ANÁLISE: Divórcio entre Márquez e Honda é a única opção para o piloto e a MotoGP
O problemático fim de semana na Alemanha mostrou o ponto mais baixo da relação entre Márquez e Honda, e poucos acreditam que há como solucionar. Com um ano ainda pela frente no contrato, o melhor é pôr um fim ao casamento de uma década
O GP da Alemanha foi visto como o melhor termômetro possível da saúde do relacionamento entre Marc Márquez e a Honda na MotoGP. Se no passado essa ligação era vista como imbatível, com seis títulos em sete anos, agora vemos que a melhor opção para os dois visando o futuro é o divórcio.
Em um dia e meio, o espanhol tomou duas decisões que, conhecendo sua personalidade, mesmo que pouco, devem ter sido das mais dolorosas da sua vida.
A primeira foi tirar o pé na corrida sprint, para evitar uma quinta queda no fim de semana. Após cruzar a linha de chegada em 11º, disse: "O risco não valia a pena. Arriscar por um pódio vale, mas para terminar em sétimo ou décimo não".
Mas a quinta queda que ele tentou evitar no sábado veio no domingo, durante o aquecimento, causado pela eletrônica da moto. Em uma curva para a esquerda, Márquez foi jogado no ar, caindo na briga e terminando acertado pela moto.
Durante a visita ao centro médico, ele foi diagnosticado com uma pequena fratura no dedão da mão esquerda. Apesar da lesão, Márquez recebeu o ok para correr, e é por isso que sua decisão de não correr a prova no Sachsenring foi ainda mais surpreendente. Vale lembrar que essa pista é o reino do espanhol, com 11 vitórias nos últimos 13 GPs entre as três classes.
Antes de conversar com a imprensa, Márquez se trancou no motorhome com a equipe, conversando com Tetsuhiro Kuwata, diretor da HRC, que se recusou a falar sobre o caso.
"Não me sinto pronto para correr", disse o piloto da Honda, com cara desequilibrada, quase que não acreditando na decisão que havia tomado.
Desse modo, ninguém deve se enganar: a razão por trás da desistência de Márquez em participar da corrida não foi causada pela fratura ou os machucados acumulados pelas quedas no fim de semana.
Ele tomou essa decisão por frustração e porque, após ser cordial e respeitoso com a Honda ao longo dos anos, ele entendeu que não tem outra forma de dizer basta, para deixar claro para a marca japonesa que está no limite.
Márquez caiu cinco vezes entre a sexta e o sábado no Sachsenring, ficando com uma fratura na mão
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
O piloto catalão alega estar completamente recuperado dos problemas com o braço direito, que o afetaram desde a queda original em 2020, e vem insistindo há algum tempo que está pronto para brigar novamente por vitórias.
Por vários meses ele vem mandando mensagens que indicam sua lealdade com a Honda, com a qual possui um contrato milionário válido até o fim de 2024. Por outro lado, ele vem pedindo há meses para que a montadora mais poderosa do campeonato dê a ele as ferramentas necessárias para pelo menos bater de frente com a competição.
Claro, todas as vezes que ele falou sobre seu futuro, ele também indica que, se não conseguir vencer com a Honda, vai buscar a possibilidade em outro lugar.
Falando com o Motorsport.com no fim do ano passado, disse sobre seu futuro: "Tenho muito respeito pela Honda, pelo modo como conversamos, como eles cuidaram de mim de forma especial nesses dois anos da lesão. Sei que não é normal, foi especial, e sempre vou respeitar a Honda".
"Mas agora, no fim de 2022, minha mente está focada em voltar ao topo com a Honda. E claro, se não for possível, se eu sentir que não tenho os meios necessários, vou buscar o melhor para mim".
O primeiro protótipo da moto de 2024 vai à pista no teste de Misano em setembro, e tanto a equipe quanto o time de Márquez sabem que a Honda não tem nada de novo a oferecer
Não se sabe se a falta de reação da Honda se dá por uma questão de inabilidade ou simples desinteresse, sendo que esse segundo pode trazer pânico à MotoGP. Mas, seja um ou o outro, quase impossível encontrar uma razão que convenceria Márquez a se manter ligado à HRC.
Sua fala não deixa a frustração clara o suficiente, mas seus gestos são devastadores. E na Alemanha vimos vários. Temos o dedo do meio após evitar uma queda na curva 11 durante o TL2, jogar brita na moto após uma outra queda, a imagem do desgaste e desespero após o incidente no aquecimento...
O que mais precisa acontecer? A resposta para esta questão é nada, porque já deve ser tarde demais, com ele talvez já tendo decidid buscar uma vaga em outro lugar, como ele mesmo já sugeriu.
Em meio a todas as quedas, lesões, fraturas, visões duplas e operações, Márquez quer apenas vencer novamente, ser competitivo novamente, lutar pelos títulos que já disputou tanto no passado. Um piloto como ele não é preparado ou programado para tirar o pé como fez na sprint.
Seu débito com a Honda, por respeitá-lo nesses dois anos de lesão, está mais do que pago, e dar à montadora mais uma chance não garante uma reação. Na verdade, muito pelo contrário.
Márquez testará a moto de 2024 pela primeira vez em setembro
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
O primeiro protótipo da moto de 2024 vai à pista no teste de Misano em setembro, e tanto a equipe quanto o time de Márquez sabem que a Honda não tem nada de novo a oferecer.
Neste ponto, Márquez sabe muito bem que, se não sair da Honda, ele ficará preso a dois possíveis cenários: lutar contra seu DNA e tirar o pé, como fez na sprint da Alemanha, ou seguir caindo e correndo o risco de sofrer uma lesão séria, como ele viu em 2020 e como Álex Rins vive agora.
A relação entre Márquez e Honda está chegando ao fim. Então a melhor opção é o divórcio. Uma separação, parece complicada devido à multa que ele pagaria por romper seu contrato antes de 2024, um acordo de quatro anos assinado em 2020.
Porém, considerando o tanto de dinheiro que ele ganhou nesse período, e levando em conta que os patrocinadores podem ajudá-lo, sair desse contrato pode não ser um problema tão grande.
De qualquer forma, ficar como está não é do interesse de ninguém. Seja dele, da Red Bull, que ganhou peso em seu planejamento para o futuro, e muito menos para o campeonato, que vê hoje sua atração principal como um leão bastante abatido.
Os problemas da Honda e as frustrações de Márquez só podem levar a um destino: o divórcio
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