Piloto Red Bull na F3000, Ricardinho lembra rigidez de Marko
Bicampeão da Stock Car fala sobre as quatro temporadas que esteve no time de Helmut Marko e tenta entender o que o levou a trocar Kvyat por Verstappen
A troca de times de Daniil Kvyat e Max Verstappen é o assunto do momento no mundo da Fórmula 1. Capitão do projeto de esporte a motor da Red Bull, o austríaco Helmut Marko tomou a decisão controversa que gerou muitas opiniões contrárias à sua política rígida para com os pilotos de seu programa.
Alguém que conhece bem o lado durão de Marko é o brasileiro Ricardo Maurício. Bicampeão da Stock Car (2008 e 2013), ele foi um dos primeiros pilotos do programa da Red Bull no fim dos anos 90 e começo dos 2000. Ao Motorsport.com, ele defendeu seu ex-patrão e entende o lado comercial da atividade.
“Os caras sofrem na mão dele”, iniciou.
“Mas, falando a verdade, você fica assustado com algumas coisas porque você é jovem, é moleque e coisa e tal. Mas o crescimento profissional que você tem com um Helmut Marko te ajudando e sendo seu professor é muito grande.”
“A Red Bull foi meu primeiro patrocinador após eu ter tido o aporte financeiro dos meus pais. Sou muito agradecido à empresa pela oportunidade. Sem isso, talvez hoje em dia não estivesse na Stock Car.”
Mesmo assim, ele se espantou com a forma como a troca entre Kvyat e Verstappen ocorreu. Maurício diz que algo ocorrido internamente pode ter pesado para Marko ter tomado a decisão
“Nunca vi isso. No meio de uma temporada dentro de duas equipes na Fórmula 1, é bem estranho. Mas não sei. A gente não sabe como cada piloto trabalha, qual o profissionalismo”, comentou.
“Eu vi o Kvyat falando com o Vettel depois da corrida da China e acho que ele pegou um pouco pesado. O Vettel estava chateado, mas o Kvyat levou de uma maneira que não achei legal. ‘Ah, nós dois terminamos no pódio, temos que estar felizes’. Não é bem assim. Não foi ele que tinha batido. Achei ele ter reagido assim pouco profissional. E isso faz parte, é corrida.”
“Acredito que tenha sido uma decisão do Marko. Acho que ele já tinha em mente isso. Acabou que o Kvyat deu essa oportunidade para ele fazer. Esta transição talvez fosse acontecer no ano que vem.”
O início do programa
Ricardo Maurício foi contratado pela equipe de Helmut Marko patrocinada pela Red Bull na Fórmula 3000 após três corridas pela Super Nova no ano de 1999. Ele ficou até o fim de 2000, quando o time trocou sua dupla de pilotos. No entanto, insatisfeito com o espanhol Antonio García, Marko decidiu testá-lo contra Ricardo Maurício em um treino. Se saindo melhor que García, Ricardinho voltou ao time após quatro provas. Seu melhor resultado no time foi um segundo lugar em Hungaroring em 2001.
Nos dois primeiros anos ele dividiu o time com Enrique Bernoldi, que foi para a Arrows em 2001 levando o patrocínio da Red Bull (já presente nos carros da Sauber) ao time de Tom Walkinshaw.
Ricardo Maurício entende que a rigidez de Helmut Marko somada ao trabalho duro fizeram o austríaco chegar tão longe. “Muita gente critica ele e obviamente ele virou um pouco carrasco, mas hoje vejo que aprendi bastante”, disse.
“Desde aquela época, quando a Red Bull passou a investir em outros esportes fora os esportes radicais, o Helmut Marko é o capitão deste programa. E ele nunca dava mole. Ele fazia os relatórios depois das corridas e queria saber por que uma volta foi 0s1 pior que a volta anterior. Ele cobrava da gente cada centésimo. É uma pessoa dedicada ao desenvolvimento da equipe e dos pilotos. Não é por acaso que hoje a equipe dele é uma força na F1 e ele politicamente é muito forte também.”
Mas o jeito de Marko rendeu a ele e a Enrique Bernoldi momentos difíceis na Europa. “O Marko sempre foi durão desde o início. Eu e o Bernoldi morávamos na Áustria, em um lugar que fazia -20°C. E ele queria que a gente fosse fazer preparação física ao ar livre. Ele era muito rígido. Se a gente sentar para lembrar, dá um livro.”
“Ele falava para nós que na neve a gente não devia usar controle de tração no carro de rua, e na verdade é justamente o contrário. Ele sabia que éramos novos, nunca tínhamos visto neve na vida. Achávamos que tinha que desligar o controle de tração porque ele falava, mas não era assim. Ele sempre fazia a gente sofrer um pouquinho.”
“Na equipe ele sempre foi correto, mas sempre exigiu da gente. Mas era como qualquer patrocinador, como qualquer empresa faz com funcionário. Ele era um pouco extremo às vezes, mas é o jeito dele.”
Possibilidade na Indy
De saída do time de Marko em 2002 na F3000, Ricardo Maurício teve um teste na IRL no time da Red Bull. Porém, com problemas econômicos, a equipe capitaneada por Eddie Cheever se viu obrigada a desistir do plano de ter dois carros para o ano todo.
“Isso foi bem na transição entre 2002 e 2003, que pelo orçamento havia uma grande diferença entre um e dois carros na IRL. O time diminuiu e eles optaram pelo Buddy Rice”, contou.
Mesmo tendo andado mais rápido que Rice em um teste no oval de Kentucky, ele não pensou em tentar correr a Indy 500 pela equipe. “Até interessou, mas não tinha a experiência de fazer uma corrida. Uma coisa é fazer um treino e andar bem, outra coisa é andar no vácuo e fazer este jogo. Às vezes acham que Indy é só andar em círculos. Não tinha a experiência do Buddy Rice.”
Maurício se sagrou campeão da F3 espanhola antes de voltar ao Brasil para competir na Stock Car.
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