O fim de semana desastroso de Francesco Bagnaia no GP de San Marino em Misano marcou o ponto mais baixo até agora para o piloto mais bem-sucedido da história da Ducati na MotoGP. O italiano está sendo lembrado pela fábrica de que a crise de confiança que o paralisa vem de dentro dele mesmo, não da máquina que pilota.

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A natureza afável de Bagnaia e sua situação atual despertaram a compaixão de todas as áreas - não apenas de seus colegas pilotos da VR46 Academy, de quem ele é naturalmente mais próximo, mas também de rivais como Marc Márquez, seu companheiro de Ducati.

A 11ª vitória do espanhol na temporada, que veio no GP de San Marino, colocou a sétima coroa da MotoGP ao seu alcance, potencialmente a ser conquistada no Japão daqui a duas semanas. Se conseguir, Márquez terá completado uma das mais notáveis reviravoltas da história do esporte: seis anos após seu último título e depois de quatro operações após a lesão no braço que ameaçou sua carreira.

Márquez está surfando em uma onda de triunfo no exato momento em que seu companheiro de equipe está passando por seu período mais sombrio, deixando Misano de mãos vazias, sua segunda etapa zerada no ano junto com Le Mans, e, para piorar, diante de seus fãs, do resto do paddock e a gerência da Ducati. Isso deixa todos fazendo a mesma pergunta: o que há de errado com Bagnaia?

"A resposta a essa pergunta está somente com ele. Queremos ajudar, mas ele precisa nos deixar. Ele não pode ser o último dos pilotos da Ducati. Pecco é muito melhor do que isso", disse uma fonte sênior da Ducati ao Motorsport.com. "A questão não é Marc vencê-lo; isso é compreensível e aceitável. O verdadeiro problema é que os outros agora são mais consistentes do que ele".

O Motorsport.com apurou que essa é a conclusão a que a Ducati chegou após uma análise exaustiva da Desmosedici, não encontrando nenhuma explicação mecânica para a falta de confiança da qual Bagnaia tem se queixado desde o início da temporada. Ainda assim, a Ducati optou por protegê-lo publicamente, aceitando suas queixas mesmo com o risco de comprometer a imagem da equipe.

Francesco Bagnaia, Equipe Ducati

Foto de: Gold and Goose Photography / LAT Images / via Getty Images

Mas em Misano, o piloto chegou ao fundo do poço. No sábado, ele se classificou em oitavo e terminou em 13º na sprint, mais de 16 segundos atrás do vencedor, Marco Bezzecchi, em apenas 13 voltas. "Estou vivendo um pesadelo. Deve haver algo importante que está me deixando um segundo e meio mais lento", disse ele, antes de acrescentar uma frase que já ouviu antes: "Minha paciência está se esgotando".

No domingo, ele caiu na oitava volta, enquanto estava em oitavo, se afundando ainda mais. A Ducati o protegeu da imprensa, limitando seus comentários pós-corrida a uma breve obrigação contratual na parte de trás da garagem. Ele deixou o paddock às 19h05, cinco horas após a corrida, depois de uma longa conversa com Casey Stoner, outra figura que estava tentando levantá-lo.

"A paciência de Pecco se esgotou, assim como a nossa e a dos fãs que o seguem", comentou Gigi Dall'Igna, o nome por trás da GP25 na qual Márquez está dominando enquanto Bagnaia está sofrendo.

A última vez que Bagnaia subiu ao pódio foi em Sachsenring, onde terminou em terceiro lugar antes das férias de verão. Nas cinco rodadas desde então, ele conquistou apenas 40 pontos. No mesmo período, Marquez acumulou 168, Bezzecchi 99, Pedro Acosta 89 e Alex Marquez 69.

A menos que interrompa essa queda livre, Bagnaia corre o risco não apenas de perder seu atual terceiro lugar no campeonato - com Bezzecchi apenas oito pontos atrás - mas também de ser alcançado por Acosta, que está 49 pontos atrás, em quinto.

Externamente, tanto a Ducati quanto Bagnaia insistem que todos os esforços estão concentrados em encontrar a causa raiz de seu desconforto, que o impede de explorar seu potencial - o mesmo potencial que o tornou o primeiro bicampeão em uma Ducati e seu piloto mais bem-sucedido, com 30 vitórias e 58 pódios.

Atrás das portas fechadas, no entanto, a mensagem é diferente: a chave não está na mudança de peças ou na configuração, mas na mentalidade de Bagnaia. Parece inconcebível que nenhum dos muitos engenheiros da Ducati tenha conseguido identificar um gatilho técnico para sua queda. "Não se trata da GP24, da GP25 ou da GP26. O problema não está aí", diz-se, enquanto a Ducati o aconselha a continuar pilotando como terapia, já que ele optou por não trabalhar com um psicólogo esportivo.

Francesco Bagnaia, Equipe Ducati

Foto de: Mirco Lazzari GP - Getty Images

Na segunda-feira, Bagnaia e o restante do grid voltaram à pista - com a mesma moto com a qual ele havia se acidentado no dia anterior. Ele melhorou um segundo inteiro, terminando em sexto lugar na tabela de tempos do teste, à frente de Márquez. Stoner esteve ao seu lado a maior parte do tempo, oferecendo não apenas conselhos, mas também sugestões de configuração.

Seu relacionamento com Cristian Gabarrini, o atual chefe de equipe de Bagnaia e engenheiro de Stoner durante seus dois títulos, torna a comunicação natural e fluida. "Eu adoraria ter Casey comigo o tempo todo. Sei que isso não é possível, mas sempre que a chance surge, tento aproveitá-la ao máximo", admitiu Bagnaia.

Recorrer a uma figura como Stoner pode ser uma jogada inteligente - mas também revela que as ferramentas da Ducati para ajudá-lo podem já ter se esgotado.

Com um dos mercados de pilotos mais movimentados dos últimos anos se aproximando, a Ducati deve decidir em breve qual é o par ideal para sua equipe de fábrica. Garantir a renovação de Márquez tornou-se a principal prioridade, enquanto o futuro de Bagnaia depende de sua capacidade de mudar sua sorte. Ele precisa - seja na GP25, na GP26 ou até mesmo em uma scooter - e rápido.