Análise

ANÁLISE: Os fatores por trás da renovação de Quartararo com a Yamaha na MotoGP

O futuro de Quartararo era uma peça fundamental do mercado de 2025 mas agora ele renovou por dois anos com a Yamaha. E, por mais que isso possa surpreender, há muitos fatores por trás desta decisão

Fabio Quartararo, Yamaha Factory Racing

Antes de decidir estender seu contrato com a Yamaha - um acordo anunciado na semana passada - Fabio Quartararo tinha que optar entre dois caminhos: ser competitivo novamente o mais rápido possível, ou considerar um caminho mais lucrativo e visando o longo prazo na MotoGP. A falta de progresso da Yamaha dificulta a volta do francês às vitórias antes do fim do novo acordo, que o torna o piloto mais bem pago do grid.

Desde a conquista do título em 2021, a curva de performance da Yamaha vem caindo de forma vertiginosa, podendo ser comparado apenas à outra montadora japonesa do grid. A Honda não teve outra escolha a não ser liberar Marc Márquez no fim do ano passado, com o espanhol optando por não seguir com o último ano de seu contrato de 20 milhões de euros.

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Márquez optou por uma jornada arriscada, indo para a satélite da Ducati, a Gresini, com a moto do ano anterior. Ele decidiu por esse caminho para que, como ele mesmo diz, "possa curtir ser competitivo novamente".

Faz muito tempo que Quartararo não se diverte com a M1 devido às limitações da moto, em especial uma falta de tração, além da falta de manuseio, um traço histórico da moto japonesa.

Sua última renovação havia sido feita em junho de 2022, quando ele liderava o campeonato, lutando pelo bi até a última corrida. Naquele momento, a moto ainda era competitiva, com três vitórias e mais pódios. Em 2023, foram apenas três pódios com três terceiros lugares em Austin, na Índia e na Indonésia.

Quartararo assinou um novo contrato - há duas semanas - sabendo que a moto não é competitiva, e que não deve ser durante esse novo acordo, que é válido até o fim de 2026. No Catar, o francês ficou a 1s2 da pole de Jorge Martín, terminando a sprint em 12º, a 12s de Martín, enquanto no GP ele ficou a 18s de Francesco Bagnaia, com a GP24.

Fabio Quartararo

Fabio Quartararo

Foto de: Gold and Goose / Motorsport Images

Em uma pista muito suja, que impediu a Ducati de tirar o máximo de sua moto, Quartararo foi o sexto no grid em Portugal, a apenas 0s6 da pole de Enea Bastianini, terminando a sprint de sábado em nono, a 7s5 de Maverick Viñales e, no domingo, ficou em sétimo, a 20s de Martín. Mesmo com a revolução interna da Yamaha, promovida pela chegada de Max Bartolini como diretor técnico, não será uma operação rápida.

Sob condições normais, a diferença da Yamaha para as motos europeias é de mais de 0s8 nas pistas. Na situação atual, e com o regulamento estável até 2027, reduzir essa diferença não é algo que será feito em dois anos. E isso considerando que eles darão os passos corretos. Se a Yamaha não acertar, essa transição pode ser ainda mais longa.

Isso nos permite concluir, quase que com total certeza, que Quartararo não lutará pelo título a médio prazo. Será neste momento que o peso das mensagens do francês para a Yamaha aumentarão novamente.

"A Yamaha é a prioridade porque foram eles quem me trouxeram para a MotoGP. Eu confio na marca e dei uma chance a eles, mas não haverá outra", disse Quartararo ao Motorsport.com em agosto do ano passado. "A Yamaha vem me promovendo coisas com PDFs de 10 páginas há três anos, mas eles não cumprem nove e meia delas".

Independente das garantias técnicas que a equipe liderada por Bartolini podem ter dado a ele, o outro ativo do chefe Lin Jarvis é o financeiro. O acordo de 12 milhões de euros é mais que o dobro do de Bagnaia na Ducati, sem os bônus de performance, tornando-o mais bem pago do grid.

Não haviam muitas alternativas que o permitissem pegar uma moto melhor mantendo seu patamar financeiro. A opção mais sólida era a Aprilia, que chegou a negociar com ele.

"O que queremos são pilotos comprometidos com nosso projeto. Sabemos que temos uma moto capaz de lutar pelo título", disse o CEO Massimo Rivola ao Motorsport.com.

Aprilia CEO Massimo Rivola

Aprilia CEO Massimo Rivola

Foto de: Gold and Goose / Motorsport Images

O Grupo Piaggio, e sua divisão de corridas, não tinha grana para entrar em disputa com a Yamaha, mas tem a moto. O interesse crescente pela RS-GP nos últimos anos foi evidenciado em vários momentos. Em Portugal, Viñales venceu a sprint do sábado e ficou perto do pódio no domingo, mas uma falha no câmbio o deixou na mão no fim.

A reorganização e modernização de sua estrutura interna e a dinâmica de trabalho fizeram com que a Aprilia virasse uma das equipes mais modernas e inovadoras do paddock. Em certas áreas, pode até mesmo ser comparada com a Ducati. Mas não tinha como oferecer mais do que quatro milhões de euros, um terço da Yamaha.

Se o acordo da Aprilia significava uma redução em seu salário, as outras opções seguiriam o mesmo caminho. Na Ducati, há ainda a briga já polarizada pela segunda vaga na equipe oficial. Se Quartararo quisesse uma Desmosedici, teria que fazer em uma satélite, com as óbvias desvantagens financeiras e de status.

O caso da KTM não é tão diferente, com Brad Binder garantido até 2026 e a marca já flutuando ao redor de Pedro Acosta. E uma ida para a Honda faria ainda menos sentido, considerando que a marca está em um buraco ainda maior que o da Yamaha.

Fabio Quartararo

Fabio Quartararo

Foto de: Gold and Goose / Motorsport Images

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