ESPECIAL: Galid Osman e Diego Nunes: rivais, amigos e cunhados
Conheça a história de dois dos principais pilotos da Stock Car, que contaram a origem da amizade que se transformou em parentesco, com passagens divertidas após 20 anos
Mogi Guaçu, sábado, véspera da segunda etapa do campeonato de 2019 da Stock Car, no Autódromo Velo Città. No hotel em que a maioria dos pilotos e suas famílias estão hospedados, Sofia, de um ano de idade, filha do piloto Diego Nunes, corre pelo saguão até encontrar o pai. Não satisfeita, olha para o lado e parte para os braços de um adversário de pista que grita: "vem com o titio". Trata-se de Galid Osman, e o "titio" no caso não é no sentido figurado.
O casamento entre Galid e Paloma Nunes, irmã de Diego, aconteceu no final do ano passado e sacramentou um relacionamento que havia começado em 2016, após a irmã do piloto da KTF ter saído de um namoro de oito anos.
Mas a relação entre os dois pilotos começou muito antes disso. Foi em 1999, quando ambos estavam em uma competição no kartódromo de Interlagos. Diego encarava seus primeiros campeonatos, tendo iniciado no esporte a motor poucos meses antes, e Galid, que havia começado aos sete anos de idade, e que na época já tinha 13, encontrou um rival e amigo.
“Me lembro que o Diego chegou, ninguém o conhecia e já começou andando bem e foi campeão no kart já no segundo ano”, disse Galid, que visitou a redação do Motorsport.com Brasil ao lado de Diego.
“Quando eu tinha uns nove anos, eu já enchia o saco do meu pai”, disse Nunes, explicando como iniciou no automobilismo. “Eu via na TV alguma coisa ou outra e ele me enrolou muito. Consegui começar a treinar no kart no início de 1999, por causa da minha insistência.”
Assim que se conheceram, os dois se tornaram amigos. Galid era muito de Felipe Lapenna hoje também piloto da Stock, e Diego passou a fazer parte do trio. "Nós éramos amigos, mas os nossos pais também. Fizemos viagens juntos, inclusive", afirmou Osman.
Com a carreira de Nunes se transferindo para a Europa, um pequeno distanciamento aconteceu, mas quando o atual piloto da KTF voltou a competir no Brasil, após correr na GP2 (atual F2), a amizade se fortaleceu mais do que nunca.
Amizade e casamento
Com as famílias entrosadas, Galid é figurinha fácil na casa de Diego, principalmente na hora de compartilhar o simulador que Nunes tem em casa. As esposas se conhecem há 15 anos, período em que a mulher de Nunes e a sua irmã se conhecem.
“A partir de 2010 as duas famílias ficavam muito juntas. Íamos para a pista juntos, para a praia, virada do ano e tudo mais. Só que eu sempre soube que ela era um ‘bom partido’, que ela trabalha desde os 16 anos”, disse Galid ao explicar a aproximação com sua futura esposa. Irmão mais velho, e coruja, Nunes concorda. "Ela é o futuro dos negócios da nossa família. Ela é meu pai melhorado". Os "Nunes" são responsáveis pela Chocolândia, cadeia de lojas especializadas em vendas no atacado e varejo de matéria-prima de doces.
“Eu sempre soube que ela é trabalhadora, é óbvio que já a achava bonita. Em 2016 ela terminou um namoro de longa data e depois de um mês eu já estava ‘em cima’. Fomos à praia, com todo mundo, e ficamos lá pela primeira vez”, continuou Galid
Após “ficar” pela primeira vez com a irmã do melhor amigo, a tarefa ingrata era comunicá-lo da novidade. O que poderia se tornar um ponto de ruptura na relação entre eles, virou motivo de risadas e de comemoração na família.
“Ele ficou sabendo que eu já sabia e veio falar comigo”, disse Diego. “Eu morri de rir, porque ele veio pedir minha permissão. Na verdade, eu dei graças a Deus porque foi o Galid, conheço ele desde moleque, eu era o mais feliz de todos.”
Diego também não goza de boa fama na família quando se trata de um segredo. Quando Galid decidiu pedir Paloma Nunes em casamento, o seu rival das pistas foi o último a tomar conhecimento, justamente para que a futura noiva não soubesse antes do pedido oficial.
Bandeira preta, só na pista
Saindo do âmbito familiar e indo para as pistas da maior categoria do automobilismo brasileiro, o clima entre os dois em competições sempre foi de muito respeito. Mas quis o destino que a única bandeira preta que Galid Osman recebeu na vida tenha o envolvimento direto de Diego Nunes.
Foi na etapa de Cascavel de 2014, quando Galid acabou atingindo Nunes, após acionar o push to pass, e o mandou direto pra o muro. Quem achou que a família Nunes condenaria quem causou o acidente, se enganou.
“O push to pass te dá 100 cavalos de potência a mais, em Cascavel você aciona ele em uma descida e tem um efeito muito grande. Dá para passar até três carros. Eu acionei o push atrás do Diego, fui jogar para dentro para passá-lo, ele viu no retrovisor colocou para dentro também. Só que aí, depois disso, eu tentei dar o bote por fora, só que ele deu uma mexida também. Acertei a traseira dele e ele estampou o muro de frente. Na hora recebi bandeira preta.“
“Se hoje ele bate em mim, não fico bravo porque tenho certeza absoluta de que não foi por maldade. Mas nesse dia, eu dei uma entrevista ao vivo e disse ‘pô, o Diego é meu amigo, nunca jogaria ele para fora’, e daí a mãe dele, que hoje é minha sogra, disse ‘nossa, esse menino é bonzinho, né?’”, completou Galid às gargalhadas.
Reclamando da própria mãe, Diego relatou contrariado: “Depois ela veio me dizer ‘coitado do Galid, você viu a entrevista dele?’. 'Não mãe, não deu. Eu estava batendo a mais de 200 km/h.”
Amigos, mas com limites para assuntos de pista
O limite da amizade entre Galid Osman e Diego Nunes vai de acordo com o interesse de cada um na hora de competir.
Com todo o grid sabendo da ligação entre os dois, ambos admitem que os times freiam no oferecimento de alguns detalhes de acerto para cada prova, por medo de um acabar contando ao outro.
“Quando eu estava na Full Time e ele (Galid) na Mattheis, que são duas equipes grandes, o chefe de equipe falava ‘putz, esses caras são cunhados, são amigos’, eles meio que ficavam escondendo algumas coisas”, disse Diego.
Para evitar vazamento de informações, principalmente por conta das estratégias utilizadas por cada equipe, e não só apenas no caso de Galid e Diego, a maioria das equipes da Stock Car decidiu realizar as reuniões de estratégias apenas na manhã das corridas.
Mas Galid admitiu que sua preocupação era outra e se alguém de sua própria equipe esconde algo dele, isso não prejudica sua prova.
“Eu sou um piloto que se preocupa mais com a minha guiada, com meu desempenho, eu deixo para a equipe a questão de setup.”
E explicou a mudança: “Antigamente as reuniões de estratégia eram no sábado. Você às vezes saia da pista, encontrava alguém e perguntava ‘e aí? Amanhã serão quantos pneus na parada?’ E sem querer você acaba soltando ou recebendo alguma informação importante e isso hoje interfere demais na estratégia. E eu acho isso certo.”
Galid Osman e Diego Nunes
Photo by: Paulo Trindade
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