Análise: porque a Nissan chegou ao WEC para ficar
A decisão da Nissan de não disputar as 6 Horas de Nurburgring poderia ser visto como preocupante para o futuro do programa LMP1 da marca, mas Sam Smith acredita que a fabricante japonesa segue no WEC
O anúncio da Nissan na semana passada, informando que não disputaria as 6 Horas de Nürburgring – e, possivelmente, desistiria da temporada de 2015 do Mundial de Endurance – esteve longe de ser uma surpresa para quem acompanha o desenvolvimento dessa história desde o anúncio da entrada da marca na classe principal do WEC.
Após o fiasco em Le Mans, ficou evidente que o Nissan GT-R NISMO LM, projetado especificamente para La Sarthe, teria ainda mais dificuldades no sinuoso circuito de Nürburgring.
O fato é que um dos carros de corrida mais inovadores dos últimos anos não precisa disputar as etapas restantes desta temporada. O protótipo precisa é ser exaustivamente testado, para aperfeiçoar todos os detalhes e, assim, ter todos os elementos trabalhando em plenitude.
Olhando desta forma, a Nissan tomou uma decisão correta na semana passada. Com KERS de 2016 consolidado antes de Le Mans, será possível ver a real capacidade do projeto de Bem Bowlby em um retorno definitivo – que, na realidade, será o primeiro programa realmente competitivo da marca.
No retorno à divisão principal em La Sarthe, neste ano, o protótipo japonês teve desempenho abaixo da crítica. Como não puderam utilizar os sistemas de recuperação de energia, os pilotos ficaram limitados a andar pela pista, certificando-se apenas de que freios e a suspensão dos carros resistissem às 24 horas de prova. Ainda assim, apenas um dos carros concluiu a prova, mas não completaram voltas suficientes para figurarem na classificação final.
Após a corrida, este que vos escreve caminhou na direção oposta a da multidão que se dirigia ao pódio. O objetivo era ver o clima nos boxes da fabricante japonesa. Muitos estavam tristes com o que acontecera, mas todos mereceram os elogios que receberam dos patrões por todo o trabalho realizado durante os mais de nove meses antes da prova.
A Nissan chegou à LMP1 para ficar
A Ben Bowlby Racing, responsável pela execução do programa LMP1 da Nissan, iniciou recentemente um processo de recrutamento de pilotos. Em resumo, o time reiniciou os trabalhos para que o retorno seja diferente do que foi visto em Le Mans.
Quando questionado pelo Motorsport.com se havia algum tipo de arrependimento por não ter utilizado o ano de 2015 somente para testes e desenvolvimento, o chefe da Nissan no WEC, Darren Cox, respondeu de maneira pragmática e erudita.
"Nos pareceu uma boa oportunidade, ao ver as regras de chassis e de transmissão. Poderíamos tanto ter entrado em 2015, como aconteceu, ou esperar até 2017 (quando um novo regulamento para a LMP1 será colocado em prática)”.
"Ninguém se comprometeria a apenas um ano neste campeonato. Fato é que você tem que estar em Le Mans e colocar o carro na pista, pois só há uma oportunidade para isso durante o ano todo. A única coisa que lamento é não poder ter experimentado o nosso KERS por mais tempo” possivelmente estava furando com a tentativa de fazer o nosso trabalho original do sistema KERS por um período de tempo."
É muito fácil criticar a Nissan. Nas conversas informais nos cantos do paddock, muitos demonstram certa satisfação com os fracassos alheios. Mas o fato é que todos os principais fabricantes passam por dificuldades antes de alcançar o sucesso.
Em 1999, a Audi chegou a Le Mans com os primeiros protótipos – o cupê R8C e o aberto R8R. No fim, apenas dois carros terminaram (ambos R8Rs), cinco e 10 voltas, respectivamente, atrás do BMW V12 LMR que venceu aquela edição. O time de Ingolstadt aprendeu o essencial na primeira participação e escreveu o nome na história da prova francesa nos 16 anos seguintes.
A Nissan, entretanto, vem de uma perspectiva muito diferente. A entrada na LMP1 é apenas uma parte do compromisso dos japoneses com o automobilismo. Mas, como em toda grande empresa, há a necessidade de apresentar resultados, especialmente por se tratar da classe principal do Mundial de Endurance.
A seguinte afirmação foi atribuída a Carlos Ghosn, presidente do grupo Nissan-Renault: “Nós queríamos ser diferentes e competitivos, mas conseguimos apenas ser diferentes". Apesar de dura, impossível discordar da observação. Você pode ter o design mais brilhante, inovador e inspirador do mundo, mas e se os resultados não aparecem? Resta apenas a novidade e a curiosidade futurista.
Cox e seus comandados sabem disso e, depois de falar com ele na semana passada, tenho a impressão de que ele está realmente comprometido com o desafio e quer superá-lo. E os que conhecem Ben Bowlby sabem que ele é uma pessoa que não se intimida com as dificuldades.
Os comentários de Ghosn foram o prelúdio para as decisões tomadas na revisão do programa no Japão no mês passado. Mas isso é preocupante para o futuro da Nissan no WEC? Cox não vê desta forma.
"Eu ficaria preocupado se não houvesse uma revisão acontecendo. Você pode ter certeza que a Audi, Porsche e Toyota fazem o mesmo constantemente. Tivemos reuniões com os executivos da marca após Le Mans, isso é normal. Este programa não está sob risco. Nosso comitê executivo apenas exige relatórios intra e extra-pista”, disse.
"O que temos que lembrar é que fizemos um trabalho de divulgação uma semana antes da corrida melhor do que a Porsche, que fez uma semana depois. Isso mostra os benefícios que de nossa abordagem em relação aos fãs", ponderou.
Cox é, de fato, um homem adepto da estratégia de marketing. Os resultados são visíveis - 2,4 milhões de pessoas assistiram às transmissões da TV NISMO em Le Mans, e mais de 44 mil comentários foram postados no canal de interação – cerca de 97% foram positivos.
A abertura e inovação do programa de automobilismo fora de pista da Nissan é o que o diferencia de seus rivais. No entanto, essa história de sucesso terá de ser complementado com mais desempenho do Nissan GT-R NISMO LM, e Cox e sua equipe sabem disso mais do que todo o mundo.
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