ANÁLISE: O que as estatísticas de quedas da MotoGP em 2023 dizem sobre a introdução das sprints?
Dá para atribuir toda a culpa à introdução das corridas de sábado?
Nenhuma corrida da temporada 2023 da MotoGP contou com todos os titulares do ano simultaneamente no grid, com as lesões afetando de ponta a ponta. Muitos apontaram os dedos para a introdução das sprints, e uma olhada pelos dados de quedas de 2023 mostram que o ano trouxe o maior número de incidentes em uma década. Mas podemos realmente jogar toda a culpa nas sprints?
Ame-as ou odeia-as, as sprints chegaram para ficar na MotoGP. A introdução pode ter sido repentina e pesada, mas o objetivo principal era aumentar o interesse das pessoas pela categoria. E os números de 2023 mostram que isso definitivamente aconteceu nos autódromos.
Dos 20 GPs de 2023, 15 deles mostraram um aumento na presença de público no sábado. Do resto, não temos os números de Austin, a Índia fez sua estreia, Indonésia e Argentina tiveram uma leve queda, e a Austrália teve uma mudança na programação, com o GP passando para o sábado por causa das condições climáticas. No geral, 16 eventos superaram os números de 2022.
Há outros fatores que precisam ser considerados. A temporada de 2022 ainda foi muito afetada pela Covid-19, então alguns eventos certamente foram impactados. O GP da França de 2023 registrou o recorde histórico de público, com 278.805 pessoas. Mas a França tem dois pilotos muito populares (Fabio Quartararo e Johann Zarco), e a organização do evento nas mãos de Claude Michy - além de seu efetivo custo por pessoa - sempre fez com que Le Mans fosse mais uma exceção do que a regra.
Mas causa e efeito também precisam ser considerados: a MotoGP adicionando uma alternativa de entretenimento em vez de um quarto treino livre coincide com um ano de forte presença nos autódromos. E, por isso, a Dorna merece o crédito por evoluir uma categoria que estava estagnada há alguns anos.
Mas o fato de que nenhuma das 39 corridas feitas em 2023 (a sprint da Austrália foi cancelada), seja GP ou Sprint, não tenha contado com o grid inteiro, é uma estatística preocupante que vem ao lado de 2023 ter sido a temporada com mais quedas em uma década.
Foram 358 quedas ao longo das 20 etapas feitas pela MotoGP em 2023 em uma amostra dada pela Dorna à imprensa com a coleta começando em 2010. Naquele ano vimos o menor registro, com 134, quando apenas 17 pilotos competiram em 18 etapas, contra 22 pilotos em 2023.
Comparado com as 335 quedas de 2022, porém, o aumento foi de apenas 23. No total do ano, 49 quedas vieram nas sprints. Dos nove pilotos que perderam corridas ano passado, cinco deles sofreram lesões nas sprints: Enea Bastianini em Portugal, Luca Marini na Índia, Miguel Oliveira no Catar, Joan Mir na Argentina e Álex Rins na Itália.
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
Bastianini foi a primeira vítima da sprint logo em sua corrida de estreia pela Ducati
Porém, a maioria das quedas aconteceu nos GPs - 86 em total. Ao longo da temporada, vimos vários acidentes nas largadas. Isso não é necessariamente uma questão relacionada às sprints, mas uma estatística talvez possa apontar para os motivos para isso - e o aumento geral de quedas em 2023 - sendo pelo menos causada em parte pela mudança do fim de semana.
Ao longo do segundo treino livre da sexta-feira, com o fim do TL2 determinava os grupos de classificação, tivemos 108 quedas. Em 2022, foram apenas 50, quando o TL3 do sábado determinava os grupos. TL2 e TL3 em 2022 combinados totalizaram 118 quedas.
O novo formato com a sprint aumentou a importância da sexta-feira. Terminar fora do top 10 poderia ser desastroso para o resto do fim de semana, pela necessidade de disputar o Q1 no quali.
Uma das maiores vítimas do novo formato foi Pol Espargaró, da Tech3 GasGas. Ele sofreu lesões horríveis em uma queda feia no fim do TL2 do GP de Portugal, a primeira etapa do ano. O espanhol ficou de fora até agosto, voltando no GP da Grã-Bretanha, e ainda perdeu sua vaga para 2024.
A mudança para que apenas o TL2 determinasse os grupos de classificação a partir do GP da Grã-Bretanha foi tomada apenas após protestos dos pilotos sobre o grande stress e a segurança. O número de quedas após essa novidade (12 etapas no total), registrou uma queda a mais em comparação a 20 TL1s, 11 acima dos 20 Q2 do ano e apenas seis a menos que as 19 sprints.
O aumento no número de quedas em 2023, porém, não pode ser atribuído apenas às sprints. A nova pressão dos pneus, especialmente o dianteiro, combinado com o fluxo aerodinâmico das motos modernas tornaram as ultrapassagens mais difíceis. O efeito dominó é visível.
Uma janela pequena antes do pneu dianteiro torna-se precário com essa nova pressão levou a uma necessidade dos pilotos terem que sair rapidamente do ar sujo. As dificuldades em ultrapassar não somente colocam seu pneu dianteiro em condição ruim como também dificultam a possibilidade do piloto avançar pelo grid. E a necessidade de forçar a barra aumentam as chances de uma queda.
Mas as sprints forçam os pilotos a fazerem isso duas vezes por fim de semana. Então, enquanto o novo formato não podem ser totalmente culpado pelo aumento nas quedas, há definitivamente uma correlação que não pode ser ignorada.
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Quartararo acredita que a sprint é tão cansativa quando o GP, e questiona seu posicionamento permanente no calendário
"Não é uma coincidência, é um grande problema", disse Quartararo no ano passado sobre o dado das corridas não contarem com o grid titular. "Esse já é um esporte perigoso mas, como piloto, posso te garantir que, na sprint, você se cansa até mais que na corrida longa. E a moto que usamos é cada vez mais física. Não acho que precisamos de uma sprint em cada GP. Você está em Valência, é o fim da temporada, todos já estão cheios, você quer colocar mais uma no sábado?".
"Não podemos fazer mais isso. Não sou o cara que organiza tudo. Não sei qual é a opinião dos outros pilotos, mas não acho que esse seja o modo correto".
A opinião de Quartararo é compartilhada por vários pilotos, mas há outros que pensam o contrário também. Essa é a natureza humana - nunca será possível agradar completamente a todos. Geralmente, no automobilismo, sua opinião é moldada do ponto de vista da posição que você frequentemente está nas corridas.
Como já mencionado, a MotoGP viu um aumento nos públicos de sábado em 2023 em relação aos anos anteriores. Nesse sentido, a sprint é um sucesso. E, dessa perspectiva, não dá para argumentar contra a categoria mantendo o formato como está.
O que se sobressai é o fato de que nenhum piloto do grid de 2023 esteve presente em todas as corridas do ano, porém, eles ainda apareciam na abertura transmitida minutos antes para todo o mundo. Lesões acontecem na MotoGP, mas construir uma marca em torno de rostos que os fãs casuais nem sempre veem não é algo sustentável.
Reduzir o número de sprints por ano não somente traria variedade ao campeonato, criando pontos críticos na campanha, como também teria um efeito dominó na quantidade que quedas que temos hoje.
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