Dez anos depois, personagens lembram morte de Sperafico
Cacá Bueno, Dino Altmann e Reginaldo Leme trazem lembranças de um dos dias mais tristes da história da Stock Car
Há exatos dez anos, no dia 9 de dezembro de 2007, o Autódromo de Interlagos recebia, em um clima de grande festa, a 12ª e última etapa da Stock Car de uma de suas temporadas de maior sucesso.
Com título da categoria principal nas mãos de Cacá Bueno desde a etapa anterior, no Rio de Janeiro, faltava agora saber quem seria o campeão da Stock Light, categoria de acesso e que corria logo após a principal. Na briga pelo título estavam Norberto Gresse Filho, André Bragantini Jr e Gustavo Sondermann.
Vindo de acidente na etapa anterior, disputada em Curitiba, Sondermann não deu chances aos rivais e largou da pole position, tendo a seu lado na primeira fila seu companheiro de equipe FTS Competições, o paranaense Rafael Sperafico. Bragantini largou em terceiro e Gresse em sexto.
Bandeira verde agitada e foi dada a largada. Porém, já nas primeiras voltas, um acidente tirou da prova o então líder do campeonato Norberto Gresse e acionou o Safety Car. Na quinta volta a relargada foi autorizada e na sexta volta outro acidente, este muito forte.
Rafael Sperafico, que fazia sua estreia na Stock Light naquele ano e já computava a vitória da etapa de Campo Grande, escapou da pista na Curva do Café, bateu na barreira de pneus e voltou para a pista.
Enquanto ainda rodava na pista, foi atingido violentamente na lateral esquerda pelo carro da ATW Racing pilotado por Renato Russo, que não teve tempo de desviar, pois vinha colado em seu companheiro de equipe, Cristiano Federico, que conseguiu evitar o choque.
A batida em T, que é quando um carro atinge outro em cheio na lateral, é uma das mais temidas no mundo do automobilismo e destruiu o carro de Sperafico. A prova foi imediatamente interrompida.
A princípio, apenas a bandeira amarela foi agitada e, mais uma vez acionou o SC, mas depois da chegada da equipe médica, chefiada pelo Dr. Dino Altmann, foi constatada a gravidade do acidente e a prova foi encerrada com bandeira vermelha.
Rapidamente resgatados, Russo e Sperafico foram encaminhados ao posto médico de Interlagos e uma longa espera por notícias se arrastou. Cerca de duas horas mais tarde, Altman se dirigiu à sala de imprensa do circuito, acompanhado por Carlos Col, promotor da Stock Car na época para dar a notícia que ninguém queria ouvir: “O Rafael teve um traumatismo cranioencefálico extremamente grave com parada cardiorrespiratória. Apesar de todos os esforços feitos, nós não conseguimos recuperá-lo.”
Em entrevista ao Motorsport.com Brasil, Altmann recordou o que viu assim que chegou ao carro destruído do piloto de 26 anos.
“O carro estava completamente destruído e, de imediato, percebemos que não teríamos muito que fazer”, lembrou Altmann.
Russo, que ficou preso por alguns minutos às ferragens, foi levado de helicóptero para um hospital próximo ao circuito, onde foi diagnosticado com traumatismo craniencefálico e toracoabdominal e precisou ficar internado por alguns dias para se recuperar.
“Sofro algumas consequências físicas do acidente, mas me cuido fazendo funcional. Além de perder 30 cm de intestino, ganhei duas hérnias de disco na altura do pescoço”, contou Renato ao Motorsport.com Brasil.
“Não consigo deixar essa memória para o passado, rezo sempre por ele e a lembrança que acaba ficando é um vazio enorme. Era um piloto jovem e promissor”, completou.
Comemoração transformada em luto
Campeão da Stock Light daquele ano, Norberto Gresse lembra que, mesmo com suas arquibancadas lotadas, o silêncio dominou o Autódromo de Interlagos naquele dia que deveria ser de festa.
“Naquela corrida, um adversário, não lembro quem, bateu no meu carro e me tirou da corrida logo no início. Pouco tempo depois, enquanto eu ainda caminhava para os boxes, vi que deram bandeira vermelha e eu fiquei sabendo que a prova estava interrompida. Não sabia direito o que estava acontecendo. Mas o que mais me marcou foi o silêncio no autódromo, com todo mundo aguardando uma notícia. Naquele momento pouco importava quem era o campeão ou não. Foi um título que não teve muita comemoração”.
Eduardo Antonialli, hoje assessor de imprensa da Stock Car, fazia sua primeira temporada como redator do site oficial da categoria e também lembra que teve a impressão de estar em um autódromo vazio.
“Lembro que todo mundo parou, congelou o autódromo, ninguém falava nada e todo mundo ficou apreensivo, até a notícia que todos esperavam, mas que ninguém queria ouvir. Lembro do Dino na sala de imprensa de Interlagos, mas não consegui prestar atenção em nada que ele falou. Depois disso, eu saí da sala pra dar uma arejada e parecia que o autódromo estava vazio. Um silêncio assustador, que não tem como esquecer”, recordou.
Diferente do que acontece hoje, a categoria principal corria antes da Light e teve como vencedor o paulista Marcos Gomes, que naquele dia subia pela primeira vez no andar mais alto do pódio.
“Aquela tinha sido a minha primeira vitória na Stock Car principal, mas a minha alegria durou apenas uma hora, ou uma hora e meia, que foi o tempo entre o pódio e o acidente do Rafael. Ali, toda alegria que eu sentia foi por água abaixo e se transformou em luto, pois ninguém imaginava que poderíamos enfrentar uma tragédia desse tipo, ainda mais no circo da Stock Car. Foi muito triste e praticamente não comemorei a minha primeira vitória na categoria”, contou Gomes ao Motorsport.com Brasil.
Bicampeão da Stock Car com uma etapa de antecedência, Cacá Bueno lembra que, em um primeiro momento, achou que o choque havia sido um acidente como outro qualquer, mas depois percebeu a real dimensão do ocorrido.
“Naquele dia, estávamos comemorando o campeonato, que já estava garantido desde a corrida do Rio, e cheguei a Interlagos bem tranquilo. Como eles (Stock Light) corriam depois de nós (Stock Car), eu estava entre amigos comemorando quando contaram que alguém tinha batido forte. Nos primeiros 15 minutos, eu pensei: ‘Esses carros são resistentes, foi feio, mas não vai dar nada’. Mas aí as notícias foram vindo aos poucos, cada vez piores e a confirmação da morte foi um baque geral”.
Reginaldo Leme, que há mais de 40 anos cobre automobilismo, também estava em Interlagos naquele dia e lembra com muita tristeza do acidente.
“Eu assistia à largada da Stock Light e ia cuidar do meu trabalho, que era visitar as equipes para perguntar como tinha sido o fim de semana. Eu estava terminando este meu trabalho na equipe AMG, que era a última que eu visitava e, como tradicionalmente acontecia, nos reuníamos lá para tomar uma cerveja, quando veio a notícia do acidente. Claro que não sabíamos da morte, mas a notícia assustou todo mundo. Aí procurei o Dr. Dino e ele me disse que a situação era grave. Esta é uma lembrança muito triste que eu tenho.”
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