Fórmula SAE Brasil: estudantes de graduação produzem carros tipo fórmula e competem entre si

Edição de 2022 reuniu estudantes de graduação de 11 estados e Distrito Federal aconteceu em Piracicaba, interior de São Paulo

Fórmula Cefast

Produzir do zero um carro tipo fórmula e vê-lo em ação na pista parece um sonho um tanto quanto distante. Mas não é bem assim. Criada em 2004, a Fórmula SAE Brasil é uma categoria que reúne estudantes de universidades do país que desenvolvem integralmente um fórmula, ou seja, fazem desde o projeto até a manufatura do carro. 

O nome SAE vem da entidade organizadora do evento, a Sociedade dos Engenheiros de Mobilidade (do inglês Society of Automotive Engineers). A competição é anual e conta com carros nas categorias combustão e elétrica. A edição de 2022 aconteceu entre os dias 9 e 14 de agosto, no ECPA, em Piracicaba-SP, e contou com 63 equipes inscritas. 

O objetivo da FSAE é oferecer aos estudantes a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula. De modo a avaliar esse projeto, a competição é dividida entre provas estáticas e dinâmicas. Nas provas estáticas, as equipes apresentam os detalhes técnicos do carro, são elas: apresentação, custos e design. Já as provas dinâmicas têm por objetivo avaliar a performance do protótipo na pista. Essa parte é composta por: aceleração, skid pad, autocross, eficiência e enduro. 

Leia também:

Entre os 77 carros inscritos (52 na categoria de combustão e 25 elétricos), apenas 30 estavam aptos a participar das provas dinâmicas - ou seja, foram aprovados nas inspeções técnicas e também que conseguiram chegar em Piracicaba -. Camilo Adas, presidente da SAE Brasil, explica que, assim como no dia a dia da indústria, nem todo processo de desenvolvimento dá certo. 

“A indústria não revela aquilo que deu errado, porque não faz parte dela revelar e nem faz sentido. Só interessa para quem errou, para aprender com o próprio erro. Aqui, o fato de que várias equipes se inscrevem, mas nem todas chegam a pista, no fundo, o mais importante é os próprios estudantes aprenderam com o erro”, disse Adas. 

Para auxiliar as equipes, cada uma possui um professor orientador. O professor Rodrigo Santos, orientador da equipe UTFAST F-SAE Racing, da Universidade Tecnológica do Paraná - Campus de Ponta Grossa, disse acreditar que a competição de Fórmula SAE é um grande aprendizado. “Um enriquecimento grande para todos, independente da área que cada um irá atuar”. 

A equipe orientada por Rodrigo Santos participou do enduro (prova onde devem ser percorridos 22km)  pela primeira vez. Ao todo, o carro completou quatro das 24 voltas previstas, em razão de uma quebra na barra de direção. 

É uma sensação de dever cumprido. A gente vê que o nosso trabalho deu resultado. Somente na nossa terceira competição e já temos um carro que chegou no enduro”, disse Vitor Antunes, coordenador de freios, ergonomia e segurança. 

Antes de o carro ir para a pista, ele passa por uma série de inspeções técnicas, que compreende desde inspeção nos equipamentos de segurança, saída de 5 segundos (onde o piloto deve conseguir sair do carro sozinho em até 5 segundos), tilt-table (aqui o carro é inclinado em 60º para verificar se há vazamentos), até o teste de frenagem. Caso algo não seja aprovado, a equipe pode corrigir o problema e passar pela inspeção novamente.

A equipe Poli Racing, da Escola Politécnica da USP, não foi aprovada no teste de frenagem e por isso encerrou a participação no evento sem competir nas provas dinâmicas. A suspeita era que o cilindro mestre, uma peça importada, estava quebrado. Mesmo assim, o capitão da equipe, Leonardo Franzin, afirmou que estava feliz. “É diferente. A gente faz um carro que anda”, disse com sorriso no rosto.

 

Mesmo após a aprovação nas inspeções técnicas, os problemas continuam aparecendo. A FSAE Unicamp, mesmo enfrentando problemas, concluiu todas as provas. O capitão, João Roberto Luz, disse que ficou orgulhoso da equipe. “A velocidade e eficiência para resolução de problemas foram impressionantes. Em todos os dias, aconteceram imprevistos que poderiam impactar na participação da equipe nas provas e todas essas circunstâncias foram superadas”.

Um exemplo de superação da equipe foi o autocross, prova que tem por objetivo avaliar a manobrabilidade do carro de Fórmula SAE em um circuito estreito, com no máximo 3,5 metros de largura - para efeito comparativo, entre os carros deste ano, a bitola dianteira variou entre 1,125 e 1,48 metro. Já a traseira foi de 1,08 até 1,6 metro. O comprimento da volta deve ser de no máximo 80 metros, passando por retas, curvas, chicanes e slaloms. Cada equipe pode fazer quatro tentativas, duas com cada piloto. 

Quando o carro da FSAE Unicamp estava na fila para participar da prova, um juiz, acidentalmente, pisou na asa do carro. Rapidamente, os membros consertaram a peça. Como em uma espécie de déjà-vu, outro juiz pisou na asa e a equipe teve que consertar novamente. Depois, quando o carro estava na pista, o pedal do acelerador travou e os membros tiveram que avaliar o problema na pista mesmo e serrar uma parte do pedal. Após isso, restava apenas uma tentativa e foi nessa oportunidade que foi marcado o melhor tempo de volta da equipe no autocross. 

 

Estar na liderança desse tipo de projeto, por mais desafiador que seja, traz satisfação para os estudantes. Ingrid Gasparin, capitã da Fórmula UTFPR, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Campus Curitiba, disse que estava contente com o avanço da equipe em relação a competição anterior. “Eu consegui o respeito de todo mundo e mostrar que sou capaz de levar a minha equipe adiante e fazê-la progredir”, contou a capitã e pilota da equipe. 

Engana-se quem pensa que as quebras tiram a motivação dos estudantes. Marina Krawulski, ex-capitã da RS Racing UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disse que a equipe estava feliz em participar das dinâmicas e completar cinco voltas no enduro. “A gente tem que acreditar, porque se a gente não acreditar em nós mesmos, ninguém vai”, disse Krawulski.

Outro obstáculo a ser superado é a negociação de prazos de entrega de componentes. A Capibarib-E Racing, da Universidade Federal de Pernambuco, não conseguiu terminar o carro a tempo. Alane Vieira, capitã da equipe, explicou que o motor escolhido pela equipe só vai chegar em setembro e as baterias em dezembro de 2022. 

Dessa forma, a equipe participou somente das provas estáticas. “Conseguimos trazer quatro pessoas para conhecer as provas e as outras equipes, para no próximo ano a equipe vir mais preparada", disse a capitã.

Toda essa história de superação de obstáculos, rendeu um prêmio para uma equipe que, segundo Renato Kazuo, diretor geral da competição, representou o espírito da Fórmula SAE. A Mauá Racing, do Instituto Mauá de Tecnologia. 

No sábado, logo na primeira curva do autocross, o carro quebrou. A equipe teve que abrir o motor para identificar a quebra e trocar os componentes danificados. Todo esse processo foi feito a tempo de competir o enduro, no dia seguinte. 

É uma competição que exige perseverança e foco de todo mundo. E que não só exige, mas dá muito mais do que exige”, disse Mateus Godinho, capitão da equipe. 

A 18ª edição da Fórmula SAE Brasil marcou o retorno da competição no formato presencial - que foi realizada de forma virtual durante a pandemia. Durante esse período, a transmissão de conhecimento entre membros, um dos pilares da competição, foi abalada. 

Mesmo assim, Renato Kazuo, diretor geral da FSAE Brasil, afirmou que as equipes apresentaram um desempenho acima do esperado. "Meu balanço final é muito positivo. As equipes vieram muito mais bem preparadas do que imaginávamaos e atingiram excelentes resultados".

Adriano Júnior, gerente administrativo da Fórmula Cefast, destaca a importância da transmissão de conhecimento para a vitória da equipe na 18ª edição da Fórmula SAE Brasil. “Vencer a competição é a validação de todo o trabalho dos nossos membros e ex-membros que nos ajudaram desde 2020”. 

A equipe, fundada em 2004 por um grupo de meninas do CEFET-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), venceu o nacional pela terceira vez e irá representar o Brasil na etapa mundial da Fórmula SAE.

 

Rico Penteado explica segredos para ser rápido sem destruir motor

Podcast #192 – Sequência de corridas decidirá campeonato da F1?

 

ACOMPANHE NOSSO PODCAST GRATUITAMENTE:

Faça parte da comunidade Motorsport

Join the conversation
Artigo anterior Nigel Mansell lança linha oficial de colecionáveis digitais no Motorsport Multiverse
Próximo artigo Público, pilotos favoritos e mais: MotoGP e Motorsport Network revelam principais descobertas da Pesquisa Global de Fãs

Principais comentários

Cadastre-se gratuitamente

  • Tenha acesso rápido aos seus artigos favoritos

  • Gerencie alertas sobre as últimas notícias e pilotos favoritos

  • Faça sua voz ser ouvida com comentários em nossos artigos.

Edição

Brasil Brasil