Mathias: Conseguimos boa parte dos objetivos traçados para a Stock Car
Ex-comandante da maior categoria do automobilismo brasileiro, Rodrigo Mathias falou sobre o que o levou à sua renúncia e comentou algumas das queixas de sua gestão dos principais envolvidos com a Stock Car
Nesta quinta-feira foi oficializada a saída de Rodrigo Mathias do comando da Stock Car, após dois anos de trabalho à frente da maior categoria do automobilismo brasileiro.
A saída de Mathias veio quase um mês depois do surgimento de um Conselho dentro da Vicar, empresa que organiza o campeonato, em que ele teria que se reportar não mais diretamente ao presidente do grupo Time for Fun (T4F), mas ao próprio Conselho, contando com o retorno do lendário dirigente Carlos Col. Ele ficará na T4F para um período de transição, quando se desligará totalmente da companhia.
Em entrevista exclusiva ao Motorpsort.com Brasil, Mathias esclareceu a sua posição ao episódio de sua saída, reafirmando que acompanhou de perto a reestruturação desta parte do negócio da Vicar e que encarou com naturalidade a mudança.
“Como houve algumas mudanças estruturais dentro da companhia, eu tinha que dar mais liberdade para um novo plano, um novo ciclo de negócios. Foram dois anos à frente da Stock Car, em que dentro dos objetivos traçados, nós pudemos alcançar boa parte deles.”
“Reposicionamos a categoria e a Vicar em termos de performance financeira do negócio, que vinha em recorrentes quedas, conseguimos reposicionar o produto para atingir uma sustentabilidade econômica novamente. Aumentamos muito a projeção da categoria, tanto em termos de audiência, quanto em público no autódromo. Implantamos uma plataforma de comunicação de geração de conteúdo para o público atualizada.”
“Naturalmente, quando se constituiu o conselho, eu tinha a ciência de todas as tratativas, com a aproximação do Carlos Col novamente, muito por conta do envolvimento técnico, que obviamente eu tenho uma bagagem muito menor, e isso foi sempre de uma forma construtiva.”
“Me senti muito confortável na conclusão desse processo, de poder fazer a transição da minha saída sem gerar o mínimo de impacto para o negócio.”
Mathias desmentiu que ter que se reportar ao Conselho não foi um motivo relevante de sua saída.
“O fato de eu me reportar ao Conselho não é um incômodo, naturalmente eu me reportava ao presidente da T4F. Passar a me reportar ao Conselho veio após uma mudança estrutural. Pelo potencial de alavancagem, deu a entender que era saudável para o negócio. Eu tinha que olhar para o lado do negócio, não poderia colocar algo pessoal à frente.”
Um dos grandes feitos que Mathias alega ter realizado foi a recuperação financeira que a categoria passou nos últimos dois anos.
“A categoria vinha com dificuldades financeiras nos anos anteriores da minha gestão. A partir da minha entrada, foi traçado um objetivo de melhora financeira do negócio para reposicionamento do produto e também o trabalho de buscar um crescimento de audiência de consumidores."
"Então, dentro desses objetivos macros traçados, tivemos sucesso em todos eles. Conseguimos reposicionar a categoria financeiramente, hoje podemos falar que ela é sustentável economicamente, tem negócios importantes concluídos que devem ser divulgados em breve, o que projeta voos mais altos do negócio.”
Adeus de grandes patrocinadores
Uma das maiores queixas sobre a administração de Rodrigo Mathias é a saída recorrente de grandes patrocinadores da Stock Car. Recentemente, companhias como Hero, Bardhal e Eisenbahn anunciaram retirada da categoria. A Shell ainda não definiu sua permanência.
“Eu entendo que esse viés, de associar a saída de algumas companhias a alguma questão de desacordo da categoria é míope. A Stock Car tem um desafio muito importante na balança entre investimento e retorno, desde visibilidade da marca, plataforma de relacionamento, experiência de público e geração de conteúdo."
"O número de empresas que utilizam a plataforma da Stock Car é impressionante. Quando a gente analisa a relação de investimento X retorno, eu entendo que a categoria tem um papel importante nessa questão.”
“Quando você viabiliza a participação ou a presença da categoria em grandes praças econômicas ou grandes capitais, isso muda significativamente em relação ao retorno. Hoje estamos em algumas capitais importantes como São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, mas existem capitais relevantes dentro do contexto econômico nacional que não são atendidas pela categoria.”
“Temos praças com baixíssima relevância econômica que estão hoje no calendário por não termos autódromos nessas capitais. Meu ponto é que isso precisaria ser encaminhado independentemente de força pública ou privada de construção de autódromo.”
Sobre a possível saída da Shell, Mathias prefere esperar e analisar os motivos que poderiam tirar a gigante do grid.
“Seria extremamente ruim se a Shell não continuar na categoria, até porque é alguém da cadeia de valores do negócio (combustível). Na minha avaliação, a saída de uma empresa que está dentro da cadeia de valor do negócio tem que ser avaliada para que evite que outras potenciais saídas. Se para quem está dentro da cadeia, a nossa plataforma não é mais atrativa, será muito menos para quem está fora. Teria que se entender o que levou a essa saída.”
Calendário
Outra queixa recorrente da Stock Car é a demora na oficialização e divulgação do calendário de provas. Rodrigo Mathias pondera sobre as reclamações e disse que pilotos e equipes já possuem um esboço há mais de um mês.
“Hoje, todas as equipes e pilotos têm o calendário à sua disposição. Eles receberam isso oficialmente há uma semana, mas extraoficialmente há mais de um mês. Existe um processo natural que esse calendário passe para a promotora e para o media partner (Globo), além da homologação da CBA.”
“O calendário da Stock Car é formatado a partir da definição de alguns outros calendários esportivos, tanto do ambiente do automobilismo, quanto de outros esportes do Brasil. Temos uma parceria com o mesmo media partner dos principais conteúdos esportivos do Brasil. A final da Stock Car, por exemplo, começa a ser discutida quando você tem a definição do calendário da F1, com a definição do Campeonato Brasileiro de futebol, da Libertadores, então você tem todos esses aspectos da decisão do calendário da Stock Car.”
“Aí você tem o desdobramento disso também com outras diversas categorias para que permita que o conteúdo esteja dentro da grade de forma adequada, de preferência no SporTV 2, que é o canal que dá maior dimensão, maior audiência, e não confrontando com outros eventos de automobilismo importantes, para que a gente tenha o time A do do SporTV na transmissão.”
“O processo de divulgação foi atrasado um pouco por conta da renovação com o próprio media partner Globo/Globosat. Com isso concluído, o calendário deve ser divulgado.”
Sobre possíveis mudanças no formato das corridas, o ex-dirigente também enfatizou a antecedência que o assunto está presente entre pilotos e equipes.
“O formato de campeonato vem sendo discutido desde agosto em uma forma de construção conjunta. Como promotor, nos colocamos nossa visão sobre o produto, naquilo que auxiliará no crescimento contínuo da categoria, mas isso é feito sempre de uma forma construtiva com as equipes. Em linhas gerais, nós temos o modelo desenhado e em um segundo momento estamos passando isso para o regulamento da categoria, que tem que ser homologado na CBA e oficializado publicamente.“
Rodrigo Mathias fez questão de ressaltar que a ida dele a Miami, de férias em novembro, não tem nada a ver com sua saída. O período fora do Brasil era parte de um acordo de férias já combinado com antecedência com a administração da Vicar.
Ele ressaltou que mesmo fora do trabalho, ele manteve contato com o que se discutia dentro do grupo. O ex-dirigente disse que também aproveitou para comparecer à final da NASCAR, em Homestead-Miami, mesmo com a família, para buscar informações que poderão ser úteis na Stock Car para o futuro.
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