Análise

Análise: A Coreografia dos Testes

Quando o marketing não consegue ser desonesto

Sebastian Vettel, Ferrari SF16-H

Nós brasileiros estamos tão atormentados pelo noticiário político, econômico e policial que não duvidamos de mais nada e desconfiamos de tudo e de todos...

Por que, nessa primeira semana de testes para próxima temporada em Barcelona, algumas equipes resolveram usar pneus supermacios e ultramacios que combinam mais com o estilo "sprint" ou de "arrancada" de corrida que é o da Fórmula 1 e outras resolveram partir para o estilo "endurance" ou enduro que cuida mais da confiabilidade dos carros, usando pneus intermediários?

Porque cada uma tem uma estratégia diferente em função dos desenvolvimentos e atualizações que promoveram em seus carros... Seria a resposta mais aceita por todos não fosse esse clima de apavoramento diante a perda de audiência que o noticiário específico da Fórmula 1 tem nos proporcionado nos últimos tempos.

Muitos estarão pensando que essa mistura de estratégias nos testes foi propositalmente combinada para dar a entender que vai haver uma disputa  acirrada nessa nova temporada. Para alardear falsamente que Ferraris serão rápidas e Mercedes mais confiáveis... Os testes são aproveitados como cartaz midiático da grande atração que se aproxima... Essa seria a resposta da desconfiança: Isso tudo é um espetáculo como outro qualquer e os competidores fazem um marketing assemelhado àquelas caras feias e desafiadoras que os lutadores de boxe e UFC tradicionalmente fazem um para o outro na hora da pesagem ou na apresentação dos lutadores quando o evento é oficialmente marcado.

Todavia, a mídia esportiva e alguns pilotos trataram logo de desfazer a trama publicitária, se é que ela houve, informando que a Mercedes ainda será a força dominante deste ano ou até que os demais fabricantes de motores consigam entender a natureza eletro-mecânica (já que falamos de sofisticadíssimos motores híbridos) do segredo que confere às Mercedes sua superioridade.

Por dedução lógica chegamos à conclusão que este segredo se restringe a uma determinada peça ou conjunto de peças que não é entregue com as mesmas características e especificações as equipes clientes. No caso desta temporada de 2016, a Williams, a Force Índia e a Manor...

Diferenças na unidade de potência são mais determinantes do que diferenças aerodinâmicas; essas podem ser igualadas de uma corrida para outra torcendo para cima ou para baixo uma asa do bico ou do aerofólio traseiro. Horas a mais gastas nos caríssimos túneis de vento também podem reverter um quadro de superioridade ou inferioridade... Porém, um segredo industrial de uma gigantesca empresa, orgulho nacional da terceira maior economia mundial não é algo fácil de se imitar ou igualar em pouco tempo.

Contudo, a superioridade da Mercedes nos dá certeza que o marketing que maquiaria uma suposta extrema competição, forjado para atrair o interesse do público, tem um limite no que tange a honestidade dos resultados. Os milhões gastos na aquisição de uma prestigiosa superioridade técnica nas unidades de potência de uma grande marca não serão trocados por fiascos propositais sob o pretexto de que as corridas devam ser disputadas para terem graça para o espectador.

Se amanhã a Fórmula 1 acabar porque os fãs encontraram maior satisfação pilotando eles mesmos carros virtuais de um realístico videogame, a Mercedes não acabará junto, nem a Ferrari e nem a Renault... Portanto, temos aí a certeza de que a disputa sempre será grande, não importa que, momentaneamente, uma ou outra fabricante de motores seja superior. 

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João Corrêa
Fórmula 1
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