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Na mão dos gênios: veja como Piquet e Senna foram determinantes para sucesso de Kanaan

Piloto que cumpre último ano na Indy em 2020 relembrou passagens da vida pessoal e da carreira

Tony Kanaan comemora vitória no kart ao lado de Ayrton Senna

No último sábado, no Texas, Tony Kanaan realizou a primeira de cinco provas em sua última temporada na IndyCar. O piloto de 48 anos se despedirá da categoria, na qual conquistou o título de 2004 e as 500 Milhas de Indianápolis de 2013, além de grandes glórias.

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Mas quem vê apenas a parte vitoriosa da carreira de Tony mal pode imaginar o sofrimento que o brasileiro teve antes de chegar ao estrelato. Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, Kanaan falou sobre o início de carreira no kart, após a perda do pai. Veja no vídeo:

Promessa ao pai no leito de morte

Tony já demonstrava amor pelas pistas quando seu pai veio a falecer quando tinha apenas 13 anos de idade. Ao mesmo tempo, o garoto teve que fazer duas promessas ao seu pai pouco antes.

“Antes de morrer, ele me chamou no hospital numa quinta-feira à noite. Estava lúcido, na minha opinião ele não desistiu, apenas disse ‘cansei’, depois de lutar contra um câncer durante quatro anos, sendo que tinham dado a ele três meses de vida. Mas ele colocou uma responsabilidade em mim muito grande e naquela noite ele me disse: ‘tem duas coisas que eu quero que você nunca pare de fazer: cuidar da sua família e correr de carro, você promete?’ e eu respondi ‘claro, pai’.”

“Não pensei que ele iria falecer naquela noite. Acordei na sexta-feira de manhã com esse pepino na mão. Em termos de maturidade, não havia opção ou eu desistia ou mantinha a promessa. Meu pai era meu herói então eu me levantei, minha mãe estava em casa e eu disse que iria até a pista. Ganhei a corrida daquele fim de semana e dei o troféu para a minha mãe e ele está na casa dela até hoje, em um lugar especial.”

 A batalha

A mãe de Tony nunca precisou trabalhar e o garoto teve que deixar os estudos para sustentar a família. Com muita força de vontade, ele conseguiu dar continuidade de suas promessas feitas ao pai, com a ajuda de grandes nomes do automobilismo, mas também demonstrando que esse era seu caminho que estava decido  seguir.

“A partir da morte do meu pai a gente teve que batalhar. Minha mãe começou a trabalhar, perdemos tudo, não tínhamos grana e a realidade bateu. Parei de estudar, eu não tenho o segundo grau completo, parei na oitava série e fui trabalhar na fábrica de kart, na Mini, para ter os equipamentos de graça.”

“Fui tocando assim e tive a ajuda do Rubinho (Barrichello), do Rubão (pai de Rubinho), do Geraldo Rodrigues (empresário), do Nelson Piquet, do Ayrton Senna, todo mundo. Mas por quê? Eu não sou só um cara de sorte, eles viram a minha vontade, que correr era aquilo que eu queria. O pensamento de não dar certo nunca passou pela minha cabeça. Se não desse certo de viver da F1, OK, mas eu decidi viver do automobilismo.”

Encontro com o ídolo Senna no kart

Em uma festa na fazenda de Ayrton Senna, veio o primeiro encontro com o ídolo, de maneira inusitada, e que acabaria o ajudando alguns anos depois.

“Em 1991, o Geraldo Rodrigues me ligou e disse que tinha um convite da inauguração da pista da fazenda do Senna sobrando e queria que eu fosse. Chegamos lá, eu não estava convidado para correr, sobrou um kart, sentei nele e fiz a pole. Daí, o Ayrton chegou lá e perguntou quem eu era e conversamos.”

“Na hora da largada, ele resolveu inverter a ordem o grid, o primeiro largaria em último e o último em primeiro. Não estava previsto do Senna correr, eu estava em último no grid, pronto para largar e, de repente, eu o vi ao meu lado. Meu coração quase saiu pela boca, mas disse a mim mesmo ‘esse cara não vai ganhar de mim’. Largamos, passamos por todo mundo, ele não me ultrapassou em nenhuma vez, e recebemos a bandeirada eu em primeiro e ele em segundo. Quando acabou a corrida, ele chegou pra mim e disse: ‘Cara, você tem um talento gigantesco. Se você precisar de alguma coisa, a não ser dinheiro, pode me procurar’.”

 

A ligação de Nelson Piquet

O grande salto para a Europa veio por meio de um dos grandes rivais de Senna, Nelson Piquet. Com apenas uma ligação, a vida do jovem Tony teve uma grande reviravolta, em uma aventura que estava prevista para acontecer em um fim de semana, mas que durou seis meses.

“Em 1993, eu estava no Kartódromo de Interlagos onde dava aula de kart às terças e quintas. Era uma quinta-feira e na época não existia celular. Um dos engenheiros foi até a pista e disse que tinha alguém para falar comigo ao telefone, que era o Nelson Piquet. Eu, que sou um tirador de sarro, achei que tinha alguém me enchendo o saco. Subi lá e ouvi: ‘Oi Tony, é o Nelson’ e eu respondi: ‘Não enche o saco, quem é que está falando, eu tenho que trabalhar’. ‘É o Nelson. É o seguinte, você precisa ir para a Itália hoje. Tem um chefe de equipe lá que me ligou, pedindo um piloto brasileiro porque sabe que brasileiro é rápido e me perguntou de um piloto brasileiro bom’.”

“Era quatro horas da tarde, liguei para o Rubão, e ligaram para uma agência de viagem, compraram uma passagem para mim, mas eu não falava italiano, não se sabia quem poderia ir comigo, e pegaram o Luiz Gustavo Paternostro. Falei para minha mãe que estava indo para a Itália, ela não entendeu nada, mas eu disse que voltaria no domingo. “

“Pegamos o voo e 14 horas depois eu estava na Itália, fomos recebidos por um cara de terno e gravata que nos colocou em uma BMW M5, que para mim era uma nave espacial, e fomos para a pista de Misano treinar. Deis seis voltas na pista e me pediram para sair do carro. Fomos conversar e me ofereceram um contrato de dois anos. Saí de casa em uma quinta-feira, para voltar no domingo, mas voltei pela primeira vez seis meses depois.”

As palavras de Senna que mudaram a vida de Tony

Já na Europa, mas ainda com futuro indefinido, Tony teve a comprovação da promessa que Ayrton Senna fez em sua fazenda, que acabou garantindo mais três anos de contrato com a equipe que estava prestes a dispensá-lo.

“O meu chefe era um cara muito boa gente e sabia do meu talento e do meu esforço. Quando a equipe dele não pôde correr no campeonato italiano de F3, ele ligou para um amigo dele, para eu fazer um campeonato de Fórmula Opel e que tinham corridas nas preliminares da F1.”

“Eu estava programado pra fazer três etapas e a última era em Hockenheim. Cheguei na Alemanha em 5º no campeonato, sendo que eu já havia perdido cinco corridas. Corríamos no sábado e no domingo antes da F1. O Geraldo Rodrigues me falou que o Senna queria me ver e fomos ao motorhome da McLaren. Chegamos lá, o Ayrton me perguntou como estava, e eu disse que aquele era meu último fim de semana de corrida, porque a equipe não tinha dinheiro. Me despedi e voltei ao caminhão da equipe.”

“Deu meia hora, bateram na porta do escritório e quem era? Senna. Ele entrou, se apresentou, como se precisasse, e disse que tinha vindo dar oi para mim e conversar com o dono da equipe. ‘Eu tenho que ir embora, mas tenho que falar uma coisa rápida. Eu vim aqui dizer a você, que esse menino que você contratou, ele é melhor do que eu. Ele guia mais do que eu. Eu só queria te falar isso. Acho que você poderia fazer uma forcinha para ele continuar na sua equipe, que acho que ele vai trazer muitas vitórias’. Ele virou as costas e foi embora e eu garanti meu emprego nos três anos seguintes na Itália por causa dessas palavras do Senna.”

GALERIA: Relembre momentos marcantes de Tony Kanaan na IndyCar

Tony Kanaan começou sua carreira na Indy (CART) em 1998, pela Tasman, vindo de uma campanha vitoriosa na Indy Lights, em 1997.
Já no ano seguinte, na Forsythe Racing, ele conseguiu sua primeira pole position, em Long Beach, e...
... a primeira vitória veio em Michigan
Depois de passar pela Mo Nunn Racing até 2002, entre 2003 e 2010 correu pela Andretti-Green, conquistando o título de 2004.
A comemoração veio no Texas Motor Speedway.
Tony Kanaan
Tony Kanaan
Tony Kanaan
Tony Kanaan
Tony Kanaan
Apesar de ter ficamos ‘apenas’ na terceira colocação no campeonato, em 2007 Kanaan conseguiu o maior número de vitórias, cinco. A primeira foi em Motegi, no Japão.
Milwaukee
Michigan
Kentucky
E Detroit
Mas nenhuma delas foi como a Indy 500 de 2013
Tony Kanaan
Tony Kanaan
Tony Kanaan
O último triunfo de Tony Kanaan na Indy aconteceu em Fontana, na Califórnia, em 2014
Correndo pela Chip Ganassi
Tony Kanaan
O último pódio, até agora, foi em Gateway, no ano passado, com um terceiro lugar, na vitória de Takuma Sato.
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PODCAST: Entrevista com Rubens Barrichello: os bastidores da carreira do recordista de provas da F1

 

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