a F1. Mas acho que, nos anos que tivemos, foram vendidos cerca de 45% a 50% dos ingressos, o que não é ruim para uma categoria de carros elétricos silenciosos”, diz Román.

Mesmo assim, graças à paixão do povo mexicano pelas corridas e ao investimento pesado, o país deverá continuar com relevância no cenário internacional.

“Acredito que continuaremos com um GP no país, mas, quanto ao resto [WEC e Fórmula E], não acho que o futuro seja tão brilhante. O que eu espero de verdade é que teremos mais pilotos na Nascar e na F1, e, graças a isso, essas categorias continuarão vindo. Também estamos esperando pela MotoGP, já que há muitos rumores e o autódromo Hermanos Rodriguez está preparado para ter a corrida que quiser depois da reforma. Então, basicamente o México e o automobilismo continuarão fazendo história juntos na próxima década.”

 

 

Hoje o México é rota certa das principais categorias do mundo
O país recebeu suas primeiras corridas de F1 nos anos 60
Depois, o GP esteve no calendário entre 86 e 92
Depois de sair da F1, o país recebeu corridas da CART...
... e também etapas do Mundial de Rali, em 2004
O México voltou a ter um piloto na F1 em 2011, com Perez
E o mexicano começou a impressionar em 2012, com 3 pódios
Em 2013, mais um mexicano chegou à F1: Esteban Gutiérrez
O retorno do GP do México era uma realidade, mas foram necessárias obras
O México segue representado no grid da F1
O país também passou a receber etapas da Fórmula E...
... e uma rodada do Mundial de Endurance
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Fórmula E
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